O clássico regional de sexta-feira à noite no Estádio Bruno Daniel mostrou um Santo André melhor que o São Caetano no gramado mas diretivamente empobrecido fora de campo. O lado positivo do Ramalhão deve ser creditado ao técnico Fahel Júnior e aos jogadores. O negativo retrata o comando do presidente Ronan Maria Pinto, que usa e abusa do fato de ser proprietário e diretor de redação do Diário do Grande ABC.
O homem que se imagina inquestionável, depois de passar por situações que deveriam lhe dar maturidade e sensibilidade, quando não humildade, cavouca a própria sepultura moral.
Ronan Maria Pinto imagina que a sociedade é um amontoado de idiotas e que o jornal que dirige, cuja qualidade e credibilidade denigrem o currículo de profissionais que passaram por lá, vai continuar subjugando o bom senso e a responsabilidade social.
Primeiro, o clássico propriamente dito.
O Santo André não precisou ser melhor o tempo todo para superar o São Caetano. Bastou jogar bem os primeiros 20 minutos, quando impediu que o adversário respirasse, e que marcasse um gol saído de planilhas de treinamentos, com bola lançada na área para o grandalhão atacante Luiz. Bastou, em seguida, resguardar-se o tempo todo na defesa e tentar parcos contragolpes.
O São Caetano é tecnicamente superior ao Santo André, mas reproduziu crônica deficiência: não tem alma. Repetiu o tom monocórdio de acreditar que o gol poderia sair a qualquer momento sem necessariamente decorrer de empenho mais aquecido, mais veloz, mais decidido.
O Santo André do clássico atuou ciente de limitações fundas que o mergulharam na zona de descenso, mas teve dignidade, empenho e determinação para recolher-se defensivamente. Em outros jogos, espatifou-se na medida em que o tempo corria, porque acreditava que ainda incorporava o encanto e o talento daquele grupo extraordinário que chegou ao vice-campeonato paulista.
Ganhar do Azulão com o time de que dispôs o técnico Fahel Júnior seria façanha caso o adversário se dedicasse mais a suar a camisa. Como o São Caetano jogou em ritmo malemolente, sem dar tratamento de clássico ao clássico, exceto nos últimos 10 primeiros do primeiro tempo e em algumas situações do segundo tempo, a vitória passou a ser quase compulsória ao Ramalhão. E oportuna também.
O resultado não retira o Ramalhão da zona de rebaixamento, mas revigora o ânimo às próximas rodadas. Quem sabe que componente emocional no futebol pode ser decisivo em situações como a que vive o Santo André, não pode desprezar esses três pontos. Até porque clássico é sempre clássico.
Agora, o clássico fora de campo.
A diretoria do São Caetano foi obrigada a assistir ao jogo no setor de arquibancada. O puxadinho construído atrás do gol dos fundos do Bruno Daniel coloca o espectador em situação semelhante à do telespectador que tem substituído aparelho de 42 polegadas dotado de última tecnologia por minúsculo monitor em preto e branco.
O Santo André dos tempos passados, de voluntarismo diretivo (ou de romantismo inocente, como costuma dizer Ronan Maria Pinto ao referir-se a antecessores do Ramalhão), esmerou-se em tratar bem os visitantes. Em muitas situações abria mão da área nobre localizada no topo da arquibancada descoberta para retribuir a atenção recebida como visitante. Na maioria das situações prevaleceu mesmo o encaminhamento dos dirigentes à cabine bem no centro das arquibancadas cobertas.
O Santo André de Ronan Maria Pinto construiu um chiqueirinho atrás do gol dos fundos. Submete os visitantes à condição de párias do espetáculo. A visibilidade do gramado é um desafio. A cabine do setor coberto virou espaço para o sistema de som do estádio.
Os dirigentes do São Caetano preferiram a arquibancada descoberta. Acabaram flagrados por lentes fotográficas pautadas pelo diretor de redação do Diário do Grande ABC. Uma das fotos constou da edição de sábado, em matéria complementar do clássico. É claro que sem as devidas explicações. Mais que isso: como se Nairo Ferreira e outros dirigentes fossem arrogantes, imputaram descaso ao espaço reservado. Um espaço sobre o qual o jornal não faz qualquer referência.
O Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto não é parcial apenas nas informações que leva ao público que consome noticiário político, econômico e tantos outros. No esporte, quando os interesses empresariais do presidente do Saged (a empresa que privatizou o futebol do Ramalhão) estão em jogo, o vale-tudo prevalece. A ética sucumbe. A gestão do Saged, uma calamidade em termos econômico-financeiros, é completamente ignorada pelo jornal. O Saged é uma arapuca para o futuro do Esporte Clube Santo André, como tenho cansado de diagnosticar e fundamentar neste site.
O Ramalhão agora sob jugo empresarial arbitrário e absolutista é péssimo anfitrião. As comitivas de dirigentes submetidas ao calabouço do puxadinho levam de Santo André mais que péssima impressão de receptividade: constroem imagem de prepotência da diretoria presidida por Ronan Maria Pinto.
O clássico também teve adereço mais que manjado fora de campo e, sobretudo no caso do Santo André-Ramalhão-Saged de Ronan Maria Pinto, mais que evocativo do ponto a que chegou o dirigente na sanha retaliatória: como em outras situações de “manifestações” de torcedores organizados que o dirigente financia por baixo do pano, desta vez prepararam o enterro do centroavante Pedrão.
Segundo versão deliberadamente imprecisa do Diário do Grande ABC, Pedrão trocou o Santo André pelo São Caetano, quando, de fato, a história é mais complexa: o atacante trocou o Ceará pelo Santo André e em seguida, por questões familiares e profissionais, trocou o Santo André pelo São Caetano. Além de passar recibo do drible que sofreu do atacante, o Saged de Ronan Maria Pinto omite propositalmente o desenrolar dos acontecimentos. O caixão de “defunto” de Pedrão reforça a certeza de que o atacante virou pretexto para Ronan Maria Pinto retirar o foco de atenção do Ramalhão ameaçado de rebaixamento. Quem será a próxima vítima?
Já a atuação do árbitro Salvio Spinola foi quase perfeita. Apenas deixou-se levar pelo politicamente correto ao expulsar Pedrão, quando faltavam 15 minutos para o encerramento do jogo. Salvio exagerou na interpretação de um lance em que o atacante não deu mais que algumas cutucadas num zagueiro do Santo André na tentativa de roubar-lhe a bola. Nada que um cartão amarelo, se tanto, não resolvesse. Pedrão saiu de campo com o calção levantado a denunciar ferimentos provocados pelo goleiro Julio César, num lance de bola dividida na pequena área. Nada que não fosse acidental, entretanto.
Em campo, jogadores das duas equipes com equilíbrio e respeito que deveriam inspirar a direção do Ramalhão e do Diário do Grande ABC.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André