Criei metodologia para quantificar até que ponto numa competição em turno único classificatório, como é o caso da Série A do Campeonato Paulista, é possível atribuir pesos diferenciados às equipes que lutam por uma das oito vagas. Tomei os três times da região como referências. Cheguei à conclusão que o São Bernardo leva grande vantagem sobre o Santo André e o São Caetano.
O que significa levar vantagem? Que em igualdades de condições técnicas, o chamado Tigre tem mais possibilidades de classificação que o Ramalhão e o Azulão.
Sei que haverá chiadeira, mas a abordagem é respaldada por critérios que me parecem inquestionáveis, exceto a carga de subjetividade própria de um esporte onde a bola não entra por acaso quando os competidores que buscam o título são comprovadamente mais fortes que os demais, mas que pode entrar por acaso sim se há semelhanças de forças.
Contrariando tudo o que fui na infância, de aversão à matemática, desde que me meti no jornalismo econômico passei a me encantar com números, processos, planejamentos, essas coisas. Fica a critério dos leitores levarem a sério ou não esse trabalho. Estou certo de que vale a pena ir até o final deste texto. A experimentação vale para qualquer equipe. Fixei-me do trio regional por razões óbvias.
1. Definição dos valores de risco
O primeiro ponto sobre o qual fiz girar elucubrações assentou-se em critérios que pudessem definir o grau de risco de cada jogo das equipes da região. Foi aí que defini algo que me pareceu simples: os grandes times paulistas representariam grau máximo de 10 pontos de risco, as médias equipes grau de sete pontos e as pequenas agremiações, grau de cinco pontos.
Quando percebi que leitores poderiam questionar a conceituação, porque não distinguiria jogos em casa e jogos fora de casa, tratei de completar a tarefa qualitativa: os grandes valem 10 pontos de risco em qualquer lugar, os médios valem sete pontos quando jogam em casa e cinco quando jogam fora e os pequenos cinco pontos quando jogam em casa e dois quando jogam fora.
Desta forma, tratei de definir os três agrupamentos, que passaram a ser os seguintes:
a) Grandes equipes — Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos.
b) Médias equipes — Bragantino, Ponte Preta, Portuguesa, Grêmio Prudente e Americana (ex-Guaratinguetá).
c) Pequenas equipes — Botafogo de Ribeirão Preto, Ituano, Mirassol, Mogi Mirim, Noroeste de Bauru, Paulista de Jundiaí, Linense e Oeste de Itápolis.
O que me moveu na direção de qualificar as equipes em três grupos não foi o ranking histórico, mas a atualidade.
Os grandes paulistas são os grandes paulistas, independente de qualquer critério. Além disso, todos estão na Série A do Campeonato Brasileiro.
As médias equipes disputam a Série B do Campeonato Brasileiro.
E as pequenas equipes estão fora do calendário mais importante da Confederação Brasileira de Futebol o que, em tese, reduz o potencial de fortalecimento técnico.
2. Divisionismo da competição
Como a fase classificatória do Campeonato Paulista não é disputa uniforme, iniciada que foi no último final de semana após o período de férias regulamentares dos profissionais do futebol, dividi os 19 jogos em três etapas interdependentes.
a) Fase de Estruturação — Envolve os sete primeiros jogos, quando as equipes vão se organizar com contratações anunciadas, dispensas efetivadas e condicionamento físico e tático em processo de maturação. Coincidentemente, esses sete jogos também serão disputados às quartas-quintas e sábados-domingos.
b) Fase de Consolidação — Trata-se de nova etapa de sete jogos entre os 19 na competição. Nessa fase, as equipes deverão estar assentadíssimas. Fatores físicos, técnicos e táticos já deverão ter sido avaliados e superados.
c) Fase Decisiva — São os cinco jogos finais, a reta de chegada, a corrida pelo ouro da classificação. Um momento que dispensa maiores considerações.
3. Graduação dos riscos
Aparentemente, apenas aparentemente, há equilíbrio entre as três equipes da região quando se somam os riscos de cada jogo. Sem contar os três clássicos regionais, todos com peso 10, o São Caetano totalizou 98 pontos de risco, contra 97 do Santo André e 96 do São Bernardo. A diferença é tão escassa que poderia sugerir igualdade. Mas vamos provar que não é bem assim.
Quando hierarquizei o peso que envolve grandes, médias e pequenas equipes em jogos dentro e fora de casa, a decisão não foi aleatória. Está fundamentada em estatísticas.
Em qualquer lugar do planeta bola a regra é que as equipes mandantes têm sempre mais possibilidades de vencer do que as visitantes. Os fatores são múltiplos, desde arbitragens caseiras à maior intimidade com o campo de jogo.
Chamar a força da torcida é dispensável. Principalmente os árbitros são sempre mais condescendentes com os times da casa. O mesmo lance no interior de uma área e de outra área geralmente tem interpretação diversa. A pressão da torcida sempre interfere.
Quando se tratam de confrontos contra grandes equipes, não há peso diferenciado de risco. Definir por risco 10 foi a melhor solução. O peso da camisa, o peso dos investimentos, o peso da arbitragem, o peso de tudo que influencia um resultado, são na maioria dos casos favoráveis ao time grande.
Já os times médios quando jogam em casa exercem risco de peso sete aos visitantes.
Os times pequenos pesam um pouco menos, cinco pontos de risco.
