Esportes

Diário retalia São Caetano por
causa da contratação de Pedrão

DANIEL LIMA - 20/09/2010

Por causa do centroavante Pedrão, anunciado como reforço do Santo André mas que acabou assinando contrato com o São Caetano, o presidente do Ramalhão, dono e diretor de Redação do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto, partiu para um revanchismo que não produzirá nada de benéfico ao futebol da região. A rivalidade entre Azulão e Ramalhão, e agora também com a participação do Tigre, deve ficar restrita ao campo de jogo, porque esse é o combustível do futebol.


Fora de campo, rivalidade é um tiro no próprio pé. Tomara que nesta semana que se abre Ronan Maria Pinto esteja menos recalcitrante. Que alguém lhe tenha tomado o pulso e recomendado moderação. Essa guerra não interessa a ninguém. Mais que isso: é muito prejudicial aos dois clubes nas esferas de comando do futebol brasileiro. Destacar terceiros para atingir o Azulão não é uma prática saudável no jornalismo, deveria saber também o presidente do Diário do Grande ABC.


Não vou fazer juízo de valor do suposto desvio de rota de Pedrão. Em vez do Bruno Daniel ele parou no Anacleto Campanella. Os bastidores do futebol estão repletos de nuances e, portanto, há informações de todos os tipos que tanto isentam o São Caetano de qualquer transgressão ética quanto garantem razões ao Santo André.


O que interessa de fato é que a diplomacia não seja jogada no lixo. O Santo André errou ao passar recibo de suposto atravessamento das negociações pelo São Caetano — uma constatação que não tem relação com a disputa pela verdade dos fatos. Na história do futebol não faltam casos semelhantes, mas nem por isso o presidente do clube supostamente prejudicado sai à Imprensa para denunciar o suposto pecado de um concorrente. Muito menos, como dono de um veículo de comunicação, o utiliza para uma guerra desigual, imperialista.


A gravidade do caso Pedrão está nos bastidores diretivos. Sobrou uma sombra de desconfiança da Justiça, por conta de, coincidentemente ao ápice dos desarranjos esportivos, ter decidido, também na semana passada, cassar a liminar que garantia ao São Caetano a posse da sede social, colada ao Palácio da Cerâmica, sede do governo local e demandante da ação de desocupação.


E foi exatamente sobre esse ponto — a quebra da proteção provisória que assegurava ao São Caetano a ocupação de uma sede social e esportiva que a Prefeitura exige obediência à política de socialização de uso — que o Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto tripudiou em edições seguidas — inclusive como manchete principal de primeira página.


Exagerou e segue exagerando na dose o jornal de Ronan Maria Pinto. Chegou-se ao ponto de, com entrevistas mais que seletivas, buscar em representantes do povo a desclassificação esportiva e social do Azulão. Algumas opiniões favoráveis ao São Caetano publicadas pelo jornal, sufocadas por declarações até mesmo ofensivas, estão longe de caracterizar equidade de tratamento. Essa é uma velha e surrada tática de quem quer dar ares democráticos a algo feito sob medida para tripudiar.


A birra do presidente do Ramalhão e do Diário do Grande ABC dirige-se ao presidente Nairo Ferreira, cuja fragilidade se estenderia à imprevidência de, segundo fontes, politizar a disputa pela sede. Nairo Ferreira teria chegado à estultice de contratar um advogado notoriamente hostil ao prefeito José Auricchio Júnior. Ronan Maria Pinto aproveitou a bronca por causa do centroavante Pedrão para mandar azucrinar a vida de um clube que é patrimônio esportivo e cultural de São Caetano. Mais que isso: na última década, o Azulão tornou-se o maior propagandista da imagem positiva daqueles 15 quilômetros quadrados de muita qualidade de vida.


O Azulão é uma janela de credibilidade externa para a divulgação de uma São Caetano moderna, civilizada, primeiromundista. Negar essas e tantas outras qualificações é ultrapassar os limites do razoável. Por mais que se tenha tornado um fanfarrão, um exagerado, um egocêntrico, como se comenta, Nairo Ferreira não personifica o Azulão. Possíveis desgastes pessoais e políticos do dirigente em ambientes específicos de São Caetano não podem ser transpostos tanto para outros espectros daquela comunidade como, também, à desqualificação do São Caetano no seio esportivo local e nacional.


O título de campeão paulista, o vice-campeonato da Libertadores da América, dois vice-campeonatos brasileiros, uma outra final paulista e tantos outros resultados extraordinários não são obras do acaso. Nem tampouco o presente deve ser tripudiado. Até outro dia a equipe estava entre os quatro melhores da Série B do Brasileiro, ainda reúne possibilidades de acesso à elite e historicamente está entre os 30 clubes mais importantes do País, segundo ranking da Confederação Brasileira de Futebol.


Talvez a interlocução entre São Caetano e Prefeitura, e mesmo entre São Caetano e Santo André, esteja interditada e comprometida por conta principalmente da atuação de Nairo Ferreira. Daí, entretanto, ao fechamento de portas e à distribuição enraivecida de informações jornalísticas retaliadoras vai muita diferença.


E não tentem me convencer de que a cobertura da decisão judicial à qual o Diário do Grande ABC dá tanta ênfase não tem nada a ver com o caso Pedrão porque isso não cola. Tenho fontes preciosas entre acionistas do Saged (a empresa presidida por Ronan Maria Pinto que dirige o Ramalhão) e também na Redação do próprio jornal que sustentam as informações.


Se dependesse do Esporte Clube Santo André (ao qual o Ramalhão não tem mais vínculos administrativos, embora possam lhe sobrar dívidas que se acumulam, como outras do passado) estaria este jornalista perdido e mal pago. Tanto Celso Luiz de Almeida quanto Jairo Livolis evitam até mesmo atender telefonemas. A impressão é que passam por algo delicado se manifestarem posicionamento do clube associativo que cedeu o patrimônio esportivo de competição para o Saged de Ronan Maria Pinto numa empreitada mais que estranha.


É constrangedor que o relacionamento entre os dois clubes da região tenha chegado a esse ponto. O Azulão colaborou muito com o Ramalhão ao longo dos tempos. Foram várias as situações. Geralmente em forma de liberação de jogadores. Um caso foi emblemático: Adãozinho foi repassado gratuitamente (e com os salários pagos pelo Azulão) na campanha de 2001 que culminou com o retorno do Santo André à Série A do Campeonato Paulista. Adãozinho estava em grande fase e foi o autor do gol da vitória e do acesso, nos descontos, de pênalti, contra o Ituano, num Bruno Daniel com 17 mil torcedores.


A diplomacia é o caminho mais curto ao bom senso. A guerrilha de manchetes e textos encomendados azeda as relações.


O mais aconselhável numa situação como essa, derivada da disputa pelos gols do artilheiro Pedrão, é que tudo seja resolvido fora de campo e fora das manchetes.


E que o caso da sede social e esportiva do Azulão não fuja da bitola do Judiciário e da informação estritamente relativa à demanda. Longe, portanto, da carga de idiossincrasia que penetra numa patética zona de tentativa de sabotagem de uma história esportiva que São Caetano tem orgulho de exibir e o Grande ABC muito a agradecer.


Que Azulão e Ramalhão guerreiem, no bom sentido, contra todos os adversários da Série B que ainda vão enfrentar. O primeiro para tentar chegar entre os quatro primeiros. O segundo para fugir do rebaixamento.


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