Esportes

Que elevador está mais agitado? Da
Série A ou da Série B do Brasileiro?

DANIEL LIMA - 19/07/2010

Estava convicto quando decidi medir o tamanho da agitação de elevadores do Campeonato Brasileiro: a Série B, da qual participam o Santo André e o São Caetano, estaria disparadamente mais barulhenta do que a Série A, da qual o Corinthians é líder. Não tinha dúvidas de que a Série B, depois de nove rodadas do primeiro turno, praticamente 25% da competição, revelaria números mais equilibrados do que a Série A. Entretanto, a conclusão mesmo que parcial é que há semelhanças entre as duas competições que envolvem as 40 melhores equipes do País. Em alguns pontos, ganha a Série A. Em outros, a Série B.


Certamente fui induzido à certeza de competitividade superior na Série B por conta dos estragos da derrota do São Caetano na noite de sexta-feira contra o Bahia, no Nordeste. Do quarto lugar que lhe assegurava uma vaga no G-4 o Azulão caiu para o nono. Dois gols de bola parada destruíram o sonho do técnico Sérgio Guedes manter o time entre os principais colocados. Na Série A, não houve entre os primeiros colocados nenhum caso semelhante. Seria esse um indicativo de concorrência menos aguda.


Fui castigado por uma sabotagem da Sportv. O jogo do São Caetano não apareceu na televisão. Acho que cometeram alguma barbeiragem técnica ao cortarem e implantarem imagens de acordo com os Estados e regiões dos confrontos da rodada. Paguei para ver e tive que acompanhar integralmente a vitória do Santo André diante do Duque de Caxias. Pretendia me equilibrar no revezamento quase lotérico dos dois jogos, como sempre faço quando as equipes da região atuam no mesmo horário.


Agora vou explicar o que quero dizer com elevador da Série A e elevador da Série B do Campeonato Brasileiro.


Ao despencar cinco colocações diante do Bahia, o São Caetano contribuiu com o total de movimentação de 34 andares dos 20 times da Série B. Ou seja: para cada nova posição que uma determinada equipe migra na rodada, conta-se o total de andares que subiu ou desceu. É o elevador classificatório. Inverte-se apenas o sentido de subir e descer. Elevador de verdade sobe quando sobe e desce quando desce. Elevador metafórico desce quando sobe e sobe quando desce.


Elevadores e andares combinam com o espírito da coisa e também com a própria competição, um sobe e desce impressionante. A TV Globo costuma mostrar durante os jogos o sobe-e-desce de acordo com os resultados que aparecem na tela. Resolvi aprofundar essa imagem: decidi somar os movimentos ao final de cada rodada, confrontando-os com a classificação da rodada anterior. A experiência é interessante.


A rodada do final de semana da Série A provocou 48 mudanças de andares; portanto, 14 a mais que o registrado na Série B. O Vitória da Bahia ganhou mais que três pontos nos 3 a 2 contra o São Paulo, sábado à tarde: foi também a equipe de maior safra classificatória, subindo seis andares. Estava em 16º lugar e agora ocupa a 10ª posição (viram que subiu quando desceu?). Ninguém caiu mais que o Santos: foram cinco andares abaixo após perder em casa para o Fluminense, no melhor confronto da rodada. Estava em quarto e caiu para o nono (viram que desceu quando subiu?). O impacto deve ser amplificado porque quem joga em casa, perde e se vê atirado tantos andares abaixo, deve mesmo sentir o golpe.


O São Caetano foi o Santos da Série B, caindo cinco posições. Estava em quarto lugar. A diferença é que atuou fora de seus domínios. Já o Coritiba foi o Vitória da Série A, subindo quatro posições depois de vencer o América em Natal.


Minha curiosidade em buscar nova abordagem da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro deriva entre outras razões da necessidade de fugir da pauta esportiva massacrantemente repetitiva. Mas também tem fundamentação na importância de confrontar as duas versões da competição. Até mesmo para desmistificar ou não, mesmo que provisoriamente, o lugar-comum de que a Série B estaria mais equilibrada nesta temporada por conta da ausência de uma grande equipe de massa, como nas edições anteriores. E que isso representaria adicional de tensão que a Série A não reuniria na mesma intensidade.


Os 20 principais times brasileiros perdem para a Série B no quesito de distanciamento entre o primeiro e o 10º colocado, mas a margem é mínima. Na Série A a diferença do Corinthians (21 pontos) para o Vitória é de nove pontos. Na Série B, a diferença entre o líder Náutico (20 pontos) e o 10º colocado, o ASA (13 pontos) é de sete pontos. Isso é mesmo representativo? Por enquanto, acredito que não.


