O clássico que Santo André e São Caetano fazem nesta
sexta-feira no Estádio Bruno Daniel pela Série B do Campeonato Brasileiro não pode ser encarado como a batalha da ponte, aquela que decide o futuro das duas equipes na competição, mas igualmente não é um acontecimento qualquer. Por isso, o peso de fatores emocionais deverá ter influência decisiva no resultado. E nesse ponto o centroavante Pedrão, do São Caetano, é um ponto fosforescente de análise individual e coletiva. Ficar de olho nele e no entorno que o envolverá é obrigação de todos. Principalmente da arbitragem.
Quem estiver melhor preparado para a guerra de bastidores diretivos que invadiu os vestiários provavelmente se dará melhor.
O centroavante Pedrão, que trocou o Ceará pelo Santo André e o Santo André pelo São Caetano é o pivô de uma bobagem de jogo de cena que o presidente Ronan Maria Pinto faz uso e abuso nas páginas do Diário do Grande ABC, do qual é editor-chefe além de presidente.
Tudo de modo a que o dirigente desvie o foco de algo muito mais substantivo: o time que entrou na competição esfacelado, mas sob a desproposital perspectiva presidencial de chegar entre os quatro primeiros, namora faz algum tempo o rebaixamento, do qual precisará de muito esforço e competência para fugir.
Ronan Maria Pinto tem aconselhamento tanto editorial quanto esportivo de gente com dificuldades para entender que o mundo mudou e que estripulias nos bastidores políticos têm facetas que não se reproduzem automaticamente no esporte e na atividade jornalística, mais suscetíveis à transparência.
Isso significa que tentar transformar o caso Pedrão na pedra de toque de motivação do elenco e de demonização do adversário é um tiro que pode sair pela culatra.
Aliás, já saiu porque o noticiário do Diário do Grande ABC que transformou o atacante e o São Caetano em vilões chegou a instâncias esportivas de alto coturno.
Tanto que a Confederação Brasileira de Futebol escalou árbitro dos quadros da Fifa, Sálvio Spinola, para eliminar qualquer possibilidade de excessos estimulados pelo dirigente em represália ao atacante, tal qual ocorreu nas páginas do jornal.
Tomara que Ronan Maria Pinto seja voz estridente isolada no coro de sensatez desse clássico que tem por perfil estatístico estranha predominância de o visitante se dar melhor do que o visitado.
No caso desta sexta-feira, o empate é o pior dos resultados possíveis não só pela lógica matemática de que representa apenas 33% dos pontos em jogo como também porque manteria as condições de rebaixamento do Ramalhão e de distanciamento do São Caetano do grupo dos quatro primeiros colocados.
A vitória, entretanto, não é passaporte à redenção. Santo André e São Caetano esmeram-se no segundo turno em enxugar gelo. Após sete rodadas, praticamente não alteraram as respectivas posições. O que é péssimo porque cada vez mais escasseiam margens ao atingimento de novas metas estabelecidas, ou seja, o Azulão atrás do quarto lugar e o Ramalhão da fuga do descenso.
Quando terminou o primeiro turno, o São Caetano estava na nona posição com 28 pontos ganhos em 57 disputados (49,12% de índice de aproveitamento). Distanciava-se em termos simples apenas três pontos do Bahia, quarto colocado. Entre as duas equipes constavam da classificação Náutico (também 31 pontos), América Mineiro (30), Guaratinguetá (30) e Portuguesa (28 pontos e melhor saldo de gols que o Azulão). No total, pela contabilidade mais ajuizada, o São Caetano estava a 10 pontos da zona de acesso. Sete rodadas do segundo turno depois, está a 12, com 39 pontos em 78 disputados (50% de aproveitamento). Está a seis pontos do Bahia, quarto colocado com 45 pontos. Entre as duas equipes estão Sport Recife (43 pontos), Ponte Preta (41) e Portuguesa (40).
O Santo André que terminou o primeiro turno com 20 pontos em 57 disputados (índice de aproveitamento de 35,08%) e o que entra em campo amanhã à noite para enfrentar o São Caetano (26 pontos em 78, com aproveitamento de 33,33%) não escapa de indicadores de rebaixamento. A situação agravou-se nas sete rodadas do segundo turno porque está um andar abaixo da linha de corte (era o 17º colocado e agora é o 18º) e, mais que isso, está assediado por duas combinações trágicas: quem estava abaixo avançou muito mais e quem estava acima desgarrou-se também um pouco mais. Ao final do primeiro turno o Santo André frequentava a zona de descenso mas somava 12 pontos contra as equipes que estavam abaixo na classificação e apenas dois pontos do time imediatamente fora da área de risco. Agora está apenas seis pontos à frente das duas equipes que fazem pior campanha e a seis da fuga da zona de rebaixamento.
Nos 12 jogos que restam para o encerramento da Série B, o São Caetano precisará somar 75% dos pontos em disputa para chegar à marca de 66 que referencia a quarta posição, com índice de aproveitamento final de 58%. Uma campanha memorável que nem o líder Coritiba alcançou em período mais longo, de 26 rodadas, já que conta com índice de aproveitamento de 64%.
Já o Santo André precisa alcançar 45 pontos (40% de índice de aproveitamento) para escapar do rebaixamento. Como acumulou até agora 26 pontos, restam outros 19 (52,77% de aproveitamento) nas rodadas que faltam.
É por essas e outras que o clássico de amanhã é importante mas não é decisivo, já que representa apenas 8,33% dos pontos que restam a cada uma das equipes da região.
Que os jogadores, muito mais profissionais que dirigente recém-chegado à arena esportiva, mantenham a cabeça no lugar, portanto. O futebol do Grande ABC, independentemente do resultado de amanhã, não pode sair de campo derrotado por revanchismos artificializados.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André