A rodada do final de semana do Campeonato Paulista foi uma decepção para o futebol do Grande ABC que, lamentavelmente, segue na trilha do rebaixamento com pelo menos dois representantes ameaçados, casos de São Bernardo e Santo André, com o pé na cova, e o outro, São Caetano, em situação ainda pouco confortável.
Nem mesmo o empate sem gols e sem grandes emoções no Pacaembu diante do Palmeiras salva a lavoura classificatória do Santo André, embora tenha sido heróico por atuar com um jogador a menos desde 25 minutos do primeiro tempo.
O Azulão perdeu para o São Paulo no Anacleto Campanella sem que o resultado possa ser catalogado como desastroso, embora precisasse dar um nó na própria lógica para aspirar mais concretamente o G8 e, com isso, afastar-se mais da zona de risco de rebaixamento.
Já o São Bernardo foi um desastre completo em casa diante do Mogi Mirim. Pior que a goleada de 4 a 2 pode ser o desdobramento que mexeria com a confiança do grupo. O Tigre só não perdeu as cuecas, mas quem disser que não está com as calças arriadas desconhece os efeitos danosos de um placar completamente fora dos planos, após a concreta evolução da equipe nas últimas rodadas.
O São Caetano foi derrotado por um São Paulo emblemático da máxima de que a bola não entra por acaso. O time de Ademir Fonseca cumpriu ritual de quem investe e conta com bons valores e elenco, mas nada que suporte a concorrência de um dos grandes do futebol brasileiro.
A resistência do empate sem gols foi possível até que o técnico tricolor fizesse alterações que flexibilizaram ofensivamente a equipe. O individualismo circense de Ilsinho e de Marlos quebrou a rigidez tática. O São Caetano suportava bem até então, mas as duas cobranças de falta que terminaram nas redes fazem parte do enredo de quem tem mais variáveis bélicas.
Apesar de o São Paulo ter o controle do jogo no primeiro tempo, o São Caetano não decepcionava. Marcava com atenção, bloqueava bem no meio de campo e só não conseguia avançar no ataque. O São Paulo era melhor, mas não asfixiava o adversário que, mesmo com erros de passe, sabia amenizar a volúpia adversária.
O time de Carpeggiani enxugava os espaços com forte marcação e procurava fazer do ataque combinação de triangulações rápidas e penetrações pelas laterais.
O São Caetano se dedicava como poucas vezes no campeonato na redução de alternativas ao adversário. Praticamente todos os jogadores se aplicavam também sem a bola nos pés.
Quando o segundo tempo parecia caminhar para uma igualdade no final, porque a fórmula sãopaulina se desgastava e o São Caetano sugeria que não erraria na repetição metódica e produtiva da movimentação defensiva, embora permanecesse travado no ataque, eis que Ilsinho e Marlos bagunçaram o coreto.
Os dribles curtos, as penetrações em diagonal, as deslocações constantes, tudo isso embaralhou a marcação do São Caetano que, até então, conseguia se dar bem nos cuidados especiais com Lucas.
Faltas marcadas, faltas batidas, faltas convertidas em gols. O São Caetano perdeu um jogo perdível, mas fez uma das melhores atuações na temporada. Num nível que, se padronizado e projetado para o restante da competição, talvez só não o recupere para o G8 dos mata-matas. Ou seja: a derrota para o São Paulo deve ser encarada como o começo de um novo raiar do sol de qualificação técnica e tática.
Exatamente o contrário do que se viu na sexta-feira à noite. Em oito minutos (entre 21 e 29 do segundo tempo) o São Bernardo cedeu o empate e em seguida foi goleado pelo Mogi Mirim em pleno Estádio Primeiro de Maio.