O que a Série B tem de mais intenso em relação à Série A após nove rodadas é que os 10 primeiros colocados se apresentam com força técnica mais equilibrada que os 10 últimos colocados. O que isso significa? Pode significar que, ao longo da competição, mais equipes disputem de fato as quatro primeiras colocações do que os concorrentes da Série A. Por enquanto, os 10 primeiros da Série B somam 194 pontos, contra 152 pontos dos 10 primeiros da Série A. Estaria aí o ponto favorável à desconfiança de que a Série B é mais competitiva?


Como consequência de maior soma de pontos dos 10 primeiros colocados da Série B em relação aos 10 primeiros da Série A, na disputa para fugir do rebaixamento há inversão de valores: os quatro últimos colocados da Série B têm menos pontos acumulados que os quatro últimos da Série A: 20 contra 29. A leitura automática é que, a prevalecer essa tendência, os rebaixados da Série A serão conhecidos após carga superior de dramaticidade, quando comparados aos rebaixados da Série B.


Já na mobilidade das equipes, a Série A foi mais intensa na rodada do final de semana: 17 dos 20 participantes deslocaram-se do posicionamento da rodada anterior. Na Série B, foram 14 mudanças de posição. Pesou o desempenho dos quatro últimos colocados: na Série B não houve movimentação alguma do elevador, enquanto na Série A três equipes que frequentam o rebaixamento trocaram de posição.


Me dei mal quando imaginei, ainda com base na suspeita de que a Série B apresentaria muito maior equilíbrio de forças, que o número de empates seria bem superior aos jogos disputados na Série A. Das 90 partidas já realizadas em cada versão, na Série A foram registrados 24 empates, contra 22 da Série B.


Sei lá o que vai dar nas próximas rodadas e no futuro. Será que o que parecia verdadeiro e se confirmou nas primeiras nove rodadas se consolidará? A Série B reunirá mesmo maior grau de efervescência na disputa pelos quatro primeiros postos da classificação, com direito a acesso à Série A? E a Série A destinará mesmo maior ebulição na luta para fugir do rebaixamento?


Certo é que se o Sportv me tirou a possibilidade de analisar mesmo que fragmentadamente o São Caetano (e esperei pelo videoteipe que não veio também) arrisco dizer que o Santo André da vitória sobre o Duque de Caxias não só tirou do pescoço a corda da ameaça de rebaixamento como durante pelo menos os primeiros 30 minutos do jogo transmitiu a sensação de que pode reviver o jogo rápido e de trocas de passes curtos e progressivos do Campeonato Paulista.


Calma, calma que não quero dizer com isso que o Santo André poderá alcançar o mesmo sucesso.


Primeiro porque os talentos do primeiro semestre dificilmente brotarão de novo no Bruno Daniel. Segundo porque a competição agora é muito mais difícil. Terceiro porque, mesmo considerando apenas 25% dos pontos disputados, os maus resultados comprometeram demais a produtividade de pontos que de agora em diante terá de ser muito mais elevada para compensar a defasagem.


Mas que o time de Sérgio Soares já deu sinais de que pode fugir sem atropelos do rebaixamento, isso talvez não seja exagero. Nada melhor que o teste desta terça-feira contra o Figueirense, em Florianópolis. O Duque de Caxias pode ter sido mesmo a plataforma de embarque do Santo André rumo a novos destinos, mas também, pela fragilidade defensiva, pode induzir a erros de avaliação.


Quem sabe a próxima rodada possibilitará ao São Caetano a retomada do G-4, já que o Paraná, que está na linha de corte, tem apenas um ponto a mais na classificação. Mesmo assim a missão não é fácil, porque entre o São Caetano e o Paraná há quatro times igualmente decididos a chegar ao céu classificatório.


Que é divertido acompanhar a Série B (e também a Série A) sob vetores lúdicos como esses de elevadores, ah, isso é. Até porque, convenhamos, não é apenas brincadeira. Que o diga a torcida do Fluminense, que fez uma festa de campeão após vencer o Santos na Vila Belmiro. O resultado significou apenas um andar de avanço. Poderiam ter sido dois se o Corinthians de Bruno César não tivesse derrotado o Atlético Mineiro num outro grande jogo da rodada. Mesmo assim, acredite: o técnico Muricy Ramalho não trocaria de elevador com o técnico do Vitória, simplesmente porque está muito mais perto do topo do edifício.


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