Encerra-se neste final de semana a Fase de Estruturação da Série A do Campeonato Paulista, conforme batizei o período de sete jogos iniciais, às quartas e domingos. Tudo indica que poderemos ter duas equipes da região — Santo André e São Bernardo — na zona de rebaixamento. Aliás, o Santo André já está. O que isso significa? Que temos de correr muito para não terminar a competição com um ou dois abates no ranking.
Já tenho mais ou menos definidos os conceitos sobre nosso trio, embora ainda haja margem a mudanças. Uma ou duas contratações de peso podem alterar os rumos dos acontecimentos.
Fosse dirigente do São Bernardo, correria em busca de dois atacantes experientes.
Fosse dirigente do Santo André, arrumaria voando um meio-campista defensivo já rodado. Improvisações à frente da zaga custam caro.
Fosse dirigente do São Caetano, rezaria para não perder por contusão nenhum dos bons volantes e também para que Walter Minhoca e Antonio Flávio ganhem condições para correr os 90 minutos.
A reação do São Caetano, ensaiada na vitória de ontem contra o Grêmio Prudente, já era esperada. Recolocado no eixo o fator emocional, agora resta ao técnico Ademir Fonseca serenidade para identificar as características individuais de que dispõe e as alternativas táticas que se lhe oferecem.
Por exemplo: Ademir Fonseca não pode lançar a equipe à própria sorte como ontem à noite, ao deixar o banco de reservas sem um único volante. Sem Flávio Conceição contundido e desfalcado no intervalo de Augusto Recife, que sofreu problema físico, Ademir Fonseca fez a pior das improvisações possíveis: deslocou o lateral Arthur para o meio da zaga, montando um sistema com três zagueiros, e escalou o experiente Paulo César na lateral. Com isso, alterou todo o sistema defensivo e de meio de campo. Com tamanha mexida, o Grêmio Prudente passou a dominar o jogo, revertendo a completa pressão no primeiro tempo.
O São Caetano passou o segundo tempo tentando se arrumar com a saída de um volante e a desnecessária introdução de um terceiro zagueiro de área. Menos mal que o Grêmio Prudente não conseguiu ser contundente e que o São Caetano ao menos estabilizou o jogo nos últimos 15 minutos, mas uma vitória fácil quase se tornou empate desastroso. Sousa foi o nome do jogo.
A vantagem do São Caetano em relação aos rivais do Grande ABC é que tem tanto uma equipe quanto um elenco mais qualificados. Com isso, o treinador pode alterar o sistema tático de acordo com os adversários. Pode jogar com dois, três ou apenas um volante. Pode montar um 4-4-2, um 3-5-2, um 4-2-2-2, um 4-3-3 e tantas outras combinações. Há jogadores de características técnicas distintas que se complementam. Há centroavante trombador e centroavante técnico. Há meias-atacantes que conduzem a bola e meias-atacantes de velocidade. Há volantes mais marcadores como também há volantes que saem bem para o jogo. E uma marca de maturidade que faz a diferença nas horas de terror.
O São Caetano vai terminar a Fase de Estruturação muito abaixo do desejado após três derrotas consecutivas, mas acima de zona de risco insuperável, como insinuam os três jogos seguintes.
Não é o caso do São Bernardo, que vai terminar a Fase de Estruturação, no próximo final de semana e independente do resultado, contraindo o rosto dos dirigentes. Dois atacantes experientes é a pedida da vez. Os meninos escalados têm futuro, mas vão sofrer mais e mais com a responsabilidade de ter de garantir a permanência da equipe na Série A. Ainda mais que lhes sobram todo o peso de gols, já que o meio de campo é essencialmente destrutivo.
É verdade que o técnico Rui Scarpino faz dos laterais autênticos atacantes, mas isso tem custado contragolpes adversários, porque os zagueiros internos são lentos e o volante Dirceu já não tem a mobilidade dos bons tempos. William Favone parece ser o melhor do time. Marca, apoia e finaliza bem. Deveria contar com um pouco mais de liberdade, revezando funções ofensivas com os laterais cada vez mais manjadíssimos no apoio. Quando uma jogada se torna previsível por conta da repetitividade, diminui-se o grau de contundência.
O Santo André do técnico Pintado vem somando empate atrás de empate. Se empatar fosse bom negócio, o resultado não representaria apenas 33% dos pontos possíveis em cada jogo. Exatamente os 33% de indexador de rebaixamento. De empate em empate o Santo André vai para a Segunda Divisão. Mas não acredito nisso.
O técnico Pintado só precisa parar de experimentar em situação de normalidade dois atacantes avantajados e pouco habilidosos como Nunes e Codó. O que em regra é uma dose dupla para situações de emergência, Pintado transformou em rotina. Por isso que invariavelmente faz substituições no segundo tempo.
Aliás, o Santo André tem reagido no segundo tempo em busca de empate a partir de mudanças de Pintado. Pena que não seja coincidência: Pintado está escalando o Ramalhão de forma equivocada, sofre sempre gol do adversário e depois parte para a correção.
Um time mal escalado no primeiro tempo e bem escalado no segundo tempo, depois da porta arrombada, não é a fórmula ideal para quem tem tanta experiência como Pintado.
O Santo André sofreu o primeiro gol em todos os jogos que disputou até agora. Não é fácil sair permanentemente de situação desvantajosa.
Para completar, e antes mesmo dos jogos deste final de semana que encerram a Fase de Estruturação: se tivesse que apostar nas equipes da região, diria que o São Caetano logo-logo vai esquecer a zona de rebaixamento, que o Santo André precisa se cuidar para não cair e que o São Bernardo só tem uma saída: meter a mão no bolso e se reforçar. Mesmo com a tabela favorável, os jogos fora de casa podem fazer a diferença. O São Bernardo que tenho visto em campo não reúne o grau de maturidade técnica e tática para suportar pressão.
Na Série A, diferentemente da Série B Paulista, cada oportunidade perdida pode custar muito caro. Principalmente porque os adversários não costumam errar. Quixadá e os três gols de ontem em Bragança Paulista não me deixam mentir.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André