Esportes

Mais é menos para Azulão e menos
é mais para Ramalhão na Série B

DANIEL LIMA - 13/09/2010

O embaralhamento semântico do título é proposital. Diz respeito à situação do São Caetano e do Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro, passadas 21 rodadas e restando 17 para o encerramento da temporada. Para o Azulão, encaixa-se a premissa de que “mais é menos” e ao Ramalhão de que “menos é mais”. Vou ter de tomar cuidado para desembaralhar o que embaralhei porque a didática precisa ser clara o suficiente para que todos entendam o que quero dizer. E por que não recorri à fórmula mais simples para me comunicar? Porque resolvi seguir o enredo do próprio campeonato, cada vez mais complexo. Se dá para complicar, por que simplificar?


Para o São Caetano, o “mais é menos” porque nas últimas seis rodadas a equipe viu crescer o número de concorrentes a uma das quatro vagas com direito ao acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, o que reduz suas possibilidades classificatórias.


Para o Santo André, o “menos é mais”, porque também nas últimas seis rodadas o número de equipes sob ameaça mais latente dos últimos quatro lugares, de queda à Série C, diminuiu consideravelmente.


Então, ficamos assim: “mais é menos” para o São Caetano em se tratando de acesso, porque mais equipes resolveram pleitear uma das quatro vagas. No caso do Santo André, “menos é mais” porque um grupo mais restrito de equipes passou a ser ameaçado de rebaixamento enquanto um grupo maior ganhou pontos importantes.


Vejam a situação do São Caetano. Ao final de 15 rodadas, a equipe do Grande ABC estava na quarta posição no campeonato, ou seja, constava entre os quatro que subiriam à Série A, com 27 pontos. Estava a três pontos do líder Coritiba, a um do vice-líder Figueirense e empatado em pontos (perdia em saldo de gols, segundo critério de desempate) com o América Mineiro.


Hoje, após 21 rodadas (duas do segundo turno), o São Caetano está em nono lugar na classificação, a oito pontos do líder Figueirense, a sete pontos do vice-líder Bahia, também a sete pontos do terceiro colocado Coritiba e dos mesmos sete pontos do quarto colocado, a Ponte Preta. Não bastassem esses concorrentes, ainda tem o América Mineiro com três pontos a mais, o Sport Recife e Guaratinguetá com dois pontos a mais cada um e, com os mesmos 31 pontos, a Portuguesa. Ou seja: o São Caetano precisa ganhar muitos pontos e torcer para as equipes que estão à frente percam para chegar no limite do acesso.


Entenderam por que o “mais” (concorrentes) significa “menos” possibilidades de disputar a elite no ano que vem?


Agora vejam a situação do Santo André. Ao final de 15 rodadas o time de Sérgio Soares ocupava a quarta posição negativa, ou seja, abria a zona de rebaixamento. Somava 15 pontos. Estava à frente de Ipatinga (12 pontos), América do Rio Grande do Norte (12 pontos) e Vila Nova de Goiás (sete pontos). De fato, estava a apenas um ponto de livrar-se da zona da degola, já que o Duque de Caxias contava com 16 pontos. Para chegar ao décimo lugar na classificação, distanciava-se apenas sete pontos. A posição era ocupada pelo Icasa, com 20 pontos.


Hoje, passadas 21 rodadas, e seis rodadas após os números vistos aí em cima, o Santo André segue na zona de rebaixamento com 21 pontos. Apenas cinco à frente do América de Natal (penúltimo colocado) e seis adiante do Ipatinga (último colocado). Na linha de corte do rebaixamento está o Bragantino, com 22 pontos. A diferença entre o Santo André e o décimo colocado, no caso o Náutico, aumentou para 10 pontos (eram sete a seis rodadas). Para fugir da queda o Santo André precisa vencer e torcer para que o Bragantino e Vila Nova percam. As demais equipes da página de baixo da classificação desgarram-se aos poucos da influência da zona de rebaixamento. Ou seja: “menos” (concorrentes) significam “mais” possibilidades de cair.


Tudo isso que estou escrevendo tem, portanto, fundamentação estatística. Nas últimas seis rodadas o Grande ABC foi de mal a pior na Série B. O Santo André ganhou seis pontos (aproveitamento médio de 33,33%), enquanto o São Caetano somou minguados quatro pontos (22,22%). Números inescapavelmente de rebaixados.


Menos mal que o São Caetano produziu gordura para fugir de qualquer ameaça mais séria e o Santo André bem ou mal ainda não caiu em desespero. E nem pode cair, apesar de, de novo, agora contra o Brasiliense, confirmar uma suspeita triste: o fortalecimento defensivo indispensável para readquirir a confiança não teve a correspondente ação ofensiva. Desandou o Santo André a perder jogos por insuficiência ofensiva.


Já o São Caetano que até então discutia o exagero do detalhismo na finalização de jogadas muito bem construídas, vem nas últimas rodadas acusando golpes de improdutividade ofensiva sem ter como consolo a engenhosidade de movimentação coletiva insinuante.


Quando tudo fazia crer que o Santo André acrescentaria solidez defensiva à impetuosidade ofensiva e o São Caetano imprimiria pragmatismo no virtuosismo ofensivo, eis que deu um revertério completo: o Azulão não sabe o que faz para reencontrar as linhas de passes que tanto encantavam e o Santo André chora desesperadamente a inapetência do ataque.


Estão aí as razões de “mais é menos” e “menos é mais”.


Nada, entretanto, que deva tirar o foco do Ramalhão e do Azulão de uma premissa básica de campeonato tão disputado: o desespero não leva a nada, exceto a novas derrotas. Não creio que dança de cadeiras de treinadores possa ser garantia de soluções. Nem que contratações em profusão signifiquem vitórias. Um tiro certeiro, como o Sport Recife na direção de Marcelinho Paraíba, ou do Coritiba que repatriou Theco, talvez seja mais aconselhável.


Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged