Datafolha mostra como Palmeiras e São Paulo fraudaram resultados
DANIEL LIMA - 30/11/2010
A maioria da crônica esportiva que não foge ao perfil de tantas outras especialidades da Imprensa verde-amarela não fez do escândalo dos resultados explicitamente arranjados por São Paulo e Palmeiras para favorecer o Fluminense nem um décimo do histrionismo clubístico que atacou gente supostamente qualificada após o pênalti cometido pelo zagueiro Gil em Ronaldo Fenômeno ainda outro dia no Pacaembu.
Apesar de todas as evidências da penalidade máxima quando o lance é retratado do fundo do campo e se observa o abalroamento do zagueiro, não faltaram âncoras e comentaristas de programas esportivos que vociferaram contra a arbitragem. Já com relação às farsas patrocinadas por São Paulo e Palmeiras, que o Instituto Datafolha esmiúça na edição de hoje da Folha de S. Paulo, provavelmente a maioria se calará, porque, ao longo dos últimos dias tratou o caso com certo desdém.
É escabrosa a posição da mídia esportiva nacional quando se trata de valorizar a própria atividade. O oportunismo domina as intervenções da maioria. Oportunismo regado ao politicamente correto quando se trata da Seleção Brasileira. Haja vista o gol de Luiz Fabiano na Copa do Mundo recentemente encerrada, depois de dominar a bola reincidentemente com o uso do braço em dois movimentos seguidos e de ter feito um gol escandalosamente irregular. A maioria aplaudiu o atacante. Houve quem, no Sportv, colocasse o gol entre os mais bonitos da Copa do Mundo.
Vamos direto ao que interessa. Seleciono, sem retirar um mísero de parágrafo importante, a reportagem da Folha de S. Paulo desta terça-feira:
Os desempenhos de Palmeiras e São Paulo contra o Fluminense nas últimas duas rodadas do Brasileiro-10 fogem, e muito, do padrão de jogo dos paulistas, que com suas derrotas reduziram a chance do maior rival Corinthians ganhar o título. É o que mostra levantamento do Datafolha sobre as partidas, ambas realizadas na Arena Barueri.
O time carioca teve uma liberdade rara numa época em que a marcação é prioridade no futebol profissional. Time que mais desarma os adversários no Nacional, com média de 124 tentativas por partida, o Palmeiras tentou tirar a bola do Fluminense só 81 vezes na derrota de anteontem por 2 a 1. No domingo retrasado, quando foi goleado por 4 a 1, o São Paulo fez apenas 82 desarmes, contra uma média de 113 no campeonato. A performance dos grandes paulistas fica longe até do clube que menos desarma no Brasileiro, o Atlético-GO, com 105.
O Palmeiras, terceiro time mais faltoso da competição, não mostrou o mesmo apetite para os pontapés contra a equipe carioca — foram míseras oito infrações, ou 11 abaixo da sua média geral. Marcando assim, o palmeirense Deola e o são-paulino Rogério, os goleiros dos dois clubes, passaram por bombardeios como se não tivessem proteção da zaga.
O Fluminense finalizou 30 vezes contra o time do Morumbi e outras 25 diante da agremiação do Parque Antártica. Time que mais cria chances no Brasileiro, o Santos tem média de só 14 conclusões por partida. O tricolor carioca fica nas 13 finalizações por confronto.
Além de defesa frouxa, os rivais do Corinthians fugiram bastante de seus padrões de jogo diante do time das Laranjeiras em outros aspectos. Adepto de um estilo de pouca troca de passes — tem média de 274 passes por jogo — o Palmeiras resolveu abusar de passes inúteis no meio-campo em Barueri, e terminou o confronto com o Fluminense com 320 trocas de bola, número que o colocaria em segundo lugar no ranking desse fundamento. O time de Luiz Felipe Scolare também mostrou pouco apetite no ataque. De acordo com o Datafolha, foram apenas seis finalizações na partida, menos da metade da sua média geral no Brasileiro.
Faltaram ao Datafolha duas incursões que poderiam, tranquilamente, retirar do mesmo patamar de safadezas esportivas as fraudes patrocinadas por Palmeiras e São Paulo contra o Fluminense e o jogo da penúltima rodada do Brasileiro do ano passado entre Corinthians e Flamengo, em Campinas.
Não há termos de comparação entre os dois jogos deste ano e aquele que colocou o Flamengo na liderança do campeonato entre outras razões porque o São Paulo perdeu para o Goiás. Entretanto, parte da crônica esportiva insiste equivocadamente num paralelismo frouxo. Não só a torcida do Corinthians apoiou o tempo todo a equipe, sem bandear-se para os braços dos flamenguistas, nem houve a descarada permissividade dentro de campo.
Os números do Datafolha comparando o Corinthians daquele jogo em relação ao Corinthians de todo o Campeonato Brasileiro daquela temporada e, principalmente, confrontando-os com o desempenho de palmeirenses e são-paulinos, reduziriam a pó a argumentação falaciosa.
Se o Corinthians entregou ou fez algum esforço para entregar o jogo para o Flamengo, no mínimo executou a tarefa com classe. São Paulo e Palmeiras foram canastrões. Tão canastrões que abriram as porteiras para realçar as grandes defesas dos respectivos goleiros, transformados em bois de piranha.
Quem disser que o Fluminense é um legítimo campeão da temporada passará recibo de estupidez. Cruzeiro e Corinthians têm muito mais qualidades. Aliás, nos confrontos diretos, o Corinthians somou nove pontos, o Cruzeiro seis e o Fluminense três.