O final de semana foi dramático para o futebol do Grande ABC na Série B do Campeonato Brasileiro. A nove rodadas do encerramento o São Caetano que perdeu na sexta-feira à noite em Arapiraca (AL) para o ASA não depende (mesmo que provisoriamente) mais das próprias forças para chegar ao G-4, que dá direito ao acesso à Série A. O Santo André, decepcionante na estréia de Jair Picerni não apenas pela derrota em casa para o muito melhor Figueirense, já respira por aparelhos. Está na antepenúltima posição, a seis pontos do Vila Nova de Goiás, o primeiro fora da linha de corte. Pelas projeções, precisa ganhar 16 dos 27 pontos que restam (59,25%) enquanto em 29 jogos conquistou apenas 29 pontos (33,33%). É um cardíaco numa maratona.
O Santo André de Jair Picerni frustrou a expectativa não só porque o adversário fez dois gols nos primeiros oito minutos e, enquanto teve interesse em atacar, subjugou o adversário de forma humilhante. O novo treinador fracassou ao manter jogadores e principalmente o sistema tático dos jogos anteriores. Um time vulnerável demais na defesa, desprotegida por um meio de campo sem fome de marcação e inabilitado à armação, e um ataque isolado e impotente, que vive de jogadas repetitivas de laboratório. São ratinhos numa caixa de sapatos esperando por um pedaço de queijo.
Precisou a vaca ir para o brejo para Jair Picerni voltar no segundo tempo com duas mudanças que não alteraram em nada o quadro, mesmo com o já acomodado Figueirense esperando o tempo passar. Trocou o grandalhão centroavante Luiz, sempre na dependência de uma bola alçada na área, por Fábio Luiz, uma réplica com menos estatura e um pouco menos lento. Menos mal que o antecessor Fahel Júnior, que escalou Fábio Luiz e Luiz no mesmo time. Jair Picerni também retirou o sempre individualista Rafinha, incapaz de observar o jogo como ação coletiva, por um Altair mais organizador, embora indolente.
Vou deixar de lado observações técnicas e táticas para aprofundar um pouco o diagnóstico classificatório.
O que existe de pior é a falta de perspectiva de que o Ramalhão terá melhora suficiente para praticamente dobrar o índice de aproveitamento na competição. Não bastassem tantas limitações e indisfarçável impacto emocional diante da ameaça de rebaixamento, não tem contado com o fator sorte. Os adversários abaixo na classificação apertam cada vez mais o cerco e os que estão acima são cada vez menos em quantidade e mais em distanciamento de pontos.
O desnível entre o Santo André e as equipes que ocupam os primeiros postos, como provou o Figueirense sábado, é escandaloso. Como a corrida contra o relógio se dará de agora em diante principalmente contra o Vila Nova de Goiás (35 pontos), Icasa (36 pontos) e o Bragantino (37 pontos), não restará ao Ramalhão senão um cenário paradoxal: precisa ter equilíbrio técnico, tático e emocional mas também não poderá abrir mão da ousadia. Para um São Paulo que joga no fio da navalha na Série A do Brasileiro em busca de uma vaga na Taça Libertadores o desafio é menos exasperante do que para o Santo André que precisa fugir da queda. Pura questão de sustentabilidade.
A obrigatoriedade de ganhar 16 dos últimos 27 pontos talvez não dê a exata ideia da situação do Santo André. Vamos reverter o quadro: dos 27 pontos em disputa, o Santo André só poderá perder 11. Nada fácil para quem tem cinco jogos fora e registra baixa produtividade no Bruno Daniel. Nestas alturas do campeonato, empate tem o significado de corda no pescoço.
É sempre bom lembrar que os números projetados estão indexados à classificação atual. O Vila Nova está fora da zona de rebaixamento com 40% de índice de rendimento. Só há uma possibilidade de o Santo André fugir da queda com menos pontos que os 16 citados: se a primeira equipe fora da zona de turbulência baixar o índice de rendimento.
Não é aconselhável qualquer cálculo sem priorizar 45 pontos ganhos ao final do campeonato. Para descansar de vez de ameaça o melhor é chegar a 46 pontos, patamar que jamais provocou a queda de qualquer equipe na Série A e na Série B do Brasileiro. Com 45 pontos caiu apenas o Coritiba na Série A do ano passado — e mesmo assim porque perdeu no primeiro critério de desempate, o número de vitórias.
O Santo André aumentou para 75% as probabilidades de frequentar a Série C na próxima temporada. O jogo desta terça-feira à noite contra o América em Natal e uma combinação de resultados podem mergulhar a equipe na maior crise dos últimos anos.
Já ao São Caetano, mais aplicado contra o ASA a ponto de ter dois jogadores expulsos, só há uma condição para chegar entre os quatro primeiros, tendo-se como base o índice de rendimento do quarto colocada até agora: se ganhar todos os jogos e se o Bahia (59,77% de aproveitamento) empatar pelo menos um dos nove jogos que disputar.
A explicação é simples: o São Caetano contabiliza até agora na competição 45,97% de índice de rendimento. Se vencer os nove jogos que restam, atingirá 58,77%. O Bahia, quarto colocado, tem 59,77%. Ou seja: se o tricolor baiano mantiver o nível, automaticamente o São Caetano estará fora de qualquer possibilidade de acesso.
Isso tudo do ponto de vista matemático, porque na prática subiu para 99% a possibilidade de seguir na Série B. Algo impensável que se desse ao restarem 23% dos pontos programados. A equipe dirigida nas últimas partidas por Toninho Cecílio chegou ao G-4 em algumas rodadas, quando se deu reviravolta de rendimento que precisaria ser dissecada, caindo pelas tabelas.
O então técnico Sérgio Guedes alertou que alguns jogadores baixaram de rendimento depois de terem sido assediados como reforços de equipes da Série A. Toninho Cecílio chegou à conclusão na semana que passou que faltava mais aguerrimento. Além de aspectos técnicos e táticos, acredito em duas fortes justificativas para os insucessos no segundo turno, numa campanha de equipe rebaixável.
A primeira é que o São Caetano foi construído tecnicamente para disputar a Série A, que concede mais espaços ao talento. Ao se dar conta de que foi abalroado pela competitividade maior por metro quadrado, entrou em parafuso. Faltou, portanto, juntar alguns condimentos de Série B como o fizeram equipes semelhantes em qualidade individual, casos de Coritiba e Figueirense.
A segunda, que reforça a primeira, é que não conseguiu resolver um problema crônico de ataque: a ausência de um companheiro para qualquer um dos centroavantes de que dispõe. Tanto que a escalação da dupla Eduardo e Pedrão é um arremedo, porque nenhum deles sabe atuar como segundo atacante, primeiros atacantes que são. A contusão de Everton Ribeiro, que também não é segundo atacante, veio em péssimo momento entre outros motivos porque gerava energia e luz que obrigavam os companheiros a mobilizarem-se à retomada e à posse de bola.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André