Esportes

Tiririca esqueceu do Ramalhão
quando disse que pior não fica

DANIEL LIMA - 01/11/2010

A máxima do exótico palhaço Tiririca, recordista de votos a deputado federal no País, infelizmente não serve de carapuça para o Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro. Ao faltarem apenas seis rodadas para o encerramento da competição e dramaticamente posicionado no penúltimo lugar, a situação do Ramalhão fica pior a cada nova série de jogos. Tomara que na rodada desta terça-feira a voz de Tiririca saia dos arquivos do Horário Eleitoral e ecoe no Estádio Bruno Daniel. Sim, porque mesmo vencendo o ASA de Arapiraca o Santo André pode encerrar a rodada em situação ainda pior. Afinal, cada vez mais a equipe depende de maior número de concorrentes, além das próprias forças, para escapar de rebaixamento que estatisticamente chega a 98% de probabilidades.


Querem ver que combinação de resultados seria ideal para o Santo André nesta terça-feira, além da vitória contra o ASA?


Que o Vila Nova perca em casa para o América de Natal, que o Icasa perca para o São Caetano em Juazeiro do Norte, que a Portuguesa vença o Náutico no Canindé, que o Ipatinga perca para o Figueirense em Minas Gerais e que o Brasiliense perca no Vale do Paraíba para o Guaratinguetá.


São esses os jogos que de fato interessam ao Santo André, além do confronto com o ASA. Se ocorrer tudo isso, o Santo André não sairá da zona de rebaixamento, mas ganhará novo alento. Dá pra tomar uma Kaiser antes? 


É sempre possível que alguma novidade apareça na classificação, mas encerrada a 32ª etapa, os quatro últimos postos que levarão ao descenso estão sendo disputados por apenas seis equipes. E o Santo André está na penúltima colocação, com 32 pontos, a mesma pontuação do América de Natal, que perde no saldo de gols.


Acima do Santo André estão Brasiliense com 34 pontos, Ipatinga com 36, Náutico com 38 e Vila Nova de Goiás com 39 pontos. Mais desgarrado, mas, conforme as próximas rodadas, com possibilidades de entrar em parafuso, está o Icasa com 40 pontos. Os demais times estão praticamente fora da zona de turbulência que deverá ter mais uma vez como limite de escape o total de 45 pontos. Mas não é improvável que o mais garantido mesmo seja alcançar 46 pontos.


Por mais paradoxal que possa parecer, estaria o Ramalhão em melhor situação após a rodada encerrada no sábado se ocupasse a lanterninha. Para as pretensões futuras, seria melhor que o Santo André contasse com uma vitória do América de Natal em casa contra o Ipatinga (ou, melhor ainda, um empate) do que a vitória dos mineiros. Sim, porque o time visitante alcançou 36 pontos ganhos, quatro acima do Santo André. O América de Natal é um adversário que menos provavelmente se safará do rebaixamento, enquanto o Ipatinga está em ascensão extraordinária para seguir na competição na próxima temporada.


A análise das seis rodadas que restam na Série B perde muito da efetividade se em vez de vôo panorâmico não se estabelecer visão mais próxima. E qual é a visão mais próxima? A do índice de aproveitamento das equipes no segundo turno, depois de 13 rodadas, em vez das 32 rodadas realizadas até agora no campeonato. O comportamento das equipes muda quando se observam determinados períodos numa competição tão longa. Oscilações permeadas de estabilidade atingem a maioria das equipes. E nesse aspecto o Santo André aprofunda ainda mais a perspectiva de Série C, porque mantém equilíbrio negativo no returno.


Vejam só os números das seis equipes candidatíssimas ao rebaixamento quando se consideram os 13 jogos no segundo turno, confrontando-os com os 32 jogos disputados por cada equipe na competição:


 Santo André, 12 pontos conquistados, com média de 30,76% de índice de aproveitamento. Na média geral da competição alcança 33,33%.
 Ipatinga, 21 pontos conquistados, com média de 53,84%. Na média geral da competição alcança 37,50%.
 América de Natal, 16 pontos, com média de 41,02%. Na média geral da competição alcança 33,33%.
 Brasiliense, 10 pontos conquistados, com média de 25,64%. Na média geral da competição alcança 35,41%.
 Náutico, sete pontos conquistados, com média de 17,94%. Na média geral da competição alcança 39,58%
 Vila Nova, 22 pontos conquistados, com média de 56,41%. Na média geral da competição alcança 40,62%


Pelo comportamento das equipes no segundo turno, a probabilidade de rebaixamento, quando articulada com a classificação geral, é mais comprometedora para Náutico, Brasiliense, América de Natal e Santo André, todos com viés de baixa. Nestas alturas do campeonato, a única mudança que haveria na lista de rebaixados seria a troca do Ipatinga pelo Náutico. Ou seja: o time mineiro saltaria do buraco por conta da debacle do time pernambucano.


Quem reconhece que numa competição de pontos corridos há nuances que não podem ser desprezadas, deve levar a sério a projeção numérica que os índices de aproveitamento das seis equipes insinuam.


Como só vão escapar duas das seis equipes do pelotão de fuzilamento — exceto eventual mergulho do Icasa, que elevaria os rebaixáveis ao total de sete concorrentes — e como o Ipatinga e o Vila Nova mantêm desempenho no segundo turno que sustenta fuga da queda, só resta aos outros quatro, incluindo-se o Santo André, um grande salto de qualidade nos seis jogos. Será possível? Tenho muitas dúvidas. Viés de baixa não é facilmente retirado, aliviado, revertido. Principalmente quando o emocional ganha contornos de horrores.


Agora, em termos de mando de jogo, a situação para os concorrentes está parelha. Cada equipe fará três jogos em casa e três fora. O Santo André está encalacrado. A tabela reservou alguns adversários fatais. É mais que provável que jogará fora de casa com um Bragantino ainda necessitado de assegurar pontuação mínima — possíveis 46 pontos ganhos — para não correr risco de rebaixamento, além de Sport Recife e Bahia, que lutam diretamente pela Série A. Em casa, além do ASA, enfrenta dois concorrentes diretos à queda, Náutico e Ipatinga. Jogos decisivos, mas nem por isso garantidores de que ao vencer, escapará do calabouço. ASA e Náutico são apenas dois dos cinco adversários que jogam tudo para permanecer na Série B.


Para completar, a vitória do São Caetano na tarde de sábado contra o líder Coritiba, no Anacleto Campanella, comprova a tese de que a equipe só mais recentemente sob o comando de Toninho Cecílio é dotada de técnica suficiente para estar em posição muito melhor na classificação, não praticamente fora (98%) de qualquer possibilidade de acesso.


O retorno de Everton Ribeiro e o desencantar de Kleber deram toque de refinamento a um meio de campo de primeira classe. Se serve de consolo, o São Caetano tem base preciosa para disputar um Campeonato Paulista com amplo sucesso. Bem distante da realidade do Santo André, que, de desmanche em desmanche pós-vice-campeonato paulista, provavelmente terminará a Série B liquidado não se sabe por quanto tempo na desprezadíssima Série C do Brasileiro, com imensos prejuízos ao planejamento para o próximo ano.


Enganou-se, portanto, quem levou para outros campos, além da política, a ideia de Tiririca de que pior não fica. No caso do Ramalhão, as perspectivas são as piores possíveis. A Série C é o anticlímax do chamado futebol empresarial que o Ramalhão adotou com privatização mais que estranha e estrutura organizacional mais que sofrível.


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