Esportes

Mais de um século para subir e
apenas uma temporada para cair?

DANIEL LIMA - 31/01/2011

Desde que o futebol chegou ao Brasil — e isso já faz mais de um século — o Grande ABC disputa o principal campeonato estadual pela primeira vez com três representantes. E será que justamente nesse mesmo ano vamos descer todos, vamos voltar à Série B no atacado, depois de subir lentamente, no varejo?


Não acredito, não acredito, não acredito, mas que estamos flertando com o perigo, não tenham dúvidas. Disputadas cinco rodadas, 45 pontos, só ganhamos 11, o que dá índice de aproveitamento de 24%. Baixíssimo. De zona de rebaixamento. Ainda tem muito água a rolar sob a ponte, mas não custa reagir rapidamente, porque 19 rodadas passam voando.


Por falar em ponte e em reação, lembro do São Caetano, agora de técnico novo, Ademir Fonseca, egresso do Oeste de Itápolis. Os dois jogos desta semana do Azulão, quinta contra o Grêmio Prudente e domingo contra o Paulista, no Anacleto Campanella, poderão repor a lógica e a equipe, de imediato, fugir das últimas colocações.


Os dois pontos ganhos em 15 disputados seriam desesperadores se o São Caetano não contasse com o elenco qualificado e se os dois últimos jogos fora de casa, contra o quase imbatível Santos e uma Ponte Preta em franca evolução, não revelassem uma equipe organizada defensivamente, apesar do ônus emocional que agride quem se situa nas últimas quatro posições na classificação.


O zero a zero de sábado em Campinas foi um empate-vitória. O São Caetano do interino técnico Márcio Griggio jogou o tempo todo como o fez contra o Santos, só que agora com mais estabilidade: marcou o adversário, bloqueou o meio de campo e fez dos contragolpes arma sempre inquietante. Contra o Santos enfiou três gols e contra a Ponte cautelosa, embora ofensiva, as oportunidades foram raras. O São Caetano não é um time qualquer que mesmo uma Ponte, após empatar com a Portuguesa e vencer o São Paulo fora de casa, subestimaria. O técnico Gilson Kleina não deu sopa. Preferiu um ponto em casa do que três em São Caetano.


A contratação do técnico Ademir Fonseca tem tudo para ser chute certeiro em direção à completa reorganização do São Caetano. Esse ex-jogador do Santo André e do São José chega numa equipe mais inclinada ao restabelecimento emocional e também arrumada defensivamente, com a recomposição da defesa da temporada passada e um trio de volantes com técnica para participar do jogo ofensivo, casos de Ricardo Conceição, Augusto Recife e Souza. Uma soma de virtudes muito acima do que se encontra no setor na maioria das equipes da Série A do Paulista.


Agora caberá ajustar o sistema ofensivo, repleto de opções. E que contará com reforços importantes como Walter Minhoca e Antonio Flávio. O problema do São Caetano não é time nem elenco. Ainda é tático e emocional. Marcio Griggio, com suporte diretivo, iniciou reviravolta. Ademir Fonseca, especialista em agregar jogadores em torno de objetivo de vitórias, possivelmente comprovará o acerto da contratação.


Nada melhor que evocar o passado recente para dar à direção do São Caetano uma nota alta em matéria de contratação do treinador. Ademir Fonseca salvou o Vila Nova de Goiás do rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro do ano passado. Quando ele chegou à Goiânia o Vila Nova havia disputado 16 jogos e conquistado apenas 8 pontos (16,66% de aproveitamento). Nos 22 jogos sob seu comando, o Vila Nova ganhou 38 pontos, aproveitamento de 57,75% no período. Com esse índice extensivo a todo o campeonato, o Vila Nova teria alcançado a Série A, já que esse foi o resultado do terceiro colocado, o Bahia.


Quanto ao Santo André, o empate-derrota de sábado contra o Ituano, num Estádio Bruno Daniel que virou piscina no primeiro tempo por conta da chuva, o que impressiona é a indecisão tática de Pintato. O treinador mudou completamente o sistema ofensivo com dois grandalhões (Nunes e Codó) lentos e pouco técnicos. Trocou um time de maior mobilidade de jogos anteriores por experimento pragmático, de bolas alçadas na área. Não deu certo e o time só melhorou depois de retomar o desenho anterior.


O empate foi péssimo porque, além de jogar em casa contra um dos times considerados pequenos da competição, remeteu a organização tática da equipe à zona de penumbra da desconfiança. O meio de campo continua vulnerável demais e o ataque, sem o negociado Richely e com Borebi no banco durante quase todo o tempo, é um convite à mesmice. Menos mal que Aloísio quebra a rotina com jogadas agudas de penetração.


Já o São Bernardo conseguiu um empate-empate com os reservas do Corinthians jogando como se final de Copa do Mundo fosse. O time não revelou nenhuma novidade tática, apesar de mudanças individuais do técnico Rui Scarpino: os laterais se projetam com vigor, mas a dupla de zagueiros é confusa demais e o meio de campo não tem imaginação. Principalmente quando o maior talento, Júnior Xuxa, simplesmente desaparece, apesar do gol no começo do jogo. Dos atacantes, Danielzinho é o mais esperto, mas ainda mistura lances de craque com ensaios de peladeiro.


O resultado do São Bernardo contra um adversário forte individualmente mas sem o menor conjunto poderia ter sido melhor, depois de estar à frente no placar duas vezes. A síndrome de recém-saído da Série B parece rondar a equipe. Talvez seja essa a maior preocupação para quem joga cada partida para fugir do rebaixamento.


A Fase de Estruturação do Campeonato Paulista, formada pelas sete primeiras rodadas de jogos às quartas e domingos, termina nesta semana. Os dois jogos que aguardam cada equipe poderão oferecer diagnóstico mais preciso do que poderá vir a seguir, na Fase de Consolidação e na Fase Decisiva.


Deixar para as últimas rodadas a definição classificatória, tanto para improvável participação nos mata-matas, quanto de fuga do descenso, não é uma boa pedida para o futebol do Grande ABC. Afinal, justamente para três das últimas cinco rodadas estão reservados os clássicos regionais. Poderemos ter um deus-nos-acuda.


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