Fora de casa os times médios pesam tanto quanto os times pequenos que jogam em casa e os times pequenos pesam apenas dois pontos na escala de risco.
Não é a mesma coisa jogar em casa com o Corinthians, com a Ponte Preta e com o Noroeste de Bauru.
Também não é a mesma coisa jogar fora de casa contra o Palmeiras, contra a Portuguesa e contra o Ituano.
É por esses exemplos e tantos outros que estabelecemos valores de acordo com o porte de cada adversário.
4. Diferenças entre o trio regional
Fundamentadíssima a alquimia que rege essa metodologia, partimos para o confronto entre as três equipes do Grande ABC para chegar à conclusão que o São Bernardo está em lua-de-mel com a tabela da competição.
Para que essa verdade ganhe substância, é preciso que os leitores tenham a mesma interpretação deste jornalista: é melhor jogar mais jogos em casa contra equipes pequenas, de risco dois, do que enfrentar essas mesmas equipes fora de casa, de risco cinco. E é também muito melhor jogar fora de casa o máximo possível contra uma das quatro grandes equipes, porque o risco, em casa ou fora, será sempre de nível 10. E é melhor também jogar menos vezes em casa contra equipes médias do que jogar no campo adversário.
Não esqueçam que estamos tratando de uma competição em turno único. Não tem volta.
A combinação perfeita para quem quer ser beneficiado por uma tabela classificatória é jogar mais vezes com os grandes fora de casa, mais vezes com os médios fora de casa e mais vezes com os pequenos dentro de casa.
Adivinhem os leitores quem está dentro desse figurino?
Se respondeu São Bernardo, acertou na mosca.
Dos 17 jogos que fará na competição (sem contar os dois clássicos regionais), o São Bernardo atuará em casa apenas um contra time grande (Corinthians, dia 30), dois contra médias equipes e cinco contra pequenas equipes. Total de risco dentro de casa: 30 pontos.
O Santo André soma 43 pontos de risco dentro de casa porque enfrentará dois dos quatro grandes, três vezes contra cinco dos times médios e quatro vezes contra o bloco de oito times pequenos.
O São Caetano chegou a 46 pontos de risco dentro de casa porque enfrentará duas das quatro equipes grandes, quatro das cinco médias e apenas três das oito pequenas.
Conclusão: se souber aproveitar em casa as vantagens da tabela, o São Bernardo poderá construir classificação histórica à fase de mata-matas.
O outro lado da moeda é que, beneficiado com jogos em casa, o São Bernardo terá ossos duros de roer mais complexos fora de casa. Tanto que soma 66 pontos de risco, mais que o dobro dos jogos em casa. O Tigre vai enfrentar como visitante três dos quatro grandes, três dos cinco médios e três dos oito pequenos.
O Santo André soma 54 pontos de risco em jogos fora de casa na fase classificatória porque jogará duas vezes contra grandes, duas vezes contra médios e quatro vezes contra pequenos.
O São Caetano está na pior fora de casa, sem beneficiar-se dos jogos em casa, porque soma 52 pontos: dois jogos contra grandes, apenas um contra médios e cinco contra pequenos.
5. Gargalos entre as fases
Não bastasse a combinação de jogos em casa e fora de casa, o São Caetano poderá sofrer efeitos da Fase de Estruturação, a primeira das três microetapas da competição. Exatamente no período de sete jogos mais intensos da competição, quando a tabela o favorece, o São Caetano estará em arrumação, longe de uma obra acabada. Se não somar nos primeiros sete jogos o máximo possível de pontos, poderá dar com os burros nágua porque as fases seguintes serão terríveis. Na Fase de Consolidação jogará três vezes em casa e quatro fora. Dois jogos em casa são contra equipes grandes (São Paulo e Palmeiras) e uma média (Portuguesa). Os quatro jogos fora serão contra equipes pequenas. Chegar à Fase Decisiva sem fôlego classificatório e ainda tendo de enfrentar dois clássicos regionais, além do Corinthians, não seria nada confortável.
A Fase de Estruturação será mais pesada tanto para o São Bernardo como para o Santo André, que disputarão três jogos em casa e quatro fora. Dos três em casa, um será contra grande equipe: o São Bernardo contra o Corinthians e o Santo André contra o Santos. Na Fase de Consolidação o São Bernardo jogará quatro em casa e três fora. Das três partidas fora de casa, duas são contra Santos e Palmeiras. Já o Santo André, que também disputará quatro jogos em casa e três fora, terá Palmeiras e São Paulo também fora de casa. Como se observa, São Bernardo e Santo André terão Fase de Consolidação muito mais vantajosa que o São Caetano.
Na Fase Decisiva, os três clássicos regionais podem ejetar as equipes da região do bloco dos oito primeiros colocados, caso não acumulem pontos suficientes para reduzir a margem de risco. Além do clássico com São Bernardo e Santo André, o São Caetano enfrenta o Corinthians, entre os cinco jogos. O São Bernardo enfrenta a Portuguesa fora de casa e o Santo André em casa. Como se observa, vão ser suadíssimos os 15 pontos que cada equipe disputará na Fase Decisiva.
A confluência de jogos do Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Taça Libertadores da América poderá facilitar a vida das equipes que têm calendário menos desgastante. Enfrentar Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos em condições de acavalamento de compromissos poderá fazer a diferença. Resta saber quem se beneficiará.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André