Consumidos dois dos oito pacotes de jogos da Série B do Campeonato Brasileiro, o total de 10 rodadas deixou situações antagônicas para Santo André e São Caetano. O desequilíbrio do Ramalhão, remontado pós-Paulista para a competição de acesso mais importante do País, deverá complicar por muitas rodadas a sede de buscar um lugar entre os quatro primeiros colocados, que, ao final da competição, dará direito à elite da Série A. Já o São Caetano consegue fazer a melhor campanha dos últimos tempos e, com equilíbrio, pode sonhar em conviver com os grandes clubes brasileiros na próxima temporada, após impor-lhes boas sovas no começo da década de 2000, quando chegou duas vezes ao vice-campeonato.
Para que os leitores entendam o que quero dizer com pacotes consumidos, parto para a explicação: os técnicos da Série B (e também da Série A) têm por motivação estratégica dividir os 38 jogos da competição em grupos de cinco, estabelecendo metas específicas de pontos, sempre de acordo com projeção baseada nos resultados das temporadas anteriores das equipes que alcançaram o G-4 ou escaparam do rebaixamento.
Dessa forma, para cada turno da competição de 38 jogos, organizam-se quatro pacotes: os três primeiros, dos 15 primeiros jogos, com cinco jogos cada, e o último, de quatro jogos. Repete-se a fórmula no segundo turno.
É evidente que há ajustes conforme as possibilidades de tanto o índice de aproveitamento para o acesso como o índice de rebaixamento apresentarem variações. Nem todos os treinadores, entretanto, adotam correções de rumo. Preferem durante longo período da disputa pecar pelo excesso do que pela acomodação. Por isso, a zona de corte para o G-4 de 60% atual (18 pontos conquistados em 30 disputados) serve de referência para a programação de pontos de cada pacote e embute algumas calorias para queimar numa reta de chegada menos exigente. No caso do rebaixamento, trabalha-se com índice de aproveitamento de 40%, igualmente superestimado. Historicamente, a linha de corte do descenso se mantém abaixo de 40%.
Desta forma, como já foram disputadas 10 rodadas de 10 jogos cada, os dois primeiros pacotes já viraram história. Não dá mais para recuperar os pontos perdidos nem tampouco para aumentar o saldo de pontos conquistados.
O São Caetano conseguiu o mesmo índice de aproveitamento do quarto colocado, mas perde um lugar no G-4 por conta de critérios de desempate. Nada dantesco, pelo menos enquanto não chega a última rodada. Já o Santo André paga o preço do sucesso na Série A do Campeonato Paulista e precisa mais que equilíbrio a partir de agora: que o equilíbrio seja construído vários níveis acima da média de 36,6% do índice de aproveitamento acumulado até agora, o qual, historicamente, está mais para rebaixamento.
Nesta semana terá início o terceiro bloco de cinco jogos da Série B. Depois desse pacote, outros quatro jogos fecharão o primeiro turno.
O São Caetano está muito mais próximo de seguir nas proximidades do G-4 ou mesmo de alcançar situação provisória de acesso. Já o Santo André não pode desperdiçar mais pontos.
Os cinco próximos adversários do São Caetano são relativamente muito mais complicados do que os cinco próximos jogos do Santo André.
Vejam o que espera o São Caetano: Portuguesa (F), Guaratinguetá (C), Coritiba (campo neutro), Icasa (C) e Sport (F), equipes que somam 79 pontos até agora no campeonato — o que dá a média de 52,6% de índice de aproveitamento. O São Caetano precisa fazer nove pontos em 15 para chegar ao G-4, a prevalecer os 60% de margem de corte. Uma tarefa dificílima. Teria de vencer os dois jogos em casa e somar três pontos nos três jogos (e nove pontos) fora de casa contra adversários potenciais ao Acesso.
Nem ganhando os cinco jogos desse terceiro pacote de compromissos o Santo André conseguiria chegar ao G-4 ao final da 15ª rodada. O índice de aproveitamento atual de 36,6% subiria para 57,7%, abaixo, portanto, da linha de corte do G-4, de 60%. Mas seria um belo salto.
Os adversários do Santo André são bem menos complicados do que os do São Caetano neste terceiro pacote: em conjunto, somam 59 pontos, índice médio de aproveitamento de 39,3%. Na sequência, o Santo André joga com o América de Natal (C), Ponte Preta (F), América de Minas (C), ASA (F) e Bragantino (C). É claro que esse índice de aproveitamento é móvel. Ao final da próxima rodada, os números poderão ser outros, por conta dos adversários das então quatro próximas rodadas, e alterações podem ser registradas. Mas é válido para princípio de análise.
Por tudo isso o jogo do Santo André diante do América de Natal no Bruno Daniel nesta terça-feira não tem meio termo: o Ramalhão precisa acrescentar três pontos na classificação geral para mover-se de alguma forma, já que embora tenha sido bom o resultado em Florianópolis na última rodada, a equipe não se movimentou no elevador da Série B: seguiu em 14º lugar. Uma vitória contra o América de Natal pode significar três andares acima ao final da rodada. Quase tantos andares quanto significou para o São Caetano a vitória diante do ASA no Anacleto Campanella: a equipe de Sérgio Guedes subiu quatro pavimentos. Juntamente com o América de Minas foi quem mais ganhou posições na rodada.
As duas equipes da região deixam no ar expectativa positiva depois da parada técnica da Copa do Mundo. Parece que o conjunto se move de forma mais mecânica, mais automática. O Santo André ainda acusa problemas sérios no sistema defensivo. Está aquém da organização tática do São Caetano. Nada mais lógico porque o Azulão sofreu poucas mudanças individuais e ganhou treinador que trabalha à exaustão. O São Caetano ainda oscila. Contra o ASA deixou de aplicar uma goleada e nos últimos 20 minutos baixou de rendimento e sofreu um bocado para segurar a vantagem, ampliada no final.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André