O Ramalhão (representação futebolística de Santo André na Série A do Campeonato Paulista e na Série C do Campeonato Brasileiro) vai caminhar de vez para a redenção de virar clube-empresa de verdade ou voltará ao berço de clube associativo. Do jeito que está, essa mistureba de Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), que administra o Ramalhão, e Esporte Clube Santo André (a quem cabe a representação jurídica nas esferas esportivas) não vai ficar mais.
O presidente do Saged, Ronan Maria Pinto, estipulou o encerramento do campeonato como prazo para a definição de um acordo que convirja para o que considera a única saída. Ronan quer o Ramalhão como clube-empresa que todo mundo imaginou que fosse quando há quatro anos o Esporte Clube Santo André repassou o futebol para o Saged. Há resistências veladas entre dirigentes do Esporte Clube Santo André, que sonham com a retomada do futebol. Loucura pura, até que se comprove o contrário.
Tudo isso e muito mais foi debatido ontem à noite no Hotel Plaza Maior, em Santo André. Acionistas do Saged lá estiveram durante duas horas. O Ramalhão não tem futuro sem mudanças do modelo de gestão. A experimentação da fórmula Saged-ECSanto André provocou trombose financeira e desequilíbrio esportivo. A derrocada do Ramalhão nos campos de jogo está ameaçada de não ter alcançado ainda a profundidade máxima: depois de cair para a Série C do Brasileiro, que significa ostracismo nacional, agora a complicação está no Campeonato Paulista. Cair para a Série B seria um segundo e sofrido chute nos fundilhos.
Não vou me ater ao passado recente dessa equação que acabou dando com os burros nágua, até porque já escrevi bastante sobre o assunto.
A tentativa de Ronan Maria Pinto atribuir parte da responsabilidade do fracasso do modelo Saged à parceria com o Esporte Clube Santo André não é algo que se deva levar a sério, porque o dirigente teve toda a liberdade do mundo para fazer o que bem entendeu à frente do Ramalhão.
Mas é altamente consistente a premissa do mesmo dirigente quanto ao impedimento de investidores nacionais e internacionais que estariam com os olhos e o coração voltados ao Ramalhão. Eles não viriam mesmo para participar do Ramalhão se uma nova sociedade jurídica não for erigida, com todos os direitos de clube-empresa.
Isso significa que, sobre o que resultar das possíveis negociações (algo como uma nova denominação, Grêmio Santo André, por exemplo) eles terão controle dentro e fora de campo.
O presidente do eventual Grêmio Santo André seria o representante legal do clube-empresa nas esferas esportivas. Hoje o presidente Ronan Maria Pinto não participa oficialmente de reuniões na Federação Paulista de Futebol e na Confederação Brasileira de Futebol. O presidente do Esporte Clube Santo André, Celso Luiz de Almeida, é quem tem essa prerrogativa.
Investidores não viriam mesmo para o Santo André sem ter a segurança de que fariam valer todos os seus direitos. Por mais que a direção do Esporte Clube Santo André tenha feito para tornar a engrenagem do Ramalhão livre de complicações, haverá sempre a desconfiança de terceiros menos afeitos ao relacionamento histórico de que poderiam sofrer contratempos.
É mais que provável, é quase certo, que o Ramalhão terá o mesmo formato jurídico, ou algo semelhante, do São Caetano e do São Bernardo. Não existe outra saída mesmo — e nesse ponto Ronan Maria Pinto tem razão outra vez — se o objetivo for competir para valer.
Para recomeçar uma trajetória modesta, de reconstrução da casa arrasada, o Ramalhão que seria administrado pelo Esporte Clube Santo André levaria pares de ano. E mesmo assim não conseguiria fugir de uma plataforma pouco resistente de modo a manter-se equilibradamente entre os times médios do futebol brasileiro. É por essas e outras razões, aliás, que o Esporte Clube Santo André repassou o Ramalhão ao Saged, numa situação de menor gravidade esportiva, econômica e institucional.
Ainda vou escrever muito sobre o novo cenário do Ramalhão, no contexto de optar para valer pelo desenho de clube-empresa e também do contraponto de clube associativo.
Sou amplamente favorável ao gerenciamento capitalista de uma equipe de futebol, mas numa associação que reduza a carga de mercantilismo e se adote porção de romantismo comunitário dos bons tempos em que futebol era apenas divertimento.
O Saged já esgotou trajetória, tanto quanto o modelo do Esporte Clube Santo André de quatro anos atrás. O Saged foi um arremedo jurídico e funcional criado sem maiores cuidados, a ponto de tornar-se uma empresa terceirizada de esportes, não um clube-empresa.
Por isso tem razão o presidente do Esporte Clube Santo André, Celso Luiz de Almeida, que está contratando especialistas para um acerto de contas geral de responsabilidades envolvendo o Saged e a agremiação fundada há mais de 40 anos.
O novo modelo de clube-empresa só não pode escapulir de condicionalidades que, ao mesmo tempo em que protegeriam o Esporte Clube Santo André, o Ramalhão e os acionistas do Saged de eventuais espertalhões, não tornem a possível transferência de controle uma camisa de força que afaste o interesse dos investidores.
Meteram o Ramalhão num buraco do qual é indispensável que saia. Nestas alturas do campeonato, não interessa a cor do gato, desde que cace o rato.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André