É isso mesmo, lamentavelmente: na oitava rodada da Série A do Campeonato Paulista, o futebol do Grande ABC continua a provocar muita preocupação. Perdemos todos os jogos e temos dois participantes (Santo André e São Bernardo) no paredão do rebaixamento. E o São Caetano, de quem se esperava a confirmação da retomada, conseguiu se superar em imprudência tática com a escalação de um time que embora tenha derrotado o Paulista na rodada anterior, já fazia água.
Ao restarem 11 rodadas para o encerramento da primeira fase, as equipes da região não têm escapatória: ou reagem ou podem bater o recorde inverso de pela primeira vez disputarem em conjunto a competição mais importante do Estado: seriam igualmente carimbadas e despachadas. Uma catástrofe.
O São Bernardo correu pelo São Caetano e pelo Santo André, mas voltou a perder. O técnico Estevam Soares já marcou presença com algumas mudanças táticas, mas não conseguirá o milagre de colocar experiência, maturidade, objetividade e discernimento em jogadores dispersivos demais, sobretudo os atacantes.
O São Bernardo desperdiça gols com a mesma facilidade com que os cria. A Ponte Preta fez um gol no começo do jogo e depois acentuou a vocação de contragolpes. Estevam Soares tentou de tudo para dar mais qualidade no passe e volume de jogo. Até que conseguiu razoavelmente, mas o São Bernardo é muito apressado, erra passes em jogadas decisivas e insiste em exagerar na dose de perder gols na pequena área.
A contratação já confirmada de um zagueiro de área com mais poder de recuperação e a necessária chegada de dois atacantes poderão dar ao São Bernardo o ajuste mínimo necessário. Sem os dois atacantes, terá de rezar.
A vaia da torcida (mais de 11 mil pessoas foram ao Estádio Primeiro de Maio) foi injusta. O time se dedicou muito a cada metro quadrado de gramado, sufocou os pontepretanos e não merecia aquele tratamento. Provavelmente o torcedor do Tigre não viu o Santo André no sábado perder para o Botafogo em Ribeirão Preto e, é claro, no mesmo horário de domingo, o São Caetano cair diante do Mirassol. Ficaria horrorizado.
O Santo André começou o jogo em Ribeirão Preto como se o Botafogo fosse o Santos da semana passada, com todo mundo na defesa. Ou quase todo mundo, já que apenas um Rychely claramente fora de ritmo e um Célio Codó aparentemente inimigo da bola ficavam à espera de algum lançamento. Desta vez a sorte não ajudou e quem fez primeiro foi o Botafogo, numa falta em que sobrou livre o zagueiro Augusto, a quem Codó deveria marcar. Antes que o primeiro tempo terminasse o Botafogo fez o segundo gol, numa bola alçada nas costas dos zagueiros.
O Santo André melhorou com Aloísio tomando o lugar de um Magno inofensivo e um Borebi muito mais ativo que um desajeitado Célio Codó, mas no todo foi um time impotente. Possivelmente foi a pior apresentação da equipe no campeonato. E olhe que isso não é pouca coisa, levando-se em conta que em oito jogos foram duas derrotas e seis empates.
Já o São Caetano que caiu diante do Mirassol foi um time sofrível no primeiro tempo, totalmente envolvido pelo adversário. Com dois atacantes (Eduardo e Vandinho), dois meias de características semelhantes (Ailton e Kleber), dois laterais imobilizados pelo apoio dos alas adversários e sempre em desvantagem no meio de campo, o São Caetano poderia ter sido goleado no primeiro tempo. Entretanto, conseguiu equilibrar o jogo no segundo tempo porque Vandinho exerceu a especialidade, mais próximo da área, beneficiado pela substituição de Eduardo por Henrique Dias. Além disso, influenciou à reação a substituição de Kleber por Paulo César, que passou a jogar de ala e Arthur de terceiro zagueiro.
A expulsão de um adversário poderia levar o São Caetano ao menos ao empate, mas o técnico Ademir Fonseca retirou um volante (Souza) que tem mobilidade para penetrar no campo inimigo e colocou um Walter Minhoca ainda sem ritmo e incapaz de dar velocidade e verticalidade ao ataque. Preferiu, com isso, manter um terceiro zagueiro e liberou de vez os alas. Mas o time não teve criatividade, tampouco velocidade, muito menos adensamento. Mesmo com um jogador a menos o Mirassol ampliou o placar e poderia ter marcado mais. Faltou ao São Caetano ontem o mesmo que ao Santo André no sábado: vibração, comprometimento, dedicação e empenho. Tudo que sobrou ao São Bernardo.
Quase na metade da competição (as oito rodadas em turno único de 19 jogos significam 42% de jogos já realizados), o melhor que as equipes da região fazem é começar a elaborar cálculos matemáticos e aritméticos. O sonho de disputar o G-8 começa a desvanecer.
Passada a Fase de Estruturação dos sete jogos iniciais e já atingindo a Fase de Consolidação, o que temos são três equipes longe de um acerto geral. Há oscilações demais.
Embora tenha sido derrotado em casa e esteja na última posição, ainda não estou convencido de que o São Bernardo vai ser eliminado no paredão em que se meteu. Insisto no fato de que a tabela lhe é bastante favorável e o técnico Estevam Soares não parece rezar na cartilha da mesmice da maioria dos treinadores.
O São Caetano deverá safar-se pela qualidade individual de jogadores, mas isso também tem limites. É preciso injetar mais ânimo e empenho no grupo. O jogo de ontem era uma espécie de batalha de ponte para definir as pretensões da equipe na competição, entre o G-8 ou o rebaixamento. O comportamento do grupo foi decepcionante. Do técnico, também. Talvez Ademir Fonseca não esteja acostumado a contar com tantas opções.
Já o Santo André precisa cair na real de que o sistema defensivo é apenas uma parte da equação, e mesmo assim não está lá uma Brastemp. Mais que isso: o setor tem sido privilegiado nas tentativas de arrumação tática e com isso sobrecarrega a formulação ofensiva. Será que o cobertor de que dispõe o técnico Pintado é curto demais?
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André