Esportes

Sucesso de Picerni deixa direção do
Ramalhão em situação complicada

DANIEL LIMA - 29/11/2010

O técnico Jairo Picerni chegou ao Santo André em momento dificílimo, com o rebaixamento praticamente consumado a 10 rodadas do encerramento da Série B do Campeonato Brasileiro, conseguiu índice de rendimento de sétimo colocado e se credenciou para reformular o elenco para a Série A do Campeonato Paulista. Então, por que Picerni não renovaria o contrato? Porque quer carta branca e a direção do Saged, a empresa que privatizou o Ramalhão, tem por costume dar bilhete azul a quem ousa divergir.


Venho acompanhando atentamente o noticiário e vejo que a disposição da direção do Ramalhão em manter Jair Picerni é tão convergente quanto as relações entre Hugo Chaves e o governo norte-americano. Disfarça-se aqui, procrastina-se ali, e o que se tem é tentativa de empurrar com a barriga uma decisão indigesta. Tudo porque os ponteiros já estariam acertados para o retorno de Marcelinho Carioca como gerentão do Ramalhão. A tiracolo viriu um técnico de sua integral confiança.


A vitória de sexta-feira à noite no Estádio Bruno Daniel por 1 a 0 diante do Náutico elevou para 46,66% o índice de rendimento do Ramalhão sob o comando de Jair Picerni: foram 14 pontos conquistados em 30 disputados. O Santo André encerrou a competição com 43 pontos (37,72% de rendimento). O desempenho sem os números de Picerni não passaria de 34,52%, ou seja, 29 pontos em 84 disputados.


Contra números bem fundamentados não há contra-argumentos. Jair Picerni leva ainda a vantagem da potencialidade de evitar o rebaixamento do Ramalhão caso tivesse chegado um pouco antes. Teria enfrentado uma disputa menos acirrada de pontos do que a reta de chegada da competição. Mais ainda: com mais tempo para analisar os recursos técnicos, já que é especialista em identificar qualidades, deficiências e vocações dos atletas, poderia, quem sabe, ter recomendado duas contratações que resolvessem os problemas da equipe.


Por isso tudo é que só se entende como pau mandado o comportamento de um ou outro torcedor ao final do jogo de despedida da Série B. Jair Picerni foi hostilizado. Nada mais injusto. As críticas à direção administrativa do Ramalhão são procedentes, porque o que faltou durante toda a competição foram planejamento e humildade.


Planejamento para entender que após do título de vice-campeão paulista, seguido de desmanche do time, a perspectiva não seria das mais seguras. Aí entrou em campo uma frota de ônibus de arrogância. Pretenderam que o time reconstruído tivesse o mesmo futuro do time vendido.


Quando terminou o primeiro turno e o Santo André já dava mostras de que não sairia da zona de rebaixamento, a presidência do Saged dava entrevistas projetando a equipe no G-4.


Os torcedores que vaiaram Jair Picerni ao final do jogo deveriam aplaudi-lo não só pelos números que conseguiu obter em circunstâncias mais que desfavoráveis mas também porque deu dignidade a uma equipe rebaixada muito antes da sentença fatal da matemática. Uma gravação do jogo de sexta-feira, aliás, deveria ser exibida a jogadores e dirigentes do Palmeiras e do São Paulo que enfrentaram o Fluminense nas duas últimas rodadas da Série A do Brasileiro. O Santo André já rebaixado e o Náutico livre de qualquer susto atuaram como se cada lance fosse decisivo. Uma lição de profissionalismo.


Quanto à constatação de que Jair Picerni fez sucesso no Santo André, apesar do rebaixamento, trata-se de algo análogo ao conjunto de resultados de Tite no Corinthians, independente de a equipe terminar em primeiro lugar. Picerni chegou a um Santo André desorientado e praticamente nocauteado. Terminou o campeonato embananando a vida de dirigentes.


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