Algo me diz que pela primeira vez na Série A do Campeonato Paulista as três equipes da região vão conseguir ganhar os nove pontos em disputa numa mesma rodada. Para quem em oito rodadas já realizadas — ou 24 jogos — só somou conjuntamente 19 pontos (oito do São Caetano, seis do Santo André e cinco do São Bernardo) seria espécie de redenção.
É claro que estou exagerando no otimismo, mas, quem sabe, o sentimento seja o fio condutor do início da reação da região no principal campeonato estadual do País.
Se fosse analisar racionalmente — o que pode significar uma dose cautelar de interpretação dos jogos — o máximo a que chegaria seria a cinco pontos.
Mas insisto nos nove porque dos nove precisamos para sair do paredão do rebaixamento, onde estão São Bernardo e Santo André, e também da órbita dos ameaçados pelos últimos lugares na classificação, caso do São Caetano.
Mesmo com os possíveis e desejados nove pontos deste final de semana, a campanha do trio da região estaria muito aquém do esperado e do necessário. Somaríamos 27 pontos em 81 disputados. Uma média de aproveitamento de 33% dos pontos em disputa. Própria da zona de rebaixamento.
Quem deverá ter menos complicações para ganhar os três pontos é o São Bernardo, no Estádio Primeiro de Maio contra o Noroeste de Bauru. A derrota de domingo em casa ante a Ponte Preta deve ter deixado muitas lições ao técnico Estevam Soares. A primeira é que o São Bernardo não tem tido muita sorte. Mas também que se precipita demais no ataque.
A ameaça de rebaixamento para quem entrou com perspectivas de disputar a fase de matas-mata acelerou a pressão. Estevam Soares mostrou domingo que pode contribuir muito para dar mais harmonia à equipe.
As mudanças de Estevam Soares buscaram fundamentalmente dar mais consistência a um meio de campo dispersivo. Se conseguir arrumar o setor, acabará por proteger melhor uma defesa limitada demais entre os zagueiros de área e descuidada demais nos laterais-alas que avançam sem parar.
O São Bernardo ainda não se deu conta de que a diferença entre atacar muito e fragilizar-se defensivamente é a mesma que separa remédio de veneno. É a dose, idiota!
Houve momentos no jogo contra a Ponte Preta que o São Bernardo contava com Dirceu, Guto, Nenê e Júnior Xuxa no meio de campo. Mas esse quarteto ainda embrionário se desfazia em outras situações, quando Guto atacava como ala e Dirceu se metia como volante-zagueiro. É claro que os buracos defensivos e ofensivos abundavam.
Estevam Soares provavelmente treinou à exaustão as medidas corretivas durante a semana. Com Guto deslocado como ala a equipe perde velocidade pela direita, mas ganha consistência técnica e mais inteligência organizacional. A provável volta de William Favoni oferece alternativa imperdível de qualidade técnica e finalização à média distância. Nenê voltaria ao banco, de onde pode sair a qualquer momento.
Está no ataque o drama do São Bernardo. Há uma facilidade imensa em desperdiçar oportunidades. A corrida em busca de um artilheiro experiente ainda não terminou, mas a solução está demorando demais. O tempo não para.
O Santo André que enfrenta o Paulista no Estádio Bruno Daniel deve estar preparado para situações indigestas. A equipe de Jundiaí vem jogando junta já faz bom tempo e tem engrenagem coletiva envolvente. Exatamente o que está faltando ao Ramalhão.
A especialidade do técnico Pintado não será suficiente para conquistar os três pontos. Defender o tempo todo será pouco. Renunciar ao sistema ofensivo, reservando-lhe apenas esporádicas incursões, é o mesmo que adotar a roleta russa como prática favorita.
A escalação de zagueiro Marcelo Godri como volante móvel, que também atua como terceiro defensor por dentro, quebra a dinâmica do meio de campo. Seria melhor escalá-lo como terceiro zagueiro e dar mais liberdade aos laterais-alas. O problema é que faltam no elenco mais pegadores no meio de campo. A improvisação de Godri é um arremedo, uma solução apenas pela metade.
O Santo André tem se defendido com muitos jogadores e atacado com poucos. Há espaços demais entre os setores. Falta compactação. Se recorrermos a um manual das melhores práticas técnico-táticas, poucas das muitas obrigações a cumprir serão preenchidas.
O São Caetano não está tão diferente, embora conte com elenco muito mais qualificado. Enfrentar a Portuguesa no Estádio Anacleto Campanella é sinônimo de risco. O adversário é forte o suficiente para ninguém negar que disputa potencialmente uma das oito vagas dos mata-matas.
O São Caetano precisará ofensivamente do que mostrou em apenas algumas situações na competição: velocidade pelas laterais e penetrações agudas pelo meio. Basta não escalar uma dupla de centroavante como Eduardo e Vandinho, que só sabem atuar nos interiores da grande área, para o técnico Ademir Fonseca começar a acertar o time na ocupação espacial.
Um ponta de lança pela esquerda como Antonio Flávio e um armador-atacante pela direita como Ailton, apoiados por dois volantes móveis, como Souza e Augusto Recife, são uma boa pedida.
Há também a alternativa de, recuperado, Ricardo Conceição ser aproveitado como terceiro volante. Nada que leve à conclusão de um time defensivo, porque tanto ele quanto Souza têm técnica e mobilidade para apoiar o ataque.
Estou esperançoso de aproveitamento total de pontos neste final de semana. Para compensar a escassez total do final da semana passada.
A vantagem do futebol sobre outras atividades, especialmente a Economia, é que quando se levam em consideração aspectos subjetivos e metafísicos, ninguém nos chama de loucos. Embora a bola não entre por acaso como conceito estrutural, entra sim como aspecto situacional. Em economia, por outro lado, não dá para torcer contra a inflação se o governo não tomar providências técnico-econométricas.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André