O goleiro Marcelo Pitol deve receber sim a maior carga de responsabilidade pelo inesperado resultado. Já falhara no primeiro tempo quando o centroavante Denilson chutou quase sem ângulo entre ele e a trave e a bola entrou. Depois, duas novas falhas: rebateu para dentro da área, como receptor de voleibol, um chute de longa distância do lateral Niel e o atacante Ytalo empatou. Em seguida, caiu tarde numa cabeçada de Claudinei após cruzamento na pequena área. Há muito tempo um goleiro não falhava tanto num único jogo. O quarto gol liquidou de vez com nervos e cérebro do São Bernardo.
É claro que o Mogi Mirim tem méritos, embora a jornada tenha sido ultrafacilitada pelo goleiro adversário. A equipe do Interior voltou mais ofensiva no segundo tempo ao avançar os laterais e ao contar com um novo atacante para reforçar os avanços por dentro.
O São Bernardo não conseguia acompanhar as evoluções em jogadas curtas e médias, principalmente pelas laterais. Para piorar, o técnico Estevam Soares disputou vilania com o goleiro Pitol. Mexeu demais no meio de campo e na defesa, deslocando Dirceu para o miolo da zaga. Tudo agravado com a perda do volante Lucas no primeiro tempo por contusão.
Quando viu seu time em desvantagem no placar, Estevam Soares substituiu mais dois titulares do meio de campo, William Favoni e Júnior Xuxa. As imperfeições de marcação e suporte ao ataque sempre reduzido a Danielzinho e a Bombinha se agravaram. Estevam Soares precipitou-se ao acreditar que corrigiria erros individuais do goleiro Marcelo Pitol com experimentos numa equipe emocionalmente abalada.
Até os 20 minutos do segundo tempo, antes do gol de empate de 2 a 2 do Mogi Mirim, o São Bernardo não deixara o adversário sufocá-lo, embora o volume de jogo dos visitantes fosse superior. Depois, foi uma derrocada só.
Resta saber o que será do ambiente do São Bernardo no jogo deste meio de semana contra o Mirassol. O Tigre está deixando escapar as benesses da tabela. Se terminar a Fase de Consolidação, que vai até a 14a rodada, sem livrar-se da zona de rebaixamento, sofrerá um bocado na Fase Final, de cinco jogos complicadíssimos.
O Mogi Mirim mais que interrompeu série de jogos em que o São Bernardo explicitava avanços táticos, técnicos e emocionais. Botou o time de Estevam Soares num encalacramento psicológico de dúvidas sobre as possibilidades de escapar do descenso.
Os reforços contratados na última semana talvez sejam providenciais, embora sempre causem danos estruturais de ajuste de peças.
Já o Santo André com 10 jogadores quase o tempo todo diante de um Palmeiras mais moroso do que se exige de uma equipe comandada por Felipão não realizou nada diferente do confronto com um dos grandes, o Santos, quando atuou o tempo todo completo: fez do campo defensivo trincheira para alcançar bom resultado. Nada suficiente para assegurar que, neste meio de semana, em casa, contra o Americana, estará mobilizado e qualificado para conseguir, finalmente, a primeira vitória.
O Santo André está tão acostumado a jogar na defesa que parece cachorro de madame quando vai para a rua — acaba atropelado.
Se pairam dúvidas sobre o apetrechamento do ex-atacante Sandro Gaúcho para conduzir a equipe nessa reta final da competição, pelo menos enxergou o que o defensivista e ex-volante Pintado cansou de ignorar: Borebi é o melhor companheiro de ataque para Richely porque tem velocidade, movimentação, fome de gol e inteligência para se mover entre zagueiros.
Restando oito rodadas para o encerramento da fase classificatória, parece que o Trio de Lata do Grande ABC encaminha-se para desfecho dramático nas cinco rodadas finais: a luta desesperada para fugir do rebaixamento. Santo André e São Bernardo por conta de limitações de elenco, e o São Caetano, menos ameaçado, é verdade, mas não imune a complicações, porque começou muito mal a competição e principalmente porque a tabela é uma sucessão de desafios.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André