Não é que o presidente do São Bernardo, um dos novos times que disputarão a Série A do Campeonato Paulista, está decidido a ceder apenas os 5% de ingressos regulamentares à torcida do Corinthians no jogo entre as duas equipes numa das primeiras rodadas da competição? Que estaria pretendendo Luiz Fernando Teixeira?
Há quem observe as declarações do dirigente sob dois aspectos. Primeiro, a confiança inabalável de que a torcida do Tigre é capaz de, sozinha, garantir a lotação do Estádio de Vila Euclides. Segundo, um excesso de marketing para impressionar a mídia e traçar de imediato uma diferença profunda entre uma São Bernardo que apóia para valer o time que a representa e as vizinhas Santo André e São Caetano, escassamente apoiadas nas arquibancadas.
Sei lá se Luiz Fernando Teixeira está apenas ensaiando a elevação do grau de interesse de um encontro inédito, porque será o Corinthians o primeiro grande clube do futebol brasileiro a disputar um jogo de primeira divisão em São Bernardo.
Teria de fato o São Bernardo torcida suficiente para encarar o Corinthians com uma divisão tão desproporcional de espaços nas arquibancadas? Não acredito. Mais que não acreditar, duvido. Gostaria de ser desmentido, mas nada me tira da cabeça que, periferia da Capital, o Grande ABC está cada vez mais fadado a contar com torcedores de segunda camisa, ou seja, torcedor que têm algum time da Capital em primeiro plano.
Seria o São Bernardo fenômeno sociológico se, diferentemente do Ramalhão e do Azulão, tivesse constituído nos últimos anos, na surdina, uma massa torcedora com identidade própria. Até que ponto sãopaulinos, palmeirenses e santistas vão engrossar a torcida do Tigre como se torcedores autênticos fossem, a ponto de ocupar a quase totalidade das dependências do Vila Euclides? Vá lá que o anticorinthianismo é uma das marcas registradas do futebol paulista, assim como o antiflamenguismo é do futebol carioca, mas daí a acreditar em segunda camisa em São Bernardo com o grau de fidelidade de primeira camisa vai muita diferença.
Como não acredito que Luiz Fernando Teixeira descambe para populismo, já que o perfil de ponderação está impresso na gestão da equipe que, ao contrário do Ramalhão, não se perdeu nas armadilhas do empresariamento, possivelmente ele tenha uma carta na manga da camisa. Seria essa carta uma mobilização anticorinthiana, como bom sãopaulino que é, ou a rede de escolinha de futebol em São Bernardo, base da massificação da torcida na Série B do Paulista, seria transplantada automaticamente para a Série A, independente das cores do outro lado do gramado?
Só lamento para valer que a tabela da Série A não determinasse o jogo entre São Bernardo e Santo André para o Estádio Bruno Daniel. Juro que queria ver a torcida do Tigre invadindo Santo André. Não só invadindo, mas humilhando a cidade vizinha que não teve competência nos últimos anos de fartura para desenvolver ações de marketing para adensar o número de torcedores. Sim, porque a média de público do Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro, do qual está se despedindo, e também na Série A do Paulista, é uma calamidade em matéria de descredenciamento a qualquer adjetivo que tenha paralelismo com futebol empresarial.
De qualquer modo, fosse o presidente Luiz Fernando Teixeira provocativo com o Ramalhão como parece ser com o Timão, ele poderia antecipar-se num gesto pretensamente diplomático, quando de fato seria ofensivo: reservaria metade do Estádio de Vila Euclides para a torcida do Ramalhão, desde que os valores correspondentes à carga de ingressos fossem assumidos pelo presidente Ronan Maria Pinto.
É claro que o Ramalhão declinaria da proposta, porque o estado falimentar de representatividade presencial da torcida do Santo André é tão calamitoso que nem mesmo os dois jogos decisivos contra o Santos no Pacaembu descongelaram o desinteresse latente de acompanhar uma equipe que encantou o Brasil. Encantou tanto que, não fosse a coincidência do paralelismo com o Santos, de maior poder midiático, o desempenho seria ainda mais marcante.
Para completar: ainda não tenho informações seguras de que os dirigentes de Ramalhão, Tigre e Azulão, equipes que pela primeira vez na história vão representar simultaneamente o Grande ABC no principal campeonato estadual do País, se sentaram à mesa para formular algo como o Troféu Grande ABC. O título paralelo à Série A seria entregue à equipe que mais pontos somasse (e os respectivos critérios de desempate) ao final desse triangular reservada pela tabela do campeonato.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André