Esportes

Grêmio Santo André vai ocupar o
lugar do Esporte Clube Santo André

DANIEL LIMA - 23/09/2010

Atendendo misto de sugestão e advertência, o Esporte Clube Santo André vai deixar de ser bucha de canhão do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), empresa que administra o destino do Ramalhão há três anos. As informações que vazaram da mais recente reunião de conselheiros consultivos do Saged dão conta de que o presidente da empresa, Ronan Maria Pinto, decidiu tomar a iniciativa de alterar o curso de águas turvas após a insistência com que este CapitalSocial tratou o assunto. Sabe-se que o quadro de esquizofrenia em que vive o gerenciamento do Ramalhão já não poderá ser prorrogado, sob pena de, após tantos alertas, consumar-se negligência imperdoável em qualquer âmbito, inclusive no Judiciário. Conselheiros do EC Santo André versados no campo jurídico estariam de plantão.


Sei que minhas fontes, várias das quais interlocutoras de Ronan Maria Pinto, estão de certo modo aliviadas. Não lhes agrada o modelo concebido há pouco mais de três anos, quando o Esporte Clube Santo André passou de mala e cuia para o Saged a administração do Ramalhão — como pode ser resumido o time que representa o futebol da cidade. O Ramalhão de 40 anos de vigência como clube associativo trocou de mandatário.


Não se sabe ainda a extensão e as dimensões de um acordo que culminará com a mudança do nome e da configuração jurídica do representante de Santo André no futebol. Que é Grêmio Santo André já estaria acertadíssimo. A vantagem preliminar é que a identidade de Santo André estaria preservada, bem como o histórico de conquistas e sofrimentos. A vantagem suplementar estaria reservada aos acionistas desse que agora sim se transformaria em clube-empresa. Tudo porque num futuro que possivelmente não estaria distante o Grêmio Santo André poderia mimetizar o Grêmio Barueri, que virou Grêmio Prudente.


Trocando em miúdos e sem lantejoulas verbais: com a nova argamassa jurídica o Saged desapareceria da face esportiva da cidade. Nada impediria que o Grêmio Santo André, outrora Esporte Clube Santo André, batesse asas em direção a outras paragens. Como ocorreu com o Grêmio Barueri, também conhecido por Grêmio Prudente. Tudo se resumiria a questões econômico-financeiras e de infraestrutura. Quem fizesse a melhor proposta, inclusive de potencial de engajamento popular, poderia contar com uma equipe que está entre as principais no ranking nacional. O Grêmio Santo André poderia virar tranquilamente Grêmio Sorocaba, Grêmio Guarulhos, coisas assim.


Querem saber o que acho de o Ramalhão ter virado Saged e em seguida passar a Grêmio Santo André para possível voo em direção a Grêmio Qualquer Coisa? Tudo não passaria de justo, justíssimo castigo, por ter a cidade relegado a equipe à sobra da sobra de interesse social. São 43 anos de história que podem ir para o ralo de outro endereço e ninguém, ou poucos, poderá se manifestar contrariado.


Fazemos todos nós muito pouco pelo Ramalhão. E o Ramalhão sempre fez muito pouco, fora de campo, para merecer outro tratamento. No recorte atual de futebol-empresa nada é mais estúpido do que o distanciamento de instituições municipais, porque o mundo esportivo virou mundo de negócios — e isso vale igualmente para os clubes juridicamente esportivos que não abrem mão de conteúdo organizacional de empresa. Mais e mais deveria exibir planejamento voltado ao adensamento social, com reflexos imensos em direção ao fortalecimento orçamentário.


Representação esportiva é uma coisa bem diferente de representatividade esportiva. Quem não sabe estabelecer a diferença e, mais que isso, fazer a diferença, não tem o direito de reclamar.


Somente uma mobilização da sociedade para reter o Ramalhão em Santo André resgataria para valer o sentimento de esportividade que deveria estar entre os principais tópicos de responsabilidade social.


Como não acredito em nada disso, porque o Ramalhão que vai ao Estádio Bruno Daniel é visto por gatos pingados, a maioria de torcidas organizadas que mal pagam ingresso, talvez nada melhor mesmo que o risco de mudança que se apresenta. Primeiro, de transferência denominativa, até mesmo para evitar que o Esporte Clube Santo André seja vítima de avalanche de passivos trabalhistas e previdenciários, entre outros, do Saged. Segundo, de transferência de domicílio. Tal qual o Grêmio Barueri. Se não houver reação diante da eventualidade de esvaziamento de vez do futebol em Santo André, mais estará confirmada a premissa de que a cidade não merece mesmo a equipe que ostenta.


Ao menos por enquanto não se delineia o modelo diretivo e empresarial que estaria em gestação para a composição do Grêmio Santo André. A simples sobreposição de nomenclatura, eliminando de vez o caráter associativo da agremiação, que passaria finalmente à condição de clube-empresa, não removeria os obstáculos de representatividade popular.


Sob o guarda-chuva jurídico conflituoso do Esporte Clube Santo André e do Saged o Ramalhão não deve mesmo continuar, mas a criação do Grêmio Santo André não pode ser apenas alternativa jurídica. O que está em discussão, também, é que o Ramalhão tenha inserção popular dos tempos em que a TV não dava tanto destaque ao futebol como ferramenta de marketing, privilegiando a partir de então os clubes de massa.


Esse desafio não é confortável aos clubes médios e pequenos, todos sabem, mas exatamente por ser espécie de briga entre Davi e Golias, não pode ser tratado como fatalismo, contra o qual não haveria saída.


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