Esportes

Saged recebe Ramalhão sem
dívida e abre buraco imenso

DANIEL LIMA - 09/12/2010

O Diário do Grande ABC dos últimos tempos tem contextualizado informações sobre o Clube dos Prefeitos com muito mais responsabilidade social, porque aponta a inoperância desse organismo supostamente de integração regional. Entretanto, quando o assunto é futebol, segue pecando. O Ramalhão é prova disso.


Para quem não sabe, Ramalhão é a identidade do futebol da cidade, administrado pelo Saged, empresa privada, depois que o Esporte Clube Santo André resolveu terceirizar a gestão da equipe que o representou durante quatro décadas. E que continua a representá-lo oficialmente porque nenhuma instância esportiva reconhece o Saged. Reconhece apenas o EC Santo André.


Para que não haja sustentação de campanha mesmo que dissimulada de que o Ramalhão só foi transferido ao Saged porque o Esporte Clube Santo André acumulava dívidas monumentais e encontrou na privatização da equipe a salvação da lavoura, vai uma explicação sucinta: o Saged recebeu uma equipe zero quilômetro. Não assumiu um naco sequer de responsabilidade financeira do EC Santo André que, até hoje e por muito tempo, seguirá cumprindo compromissos com credores. O Santo André abriu mão do Ramalhão em favor do Saged porque precisava de recursos financeiros para dar passos mais seguros. Estava cansado de idas e vindas ditadas por contextos extrafutebol.


Em suma, o repasse do Ramalhão tornou-se negócio da China para o Saged, porque além da representação oficial do futebol da cidade, então na Série B do Campeonato Paulista e na Série B do Campeonato Brasileiro, possibilitou a capitalização com a venda de cotas, cujos valores se aproximaram de R$ 10 milhões (tudo para a conta corrente do Saged) e estoque de jogadores avaliado em R$ 18 milhões. O EC Santo André entregou ao Saged ninhada de jogadores de base preparada minuciosamente durante vários anos pelo então presidente Jairo Livolis. Saíram dali várias revelações.


Por isso tudo e por muito mais, não tem a objetividade, a clareza, o cuidado e muito mais a seguinte declaração de Romualdo Magro Júnior, vice-presidente do Saged, ao Diário do Grande ABC desta quinta-feira:



  • ”Ao assumirmos o futebol, os tributos e as dívidas (da antiga administração) eram bem superiores ao que hoje acontece. Providenciados (sic) acordos que puderam ditar os rumos do nosso trabalho. Isso (os números) é histórico. É coisa de muito tempo atrás. Diria que demos uma organizada. Agora, procuramos compatibilizar ao máximo as receitas e as despesas para que tudo seja sanado na hora certa. Que ele (Celso Luiz) não se preocupe. Sabemos como honrar nossos compromissos”, defendeu-se Magro Júnior.

A reportagem publicada pelo Diário do Grande ABC sob o título “Dirigente rebate críticas de Celso Luiz de Almeida”, vai em direção oposta às declarações do presidente do Esporte Clube Santo André que, semana passada, ouvido pelo mesmo jornal, manifestou-se de forma clara, objetiva, educada e conciliatória, embora, para desgraça de quem só aprecia bajuladores, com a firmeza de quem tem responsabilidade à frente da agremiação poliesportiva.


Tudo ocorre porque Celso Luiz de Almeida exige, com o respaldo da diretoria do Esporte Clube Santo André, que o Saged cumpra compromissos fiscais e diferentes encargos que contraiu nos últimos tempos. Celso Luiz de Almeida enviou uma carta ao presidente do Saged, Ronan Maria Pinto, alertando sobre a possibilidade de reter parte dos recursos que a Federação Paulista de Futebol encaminha aos clubes a título de pagamento de transmissão de jogos pela TV. Nada mais sensato. A direção do Saged deixou intempestivamente uma reunião realizada semana passada quando o assunto foi colocado à mesa, porque quer tudo, menos pagar impostos.


A empresa que surgiu para tratar o futebol do Santo André como negócio não tem apetite para discutir o negócio do futebol como empresa.


As informações de Romualdo Magro Júnior ao Diário do Grande ABC de hoje induzem o leitor a acreditar que a direção do Esporte Clube Santo André deixou herança maldita ao Saged. Nada mais impreciso. Quem fez — repito quantas vezes for necessário — um negócio da China foi o Saged, que, de forma arrogante, tem ignorado solenemente todos os acionistas e principalmente o Esporte Clube Santo André ao protelar prestação de contas.


No fundo, no fundo, o que se pretende é manipular os fatos e entregar um abacaxi enorme à direção do Esporte Clube Santo André. Que abacaxi? O Ramalhão endividado até o pescoço e fora do circuito de potencialidade de receitas especiais da Série B do Campeonato Brasileiro, depois da queda para a Série C. O segundo semestre do ano que vem promete ser indigesto às finanças do Saged. Que o Santo André se cuide.


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