Esportes

Azulão merecia resultado melhor;
Ramalhão deve comemorar empate

DANIEL LIMA - 08/09/2010

A rodada da tarde e da noite desta terça-feira poderia ter sido ainda pior para o futebol do Grande ABC na Série B do Campeonato Brasileiro. O Santo André jogou bolinha em casa contra um Icasa reduzido a 10 jogadores aos 36 minutos do primeiro tempo, por isso, deve agradecer aos céus pelo empate de 1 a 1 conquistado nos últimos minutos. O São Caetano retomou nível de concorrente a uma das quatro vagas à Série A mas perdeu em Florianópolis para o líder Figueirense, distanciando-se ainda mais da plataforma de acesso.


Esses dois jogos (e outros oito) marcaram a abertura do segundo turno dessa competição encardida. Deixando de lado os resultados do Azulão e do Ramalhão, e observando-se apenas o rendimento das equipes, tivemos inversão das projeções: quem imaginava que o Santo André iria comprovar que está em franca recuperação deu-se mal com uma recaída dolorosa, e quem imaginou um São Caetano ainda desfigurado também se enganou.


Dizem que em futebol não tem resultado justo ou injusto, mas me permito discordar. Há frases feitas que não podem ser levadas tão a sério. Ou é sensata a máxima que diz que em time que está ganhando não se mexe?


É claro que é pura bobagem, porque cada jogo tem perspectiva diferente do anterior e o mínimo que se espera do treinador é observar a possibilidade de substituições que ajustem as peças. Um time vencedor em casa pode ser perdedor fora de casa, como, aliás, tem-se aos borbotões tanto na Série A quanto na Série B do Brasileiro. Em muitos casos é a repetição não necessariamente de jogadores, mas de dispositivos táticos, que explicaria o desempenho.


O resultado do São Caetano em Florianópolis foi injusto e duro castigo ao técnico Sérgio Guedes. Sem considerar um lance mais que duvidoso que precedeu o contragolpe que culminou com o gol do time da casa. Um lance de mão na bola dentro da área, um lance que geralmente os árbitros traduzem em penalidade máxima. Sem considerar isso, o São Caetano fez por merecer pelo menos o empate.


O São Caetano jogou com solidariedade, ocupou espaços defensivos e ofensivos, imprimiu muito mais velocidade que nos jogos anteriores e só pecou pelo compreensível excesso de tensão que o impediu de dar tratamento menos nervoso às jogadas. As mudanças de Sérgio Guedes foram todas bem-aventuradas. Não houve jogador que destoasse flagrantemente dos demais.


Já a situação do Santo André no Bruno Daniel contra o veloz e valente Icasa de Juazeiro do Norte foi agressivamente oposta. Não consigo pinçar naquele cipoal de reticências técnicas e táticas um único jogador que tenha se destacado dos demais. Não houve um único exemplo individual que pudesse ser catalogado como eficiente.


O pior de todos foi Rafinha, que surgiu como promessa em São Bernardo, passou por Minas Gerais, aportou no Corinthians e ontem esmerou-se em apatia e equívocos. Até mesmo o escanteio que bateu, transformado em gol de cabeça não pode atenuar déficits acumulados durante todo o jogo, porque de fato foi um adversário que desviou a bola.


Se não estiver enganado, é a primeira vez na competição que o São Caetano fica abaixo da primeira página classificatória. Ou seja, não ocupa nem mesmo a 10ª posição na tabela. Caiu para 11º com 28 pontos ganhos, seis abaixo do Bahia, quinto colocado, e sete pontos acima do Santo André, primeiro entre os degolados provisoriamente.


Longe de mim qualquer insinuação sobre destino comprometedor do São Caetano. Seria preciso uma montanha de equívocos para o time ao menos flertar com o rebaixamento. Acredito sim é na recuperação no campeonato. Seis jogos seguidos sem vitória, 18 pontos disputados e apenas um ganho, tudo isso é dose cavalar para a paciência de todos. Mas o comportamento de ontem à noite foi mais que um sopro de esperança. O próximo adversário, o América de Natal, é um convite à ressurreição.


Já no caso do Santo André, a derrota só não premiou um adversário que tem os mesmos 28 pontos do São Caetano porque os atacantes cearenses perderam pelo menos quatro gols feitos e, mais que isso, a arbitragem colaborou um bocado. Primeiro ao não marcar um pênalti claro num contra-ataque em que o zagueiro Douglas atingiu a perna do atacante. Segundo porque a expulsão do lateral-esquerdo do Icasa por suposta simulação de falta configurou-se excesso interpretativo num gramado escorregadio.


O empate foi desastroso para o Santo André, mas paradoxalmente generoso. A inaptidão da equipe à construção de jogadas, os erros de marcação que propiciaram contragolpes frequentes, a inapetência nas finalizações, a instabilidade técnica, tudo isso forma um caldeirão de inconformidades que sinalizam incômoda oscilação num momento em que tudo parecia crer que, finalmente, um padrão de jogo semelhante ao do time do primeiro semestre estaria em fase de gestação.


Sei lá se é precipitação, pode até ser, mas como não corro de certos perigos, diria que há somente uma vaga em disputa à Série A do ano que vem: Figueirense, Coritiba e Sport Recife vão garantir três dos quatro lugares. O São Caetano vai disputar a quarta, se reagir com bons resultados, com Ponte Preta, Bahia e tantos outros times que estão à frente na classificação.


Já o Santo André deve comemorar a derrota do Bragantino e do Brasiliense em casa, mas a recuperação do Vila Nova é novo sinal de alerta. A equipe possivelmente ganharia um fôlego novo com dois atacantes mais experientes que estariam em fase final de contratação. Trata-se de um tiro que talvez não possa deixar de ser tentado diante do ambiente de inquietação que se instalou desde a imersão na zona de rebaixamento. Resta saber se a tentativa não afundará ainda mais o clube em dívidas. Há um certo limite a irresponsabilidades, mas o grau máximo de irresponsabilidade, diante de todos os alertas já firmados, seria o rebaixamento à Série C.


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