Esportes

Acesso está cada vez mais distante
e rebaixamento muito mais próximo

DANIEL LIMA - 13/10/2010

Os torcedores, consumidores de futebol, não podem ser enganados, embora nem sempre o que parece definitivo nos gramados definitivo se confirma. No caso específico, numa contabilidade simples que segue conceito esportemétrico, o Santo André aumentou a possibilidade de rebaixamento para 50% e o São Caetano não reúne mais de 10% de viabilidade de chegar entre os quatro primeiros, com direito ao acesso. Ou seja: a Série B do Campeonato Brasileiro está complicadíssima para as representações do Grande ABC.


Quem disser o contrário está enganando o distinto público. Exceto, é claro, se tiver algum acordo com forças metafísicas que nas últimas temporadas deram uma mão preciosa ao Fluminense, ao São Paulo e ao Flamengo, na Série A, retirando-os de posições subalternas e os levando à fuga milagrosa da queda (caso do Flu) e ao título (casos de tricolores e flamenguistas).


O Santo André aumentou o risco de rebaixamento porque não consegue engatar marcha progressiva. Combina vitórias esporádicas com derrotas e empates frequentes. Não há quem aguente. Em 28 jogos, foram sete vitórias, oito empates e 13 derrotas.


Cada vez mais o Ramalhão está ameaçado pela concorrência que vem de baixo da tabela classificatória e vê a turma de cima se afastar. É o pior dos mundos.


Com 29 pontos e sete vitórias, o Santo André abre o pelotão de fuzilamento, perseguido por Brasiliense com 28 pontos e seis vitórias, Ipatinga com 27 pontos e sete vitórias e América de Natal com 26 pontos e seis vitórias. Perceberam o drama do entrechoque dos desesperados? Para quem virou o primeiro turno na zona do rebaixamento mas com certa folga dos demais desesperados, e bem próximo da turma de prontidão, o quadro é dos piores.


Tudo pode acontecer, mas o Santo André precisa começar a rezar para que o Vila Nova (32 pontos e nove vitórias) e o Bragantino (34 pontos e sete vitórias) percam os próximos jogos, porque são as opções mais imediatas e possivelmente únicas de tábuas de salvação. Paraná e Icasa (36 pontos) e Náutico (37) estão se mandando. Só uma catástrofe os colocaria na zona de turbulência mais acentuada.


É difícil acreditar na reação do Santo André. O time dá a impressão de que vai engrenar, de que ganhará personalidade tática, de que se nutrirá inteligentemente de um sistema defensivo razoavelmente combativo e se completará com contragolpes mortais. Tudo não passa mesmo de impressão. Foi assim contra o Duque de Caxias. Poderia ter retornado com goleada história. O segundo gol, sem querer, no final, é o que chamaria de gol-engana-torcida. O placar apertado de 3 a 2 não mostra o que foi o desastre tático da equipe.


Há quem não tenha capacidade de entender o que se deu com o Santo André no segundo tempo, porque observa apenas a equipe que lhe interessa em campo. O Santo André terminou com vantagem de um a zero no primeiro tempo porque o Duque de Caxias repetiu durante o período o futebol sonolento de quase todo o tempo do São Caetano no Estádio Bruno Daniel, em clássico vencido pelo Ramalhão.


Bastou apertar a marcação, ganhar velocidade e ocupar as laterais do campo no segundo tempo, e lá se foi o Ramalhão para o vinagre.


Sem entrar em detalhes de alterações individuais que chacoalharam o sistema de marcação do Ramalhão, o Duque de Caxias fez do Santo André gato e sapato. Contou para tanto com a colaboração do técnico Fahel Júnior. Com a vitória parcial, o treinador poderia ter acrescentado um volante para fortalecer a marcação no meio de campo excessivamente liberal. Além disso, retirou de campo um Borebi mais ágil e participativo e enfiou goela abaixo do bom senso o atacante Fábio Luiz tão pouco móvel e previsível quanto o grandalhão Luiz. Menos mal que enxergou a baixa produtividade de Rafinha. Posse de bola sem progressão só inebria estatístico burocrata.


Já o São Caetano de Toninho Cecílio é um enigma. Como a equipe que chegou ao G-4 pode ter caído tanto? Uma explicação é a ausência de Everton Ribeiro, motorzinho que há várias rodadas virou peça de enfermaria. Mas nem assim se justifica. O São Caetano entrou em parafuso emocional.


A TV mostrou o horrorizado centroavante Eduardo que correu para a bola e cantou o canto em que chutaria o pênalti no último minuto do jogo de terça-feira contra o Bahia. Uma vitória que castigaria os bahianos, mas que daria mais fôlego classificatório ao Azulão. Os 10% de possibilidades de chegar à Série A seriam os 20% de rodadas anteriores, após ganhar dois jogos fora e antes de empatar com o Duque de Caixas em casa e de perder o clássico no Bruno Daniel.


As 10 rodadas que faltam para o encerramento do campeonato significam 26% dos pontos da competição. Não é pouca coisa, de fato, mas isso só vale para equipes que se arrumaram durante a competição e que por isso mesmo podem dar arrancada rumo a novos objetivos. Não parece o caso do Azulão nem do Ramalhão.


Para chegar ao quarto lugar o São Caetano precisa (pelos dados atuais) alcançar 68 pontos (índice de rendimento de 59,6%, contra os 58,3% do Bahia, que ocupa a posição). Isso significa ganhar em números sempre redondos 28 dos 30 pontos em jogo. Nem o Fluminense chegou a tanto quando deu um drible no destino de Série B. A contabilidade de que apenas nove pontos separam o São Caetano do Bahia não traduz o desafio especial à classificação.


Já o Santo André, também pela numerologia histórica de rebaixamento (teto de 45 pontos ganhos ou 39,47% de índice de produtividade) precisará somar 16 pontos nos últimos 30 que disputará. Uma conta simples indica que não há façanha a ser desenhada, porque seriam possíveis 53,33% dos pontos em jogo. Entretanto, quando se observa que até agora o Ramalhão não somou mais que 34,5%, as dificuldades crescem.


Mais que isso: as dificuldades também se agravam na medida em que o time não responde ao chamamento emocional de Fahel Júnior, método que deu certo em 2007, em situação completamente diferente. Quem se esquece que foram cinco jogos apenas e o Ramalhão que escapou da Série C era um time bem montado por Sérgio Soares? Um time que sofreu abalos emocionais por conta de idiossincrasias diretivas, quando Ronan Maria Pinto apertou o cerco e assumiu a presidência do Saged, a empresa que privatizou o Ramalhão.


Fahel Júnior tem semelhança com o professor que prepara muito bem uma aula, mas perde o controle da situação quando se vê diante de alguma inconformidade. Quem acha que técnico não ganha e não perde jogo não sabe nada de futebol. Eles só não fazem milagres.


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