Esportes

Santo André perde até quando
vence para fugir do rebaixamento

DANIEL LIMA - 25/10/2010

O Santo André fez provavelmente a apresentação mais consistente na Série B do Campeonato Brasileiro na última sexta-feira na vitória de 2 a O no Estádio Bruno Daniel contra a Ponte Preta de Campinas, mas os resultados da rodada foram péssimos para quem tenta fugir do rebaixamento. Como se tudo estivesse armado pelo destino, a equipe de Jair Picerni encerrou a rodada em situação mais delicada do que começou, embora tenha deixado a penúltima colocação. Segue — e é isso que mais interessa — no grupo dos rebaixáveis a seis pontos de distância do primeiro time fora da linha de corte, no caso o Náutico, mas tem menos tempo para eliminar a desvantagem.


Com uma rodada a menos a disputar — agora faltam apenas sete, ou 18% do total de jogos — e com quatro jogos fora de casa, o Santo André precisa rezar para Vila Nova ou Náutico cair na teia de desilusões. E rezar também para que o Ipatinga, que passou à frente, não seja vigoroso na corrida para passar para trás Vila Nova ou Náutico. Resumo da ópera: o Ramalhão está com 90% de possibilidades de despencar na escuridão lotérica da Série C.


A vitória contra a Ponte Preta mostrou claramente o dedo de Jair Picerni. Agora sim parece que o treinador resolveu mexer. Uma de suas virtudes, diagnosticada por quem conhece até que ponto é possível que influencie o rendimento de um grupo, é a sensibilidade e a agudeza para filtrar qualidades e deficiências dos jogadores.


Jair Picerni teria a capacidade de inserir jogadores no conceito tático que imagina ser possível aplicar. Jair Picerni saberia extrair o que de melhor conta de disponível num grupo de atletas. Ou seja: seria um treinador que não se embanana com a multiplicidade de nomes que ocupam as planilhas de um Ramalhão que subestimou o planejamento numa competição tão longa. Ao contrário de outros técnicos, ele não se perderia com tantas opções, porque conseguiria estreitá-las na bitola do pragmatismo emergencial de quem corre contra o relógio.


Jair Picerni preparou uma equipe leve e veloz e iniciou o jogo sufocando a Ponte Preta. O gol logo no começo facilitou a tarefa que se seguiu: o adversário contava com posse de bola, mas era o Ramalhão quem dava as cartas táticas. Foi assim que, sem precisar do goleiro Neneca para grandes defesas, definiu o resultado no segundo tempo. Em nenhum instante o Santo André pareceu entregue à sorte. Não foi brilhante. Foi cirurgicamente eficiente.


O coletivismo do Ramalhão fez o resultado num Bruno Daniel mais uma vez praticamente vazio (o Ipatinga, cidade-satélite da Capital, como é o caso do Grande ABC, levou 10 mil torcedores na vitória contra o Bragantino), mas não se pode deixar de destacar que o lateral-ala Cicinho, o quarto-zagueiro Douglas e o atacante Richely foram às alturas individuais. É muito difícil resistir a um adversário que tem um ala inspiradíssimo, um zagueiro de área veloz e competente em decifrar o código genético de antecipações e coberturas e um meia-atacante puxador de contragolpes e definidor de jogadas. Ainda mais se todo o restante do grupo atuar dentro dos limites de segurança com empenho físico e tático impressionante.


Com 32 pontos ganhos em 93 disputados (34,40% de índice de aproveitamento) o Santo André está relativamente distante do Vila Nova e do Náutico, com 38 pontos (40,86% de índice de aproveitamento). Sem considerar o Ipatinga, também na Zona de Rebaixamento mas com um ponto a mais que o Santo André (33), a perspectiva matemática não é das melhores para o Ramalhão. Nesse toada, podem ser necessários 46 pontos ao final da competição, não 45 como em outras edições, para se livrar da queda.


Embora o melhor mesmo seja o Santo André rezar para vencer e também para que Vila Nova e Náutico percam o maior número possível de jogos, as sete rodadas restantes indicam que o time de Pernambuco dificilmente constará da lista dos rebaixados. A rezadeira deve se concentrar mesmo no Vila Nova que, como o Santo André, tem quatro jogos fora de casa.


Dos três times que estariam disputando mais acirradamente a travessia da ponte para fugir da queda (o Ipatinga não está sendo considerado apenas para não tumultuar ainda mais a análise, mas pode fazer a festa como azarão porque conta com um atacante, Alessandro, em estado de graça), o Náutico é o com menores possibilidades de degola. Além de quatro dos sete jogos em casa, enfrentará adversários que até agora totalizaram 272 pontos (média de 38,85% de rendimento). O Vila Nova jogará com equipes que somaram 290 pontos (média de rendimento de 41,42%) e o Santo André o terceiro, com 312 pontos (média de rendimento de 44,57%).


Vejam os jogos que restam para Santo André, Vila Nova e Náutico em casa (C) e fora de casa (F):


Santo André vs. América Mineiro (F)
Santo André vs. ASA (C)
Santo André vs. Bragantino (F)
Santo André vs. Ipatinga (C)
Santo André vs. Sport (F)
Santo André vs. Bahia (F)
Santo André vs. Náutico (C)


Náutico vs. Guaratinguetá (C)
Náutico vs. Portuguesa (F)
Náutico vs. Icasa (C)
Náutico vs. Ponte Preta (C)
Náutico vs. Brasiliense (F)
Náutico vs. Vila Nova (C)
Náutico vs. Santo André (F)


Vila Nova vs. Ponte Preta (F)
Vila Nova vs. América de Natal (C)
Vila Nova vs. ASA (F)
Vila Nova vs. Sport (C)
Vila Nova vs. Bragantino (F)
Vila Nova vs. Náutico (F)
Vila Nova vs. São Caetano (C)


Acreditando-se que 45 pontos sejam a marca aliviadora do rebaixamento, ao Santo André será necessário ganhar os três jogos em casa, empatar um e vencer pelo menos um fora. Se a marca de corte for 46 pontos, necessariamente terá de vencer todos os jogos em casa e somar uma vitória e dois empates fora de casa. Há, entretanto, agravante a complicar ainda mais a campanha do Santo André: tanto Náutico como Vila Nova têm três vitórias a mais. Esse é o primeiro critério de desempate em caso de duas ou mais equipes chegarem em igualdade de pontos na última rodada. Talvez o Santo André precise suplementarmente de mais um ponto para não correr o risco de nadar, nadar e morrer na praia.


Quando o jogo contra a Ponte Preta se encerrou na sexta-feira, as comemorações foram comedidas porque restava a expectativa de que os jogos do dia seguinte fossem generosos. Qual nada. Ipatinga, Vila Nova, América de Natal e Icasa venceram e o Náutico empatou com o Sport na Ilha do Retiro, no clássico pernambucano. O Santo André não ganha nem quando ganha, eis o paradoxo.


Já o São Caetano está naquela zona classificatória de imensa acomodação, longe do rebaixamento e distante do grupo dos quatro primeiros que disputarão a Série A do Brasileiro no ano que vem. A maldição de perder jogadores importantes na reta de chegada (foram, em cadeia, Everton Ribeiro, Fernandes e Ailton) é uma das explicações. Entre as outras, a falta de apetite. Que tem muito a ver com questões institucionais, sobre as quais já escrevi.


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