Esportes

Ramalhão e Azulão têm apenas
1% de possibilidade na Série B

DANIEL LIMA - 08/11/2010

Não dá para enganar o distinto público: campeonato de pontos corridos não é um tiro curto, corrida de 100 metros. É maratona. E como o Santo André e o São Caetano acusaram golpes além da conta durante a competição, a contabilidade é por demais fria, mas realista: ao Ramalhão só resta 1% de probabilidade de safar-se do rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro, e ao São Caetano não mais que também 1% para subir à Série A.


Resumo da ópera sem leroleros demagógicos: é preciso baixar o espírito de Sobrenatural de Almeida que salvou o Fluminense no ano passado para que o enredo se altere.


Como a sugestão é esquecer a exceção e subordinar análises à lógica, é melhor o Santo André pensar em manter o técnico Jair Picerni, recentemente contratado, para o Campeonato Paulista. Ao São Caetano resta tapar apenas alguns buracos para disputar com possibilidades de sucesso a competição mais importante do Estado.


A sugestão para a manutenção de Jair Picerni é clara e sem rodeios: tivesse esse experiente treinador chegado mais cedo, mais especificamente para substituir o indevidamente demitido Sérgio Soares, o Santo André teria colecionado pontos adicionais que minimizariam a situação na tabela e tornariam a sustentação na Série B algo muito diferente do que se prevê, um autêntico milagre. O erro foi a opção pelo novato Fahel Júnior, que não durou mais que cinco jogos.


Talvez o consolo que restará ao Santo André iminentemente rebaixado a uma competição que afetará completamente os planos empresariais do Saged, organização que privatizou o futebol do Ramalhão, seja uma reta de despedida da Série B com dignidade. O time que perdeu por 3 a 1 para o Bragantino sábado à noite foi castigado pelo peso da responsabilidade de precisar dos três pontos. Durante pelo menos dois terços teve o controle do jogo. Entretanto, a obrigação de vencer deslocou a vantagem tática a um adversário experiente que soube explorar os contragolpes.


É evidente que com Jair Picerni o Santo André ganha alguns contornos dos melhores momentos do time de Sérgio Soares na própria Série B. Sim, apesar dos pesares, o Santo André chegou a fazer mesmo que de forma esparsa alguns bons jogos com Sérgio Soares, a quem provavelmente os dirigentes pretendiam conversão a milagreiro. Ou não seria obra do além, após o desmanche pós-Campeonato Paulista, exigir que o Ramalhão fosse remontado com o mesmo sucesso?


Faltou humildade à direção do clube para entender que, por conta de muitos fatores, a Série B é competição totalmente diferente do Estadual. Um planejamento que contemplasse em primeiro plano colocação confortável na tabela de classificação seria mais inteligente e factível. Ao assumir o peso da responsabilidade de chegar entre os primeiros, o Ramalhão entrou em parafuso. Tanto que realizou nova série de desmanches e minidesmanches no campeonato, com substituições frequentes de titulares. Administrar 40 jogadores que disputam apenas 11 vagas é complicado demais. Quanto mais com empresários pressionando por escalação de seus patrimônios.


Pena mesmo que a chegada de Jair Picerni, sugestão do ex-presidente Jairo Livolis solicitado por Ronan Maria Pinto para socorrer a equipe, tenha sido tardia. Tardia mesmo, porque é muito pouco provável que para atingir o mínimo estatisticamente possível de pontos para fugir da degola (45 ao final da competição) o Ramalhão consiga saltar de um índice de produtividade de 34,31% dos pontos disputados em 34 rodadas e atingir 83,33% nos quatro jogos que restam. E olhem que dois dos quatro jogos são mais que paradas duras fora de casa, contra o Sport Recife e o Bahia, equipes que disputam vagas no G-4, de Acesso à Série A.


Já que não deixaram e não deram sossego para Sérgio Soares arrumar a casa após a venda por atacado dos destaques do título de vice-campeão paulista, que dêem agora a Jair Picerni. O veterano treinador tem deficiências, não gosta muito de preparar a equipe com treinamentos exaustivos, mantém relacionamento hierárquico rígido demais com os atletas, mas, neste momento, talvez seja a melhor solução para a preparação do elenco que será remontado à Série A do Campeonato Paulista. O Santo André precisa lamber as feridas da Série B do Brasileiro sem correr o risco de novo rebaixamento, agora em nível estadual.


Já o São Caetano que venceu o Sport Recife e tem apenas possibilidades matemáticas de chegar entre os quatro primeiros é um time quase pronto para o Campeonato Paulista. O retorno do meia-atacante Everton Ribeiro já há algumas rodadas confirma a impressão de que a contusão que o retirou da equipe por mais de meia dúzia de jogos é a raiz à explicação dos desarranjos do Azulão. Everton Ribeiro é o único jogador do elenco do São Caetano com capacidade para transpor a distância entre meio de campo e ataque em velocidade, com técnica, letalidade, dinamismo e compartilhamento de jogadas com companheiros de ataque. Sem ele o São Caetano é um time previsível demais, embora com qualidade técnica em quase todos os setores. O desgarramento do grupo de equipes com possibilidades de acesso, depois de frequentar o G-4, tem muito a ver com a contusão de Everton Ribeiro.


Esqueçam as contas que andam fazendo por aí e as manchetes programadamente esperançosas, embora contraditórias quando observadas ao longo da semana: seria muito bom se o São Caetano tivesse mesmo possibilidade de subir e o Santo André de não cair, mas quem acredita que 1% tanto para um quanto para outro é margem acalentadora deve concorrer ao troféu de ingenuidade esportiva do ano.


Parece claro que sete equipes estão jogando para fugir do rebaixamento. Guaratinguetá (43 pontos) e Vila Nova de Goiás (42) estão na lista apenas por precaução. Náutico (41), Icasa (41), Brasiliense (40), Ipatinga (36), Santo André (35) e América de Natal (35) são os mais ameaçados. América, Santo André, Brasiliense e Ipatinga sãos os favoritos à queda.


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