Esportes

Números confirmam que com Picerni
Ramalhão escaparia do rebaixamento

DANIEL LIMA - 22/11/2010

O mundo dá muitas voltas e quem sai por cima neste final de temporada em que o Santo André se recadastrou tristemente à inóspita Série C do Campeonato Brasileiro após sete anos consecutivos entre as 40 melhores equipes do Brasil é o ex-presidente Jairo Livolis. Chamado às pressas pelo presidente Ronan Pinto, comandante do Saged, empresa que terceirizou o Ramalhão, Jairo Livolis foi decisivo na contratação do técnico Jair Picerni. Depois de nove jogos na competição — ele estreou contra o Figueirense — Picerni acumula 40,74% de aproveitamento. Uma marca suficiente para impedir a queda do Ramalhão, não fosse o passivo das 29 rodadas anteriores que rebaixam o aproveitamento geral a 36,03%. Arrasaram de vez o Ramalhão as cinco rodadas de apenas uma vitória e quatro derrotas do obscuro técnico Fahel Júnior, contratado por Ronan Pinto por capricho metafísico.


Embora não se deva negar que o gesto de Ronan Pinto tenha tido conteúdo de humildade — ou teria sido de desespero apenas? — Jairo Livolis saiu-se muito bem de uma também possível armadilha que o atual comandante do Ramalhão poderia lhe ter preparado para calar a oposição que cresce. Ao participar ativamente da escolha de Jair Picerni, o ex-presidente do Esporte Clube Santo André poderia ser responsabilizado também pelo rebaixamento da equipe.


Jair Picerni conseguiu números importantes na reta de chegada da competição, com evidentes sinais de que a equipe sob seu controle avançou individual e coletivamente, mas o Diário do Grande ABC, de propriedade de Ronan Pinto, não lhe dá a devida valorização.


Picerni muito provavelmente não ficará no controle do elenco no Campeonato Paulista. Há informações que colocam Marcelinho Carioca na cena do crime, na condição de gerentão. Quem conhece a fama extra-campo de Marcelinho sabe que contrapõe-se ao brilho dentro de campo. Muito dificilmente contraria com a aceitação de treinadores que preferem ter o controle da situação. Discreto, Jair Picerni não se expõe. Mas está claro que não faz o gênero apreciado por Ronan Pinto. Talvez a situação se reverta com o enfraquecimento do titular do Saged. Há mobilizações para tomar-lhe o protagonismo absoluto.


É uma pena também que a redação esportiva do Diário do Grande ABC parece estar mobilizada a ignorar o feito de Jair Picerni, restringindo-lhe méritos. Como se o Ramalhão dos últimos jogos da Série B não fosse digno de salvação.


Pesa contra Picerni um erro do passado, que poderia muito bem ter-se esgotado no passado. Ele agrediu um dos jornalistas do Diário do Grande ABC às vésperas da decisão do título da Série A do Brasileiro de 2001 entre o São Caetano e o Atlético Paranaense. O jornalista Nelson Cilo não o engole até hoje. Fico à vontade para tocar no assunto porque condenei em texto impresso na revista LivreMercado o destempero de Jair Picerni. Foi lamentável de fato. Mas são águas passadas que se esgotaram ou devem se esgotar no Judiciário. E mesmo que não fossem águas passadas, não podem ser transferidas para análises factuais. Exceto se houver recomendação do dono do jornal para baixar a bola do treinador.


A permanência de Jair Picerni, com o qual há muitos anos nem sequer troco um bom dia, deveria ser interpretada pela direção do Ramalhão como investimento para o Campeonato Paulista. Mais uma vez ele provou uma avaliação precisa do ex-presidente Jairo Livolis, hoje presidente do Conselho Deliberativo do Esporte Clube Santo André e do Conselho Consultivo do Saged: a fina acuidade para diagnosticar o material técnico-tático de que dispõe. Picerni recebeu do Ramalhão um elenco de 44 jogadores e teve a competência de definir os titulares em poucos dias. Não é a toa que a equipe evoluiu a cada rodada. Futebol é um jogo em que o conjunto faz a diferença ainda mais quando não se tem uma competição de grandes estrelas, como é o caso da Série B do Brasileiro.


A opção pela renovação do contrato de Jair Picerni, entregando-lhe também a constituição da Comissão Técnica, seria muito mais que um ato de reconhecimento da produtividade da equipe. Sinalizaria que o Ramalhão entregará aos cuidados de um profissional experiente a primeira fase de uma reestruturação do elenco com vistas ao Campeonato Paulista. Um planejamento para os próximos seis meses, que coincidirá com a disputa da Série A do Estadual e da Copa do Brasil, é o mínimo que se espera de uma empresa como o Saged que imagina futebol como fonte de lucros.


Jair Picerni mereceria continuar no Santo André na próxima temporada entre outros motivos porque fez do Ramalhão um time organizado numa etapa em que mais que o rebaixamento previamente desenhado, estavam em disputa a dignidade e a imagem da agremiação.


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