Quebrou o pau ontem à noite na reunião do Conselho Consultivo e da diretoria do Saged, empresa que privatizou o Ramalhão há 42 meses e cujos resultados são os piores possíveis. O presidente Ronan Maria Pinto e o vice-presidente Romualdo Magro Júnior deixaram os acionistas do Conselho Consultivo a ver navios, depois de terem ouvido um grande “não” à tentativa de jogar para um futuro incerto o pagamento de impostos atrasados. Eles simplesmente abandonaram o encontro. Talvez esperassem encontrar marionetes. Não estavam preparados para diálogos esterilizados por supostas supremacias no ranking do poder no Grande ABC.
O que Ronan Pinto e Romualdo Magro querem é o dinheiro da Federação Paulista de Futebol para a montagem da equipe à disputa do Campeonato Estadual e da Copa do Brasil. Dinheiro da Federação é força de expressão, porque é o repasse da cota à qual tem direito o Ramalhão por conta de transmissão de jogos pela TV. Quem oficialmente recebe o repasse é o Esporte Clube Santo André, não o Saged. É o EC Santo André o representante oficial do futebol de Santo André. O Saged é um intermediário que se tornou incômodo e incompetente sob as vistas grossas de um conselho de acionistas entregue à prostração.
A direção do Conselho Consultivo, formada em larga escala por dirigentes e conselheiros do Esporte Clube Santo André, não admite postergar impostos. O noticiário que dá conta do impasse é uma ode ao calote, não bastasse a truculência argumentativa explícita na debandada da reunião.
Como se sabe, o Esporte Clube Santo André poderá sofrer sérios danos financeiros por conta de estripulias fiscais caso o Saged entre em parafuso. E tudo indica que o Saged entrou em parafuso, depois de consumado o rebaixamento do Ramalhão à Série C do Campeonato Brasileiro. Só está faltando cair à Série B do Campeonato Paulista. Mais ainda: o dinheiro arrecadado com a capitalização da empresa praticamente já cumpriu o cronograma de irrigamento das despesas correntes. A fonte está secando. A bicicleta começa a perder velocidade.
O incidente registrado ontem à noite é lamentável do ponto de vista ético. Abandonar uma reunião é forçar a barra para pressionar os conselheiros consultivos a aprovar um projeto de gastos acima dos limites do Ramalhão.
Entretanto, se a ética foi para o espaço e se a democracia virou lixo, o resultado deve ser comemorado. Se não houver recuo por razões que a própria razão desconhece, já que Ronan Pinto exerce poder de convencimento que foge ao convencionalismo das relações interpessoais e intercorporativas, o Esporte Clube Santo André, porção que subsiste no interior do Saged, caminha para a salvação.
Sim, para a salvação, porque o modelo adotado pelo Saged de Ronan Pinto é suicida. É megalomaníaco. É um tiro no pé da responsabilidade social que o Ramalhão transpira.
O Ramalhão precisa ser reconstruído em todos os sentidos, a partir de esforço generalizado e a toque de caixa para esculpir Planejamento Estratégico para os próximos cinco anos. Sem saber para onde vai caminhar, o que poderemos ter é o incremento de uma roleta-russa.
A direção do Saged não tem nestas alturas do campeonato elementos discursivos e materiais para convencer quem quer que seja que é muito mais sensato jogar para o futuro o pagamento de obrigações tributárias do que montar um suposto time forte para as próximas competições.
Quem vem de duas gigantescas bobagens administrativas nesta temporada não merece e não pode ter a confiança de parceiros.
Primeiro, o Ramalhão que deu certo no Campeonato Paulista teve de ceder praticamente todos os jogadores a preço de banana porque os contratos que os vinculavam ao clube eram de prazo curto e de condições financeiras irrisórias quando confrontadas com os resultados em campo.
Segundo, o Ramalhão que fracassou na Série B do Brasileiro inverteu a equação com contratos longos. Agora a cessão e a liberação dos jogadores dispensáveis viraram uma tormenta, com prejuízos certos.
O grito de liberdade de dirigentes e conselheiros do Esporte Clube Santo André que resistem no organograma do Saged é o melhor acontecimento esportivo deste segundo semestre no futebol do Grande ABC. O mandonismo e o coronelismo de Ronan Maria Pinto são contraproducentes à segurança e à estabilidade de uma agremiação que, mesmo abandonada pelos torcedores, faz parte do patrimônio cultural de Santo André e do Grande ABC.
Só foi possível transformar o Ramalhão em quintal de entretenimento de alguns, misturado com um fracassado projeto empresarial, porque faltou reação coordenada e responsável de conselheiros deliberativos e de dirigentes do Esporte Clube Santo André, além de juízo dos sempre dóceis acionistas do Saged. Sem um ambiente crítico e fiscalizador, Ronan Pinto nadou de braçadas.
A ameaça de renúncia da direção do Saged, conforme consta do material jornalístico do Diário do Grande ABC de hoje, o mesmo Diário do Grande ABC do qual Ronan Pinto é o presidente, é uma forma de pressão abusada que visa a tentar transferir responsabilidades a terceiros caso o brinquedinho não continue a ser manipulado.
O Ramalhão está onde está porque a direção do Saged extrapolou todos os limites administrativos. O figurino empresarial esboroa sob a gestão de Ronan Pinto. O modelo esportivo também. O Ramalhão precisa ser refundado antes que afunde de vez.
Tomara que o Diário do Grande ABC de amanhã ou dos próximos dias não seja utilizado para divulgar a pior de todas as notícias que o Ramalhão poderia patrocinar: um acordo de bastidores para superar o mal-estar de ontem à noite. Antes o mal-estar passageiro do que o desfiladeiro contínuo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André