Ainda é muito cedo para sentenças definitivas — afinal, foram disputadas apenas quatro rodadas da Série A do Campeonato Paulista — mas como não sou de fugir da luta e mesmo correndo o risco de ser desmascarado pelos fatos, diria que o São Bernardo é uma equipe bonitinha mas ordinária, que o São Caetano é um amontoado de bons jogadores com amplas possibilidades de recuperação e que vou esperar até ver a gravação do jogo de ontem contra o Mirassol para buscar uma imagem que transpire a realidade dos fatos que envolvem o Santo André.
Se disserem que estou sendo provocativo com o São Bernardo do técnico Rui Scarpino, que estou sendo condescendente com o São Caetano do interino técnico Márcio Griggio e que estou em cima do muro com o Santo André do técnico Pintado, responderia o seguinte: não costumo ficar em cima do muro. Mais que isso: tenho por hábito abrir a boca apenas quando tenho absoluta certeza.
Está certo que parafraseio uma peça do anedotário televisivo, mas, falando sério, diria que ficaria muito irritado comigo mesmo se estivesse trocando os pés da observação jornalística exigida pela curiosidade dos leitores pelas mãos da precipitação analítica.
O que quero dizer com um São Bernardo organizadinho mas ordinário é o seguinte: o técnico Rui Scarpino montou um time que transmite a sensação de que todas as peças estão nos devidos lugares, com quarto zagueiros, três volantes, um organizador e dois atacantes velozes. O problema está na qualidade do material.
Os zagueiros de área do São Bernardo são lentos e toscos, os volantes não têm mobilidade e preenchem mal e porcamente as áreas mais ofensivas, o organizador Júnior Xuxa fica sobrecarregado e os atacantes Nena e Danielzinho ensaiam o tempo todo uma grande jogada, dão a impressão de que vão desabrochar, mas sempre morrem na praia. Chutam pessimamente a gol. São inexperientes demais para as responsabilidades de uma Série A. Quando a reta de chegada aparecer, tudo indica que a tremedeira será maior.
Talvez tudo isso venha a ser duramente demolido num ou noutro jogo de inspiração suprema de algumas individualidades, mas uma competição de pontos corridos, mesmo em turno único, não é prova de 100 metros rasos. Muitas vezes é melhor que um jogador inacabado siga errando e deixe a equipe do que engane o distinto público com um ou outro gol espetacular que o sustentará titular.
A derrota de ontem em casa para o Oeste de Itápolis mostrou o quanto o Tigre é vulnerável quando o adversário toma a iniciativa de contragolpes e quando o adversário usa a velocidade para embaralhar a marcação de um meio de campo lento e de um miolo de defesa inseguro. E também quanto os laterais, embora com qualidades técnicas, são previsíveis no receituário muito bem preparado em treinamentos.
A previsibilidade do São Bernardo lembra colegiais que decoraram muito bem a lição e torcem para que a professora não invente de mudar a ordem dos questionamentos. O São Bernardo não parece preparado para o imprevisto. Tanto que se desmanchou depois do primeiro gol do Oeste ontem no Estádio de Vila Euclides.
O time-elenco do São Bernardo é o mais equilibrado das equipes da região no Campeonato Paulista, mas isso não significa muita coisa porque a estatura média de qualificação está mais para a parte debaixo da tabela.
Tudo indica que a manutenção da vaga na Série A será um grande desafio. Tomara que esteja enganado, mas o melhor mesmo é a direção do Tigre tratar de pensar seriamente em somar pontos para não cair. Vida de debutante é sempre dura. Nem sempre a realidade projetada é a realidade encontrada. Há fossos técnicos, táticos e culturais que separam as divisões do futebol. Quem ousar contrariá-los com empáfia, cai do cavalo. Vejam as estatísticas da Série A do Campeonato Brasileiro e verifiquem como as equipes menos tradicionais são apeadas rapidinho da competição.
Já o São Caetano que empatou com o Santos mostrou que tem tudo para evoluir na competição, sobretudo porque conta com bons jogadores e uma tradição vitoriosa a partir do final dos anos 2000.
Um meio de campo formado por Souza, Ricardo Conceição e Augusto Recife não é pouca coisa, completando-se com Ailton. À frente, Luciano Mandi e Vandinho também não são atacantes disponíveis em qualquer equipe. A defesa do ano passado, reposta por Márcio Griggio, compensa limitações individuais com entrosamento.
O drama do São Caetano foi o choque de três derrotas consecutivas na competição. O abalo emocional é intenso. Mas o empate com o Santos mostrou capacidade de reação que, evidentemente, não pode limitar-se a uma disputa com um adversário que atrai audiência.
Ao contrário do São Bernardo, organizadinho mas ordinário, o São Caetano é um desorganizadinho pronto para decolar. Basta o grupo não perder a humildade e encarar todo adversário como se o Santos fosse.
Os erros individuais e os buracos táticos são passivos corrigíveis com treinamento e estabilidade emocional. O campeonato é curto, é verdade, mas é muito mais curto para quem não consegue respostas técnicas e táticas por escassez de talentos.
O São Caetano é uma equipe de nível médio que está na classificação muito abaixo do potencial exploratório de pontos. O São Bernardo parece um pouco acima no quadro classificatório em relação ao potencial do grupo de jogadores. Do Santo André escrevo outro dia, mas me parece de peso intermediário num confronto com os dois rivais da região. Ou seja: nem é tão organizadinho mas ordinário nem tão desorganizado mas com potencial inequívoco. Vamos conferir.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André