Esportes

Santo André busca no passado
remoto tentativa de salvar futuro

DANIEL LIMA - 15/10/2010

Depois de fracassar no resgate do passado recente o Santo André busca no passado remoto a possibilidade de salvar a lavoura na Série B do Campeonato Brasileiro. A contratação de Jair Picerni, 65 anos, que estava encostado, é tentativa válida entre outros motivos porque a maré para a contratação de treinadores não está para peixe. A crise de mão-de-obra diante do surto desenvolvimentista do governo Lula da Silva coincide com a escassez de talentos diretivos nos gramados. Um Picerni envelhecido e sob suspeita de já ter virado o fio e um Sérgio Baresi jovem demais para assumir a bucha do São Paulo exprimem bem a situação de estresse do futebol brasileiro. Há poucos nomes confiáveis na praça tanto para os grandes como para os médios clubes.


Picerni vem com o passado de sucesso no Ramalhão, mas convenientemente se omite que também fracassou ao contribuir para a queda da equipe à Série B do Campeonato Paulista em 1994. Uma derrocada que começou num jogo no Morumbi contra o São Paulo. O Ramalhão vencia por 3 a 0 aos 13 minutos do primeiro tempo e terminou a partida com derrota de 5 a 3. Jamais consegui entender como um treinador permite tamanha barbaridade.


Já era espera a queda do técnico Fahel Júnior, contratado apenas porque dirigiu os cinco jogos finais do Ramalhão na Série B de 2008, quando ajudou a salvar a equipe do rebaixamento. Em casa onde se falta pão de resultados, todos gritam e ninguém tem razão.


Como em futebol até o definitivo é provisório, só o tempo e os jogos dirão até que ponto a direção do Santo André acertou na contratação de Jair Picerni. Experiência o treinador tem, capacidade de filtrar qualidades e deficiências individuais também. Mas Picerni carrega algo que pode ser fatal se os primeiros resultados não forem os necessários: costuma chutar o pau da barraca ao isolar jogadores que fracassam e responde com depressão a placares inadequados. Em contraposição, diante de resultados radiantes, frequenta o olimpo dos intocáveis.


Nestas alturas do campeonato, entretanto, pouco importa se Jair Picerni se sentirá rei caso alcance bons resultados nos primeiros jogos. Quebrar a crista do presidente Ronan Maria Pinto, o mandachuva do Saged, empresa que privatizou o Ramalhão, seria um preço infinitamente menor do que o rebaixamento. Um preço justo, aliás. O personalismo com que Ronan Maria Pinto dirige o Santo André é um dos motivos do tobogã estatístico da equipe, vice-campeã paulista e à beira da queda para a insuportável Série C.


A presidência do Ramalhão vem dando provas de descontrole. Nada mais natural. Ronan Maria Pinto não sabe conviver com reveses. Para chamar um presidente que cansou de escorraçar nos bastidores, no caso Jairo Livolis, a auxiliá-lo inclusive na indicação de nomes para dirigir a equipe, das duas uma: ou Ronan Maria Pinto caiu em estado de humildade e de reconhecimento de que o mundo do futebol lhe é hostil ou preparou armadilha ao ex-dirigente, utilizando a aproximação como suposto rasgo de compartilhamento de decisões, protegendo-se de críticas.


Sabe-se que além de deselegante, porque demitiu o treinador Fahel Júnior nas páginas do Diário do Grande ABC, veículo de comunicação do qual é presidente e diretor de redação, Ronan Maria Pinto entregou a rapadura do apontamento de alternativas do nome de treinador a Jairo Livolis. Jair Picerni não era o primeiro da lista. Quem ocupava a posição era Luiz Carlos Martins, contratado um dia antes pelo Pão de Açúcar. Martins seria o ideal porque tem capacidade de gerenciar crises e de manter em campo um time equilibrado, sem arroubos defensivistas e ofensivistas.


Jair Picerni foi chamado pela experiência e pelo passado no clube. Mesmo com a nódoa da queda em 1994, quando desmanchou parte do elenco após os primeiros maus resultados. A vantagem agora é que não há tempo para extremismos. O viés de baixa de sua carreira, natural no esporte, poderá ser interrompido mesmo que provisoriamente. Aleluia, aleluia, dizem os ramalhinos.


Vou escrever qualquer dia desses sobre as possíveis consequências de o Ramalhão mergulhar nas águas gélidas da Série C. Antecipo que, nestes tempos de futebol empresarial, nenhum título, por mais importante que seja, como é o caso da Copa do Brasil, ou mesmo o vice-campeonato paulista, compensa eventual queda à Série C. Se Ronan Maria Pinto carregar no currículo diretivo essa hecatombe, não terá salvação. Que reze por milagres de São Picerni, então. Todos nós, aliás.


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Acesso está cada vez mais distante e rebaixamento muito mais próximo


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