Esportes

O que esperar do trio regional na
Série A do Campeonato Paulista

DANIEL LIMA - 14/01/2011

Santo André, São Bernardo e São Caetano dividem e também multiplicam pela primeira vez na história a atenção do Grande ABC na Série A do Campeonato Paulista. Nunca tivemos a oportunidade de ver as três equipes na elite do futebol do Estado. E a rodada inaugural neste final de semana é desafio para quem quer projetar a campanha das equipes da região.


Prefiro ficar em cima do muro. Não vou me arriscar a previsões que nas quatro linhas os acasos costumam contrariar. Sim, porque previsibilidade no futebol carrega elevado potencial de tiro no escuro.


Principalmente quando envolvem equipes de porte médio, sujeitas a chuvas de contusões e tempestades de expulsões, além de contratempos no campo gerencial.


Já entre os grandes, exatamente por serem grandes, e levando-se em conta a fórmula de disputa, é muito mais que improvável que terminem a primeira fase da competição fora da classificação aos mata-matas. Agora são oito vagas, não mais as quatro tradicionais, mais estreitas e portanto mais competitivas.


O melhor mesmo é torcer para que nenhuma equipe da região seja rebaixada à Série B da próxima temporada. O egocentrismo regional, muito maior que a autoconfiança, dispositivo permeável a contrapesos, provavelmente vai entender essa mensagem como catastrófica.


Pura bobagem. Seria rotulado de louco quem dissesse na abertura da competição que o Santo André deveria disputar a Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado mais preocupado em não cair do que em chegar à Série A, depois de conquistar o vice-campeonato paulista. Somente após algumas rodadas comecei a levantar a lebre da inquietação. O desmanche foi fatal porque a maioria dos adversários viveu situação completamente oposta, de reforço das equipes do primeiro semestre. O Santo André pagou muito caro pelo sucesso.


Resta saber até que ponto o Santo André está emocionalmente recuperado do rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro.


Houve muitas dispensas e contratações, mas a contaminação depressiva permanece por muito tempo entre dirigentes e membros da Comissão Técnica. Quem já passou pela experiência de descenso sabe que o esquecimento só é possível mesmo com série de vitórias em nova competição. Um mal começo pode botar tudo a perder.


Não seria a renovação do calendário gregoriano e a mudança do calendário esportivo que provocariam esquecimento automático de trauma recente.


Para começo de conversa, o Santo André deveria parar de viver do passado. Estou cansado de ler que o Ramalhão vai disputar nesta temporada o título de vice-campeão paulista do ano passado. Quanto exagero! Aquilo são águas passadas que já não movem moinhos no gramado.


Tudo bem que ficou na história e deve ser sempre rememorado, nos momentos oportunos, o grande feito daquela equipe realmente fantástica que, não fosse o Santos, teria encantado muito mais o público paulista e brasileiro. Mas agora são outros quinhentos. Aliás, bem outros quinhentos. O que está na lembrança da maioria é o rebaixamento no Brasileiro.


Já o São Caetano, que oscilou demais na Série B do Campeonato Brasileiro após um Campeonato Paulista discreto no ano passado, parece estar readquirindo o equilíbrio estrutural dos bons tempos.


A manutenção de boa parte de um grupo de jogadores que comprovaram qualidade na temporada passada e a chegada de reforços que parecem talhados para dar mais empuxo à equipe elevam perspectivas às alturas. Mas é sempre providencial recomendar cautela. Nem sempre a teoria se confirma na prática.


O debutante São Bernardo, sensação dos últimos anos ao subir seguidamente de divisão, vem com série de reforços indicados por uma comissão técnica mantida da última temporada. O peso da inexperiência na competição que, mesmo os atletas mais experientes, acabam por denunciar, talvez seja o principal ponto a ser contornado.


Há estatísticas mortais que sustentam a Síndrome de Debutante. Os quatro times que subiram no ano passado à Série A do Paulista foram igualmente rebaixados. No Campeonato Brasileiro da Série A também há incidência elevada de quedas imediatas de vitoriosos na Série B.


Não me arriscaria a qualquer prognóstico enfático sobre o futuro do Grande ABC no Campeonato Paulista. Os furos no mundo da bola são muitas vezes inexplicáveis, por mais que as estatísticas assegurem que a bola não entra por acaso.


O problema dos times médios e pequenos é que investem recursos financeiros semelhantes, são muito parecidos tecnicamente e remetem por isso mesmo os resultados ao campo do imponderável. Nas grandes forças técnicas e estruturais o grau de risco é proporcionalmente menor que nos pequenos e médios. Aliás, é por isso que há clubes grandes, médios e pequenos.


Por isso uma grande equipe só é rebaixada por conta de acúmulo exagerado de incompetências.


Por isso uma média ou pequena equipe só consegue sucesso retumbante, como o Santo André do ano passado, mediante somatório fantástico de acertos.


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