Esportes

Grandes quase não perdem para
pequenos e médios no Paulista

DANIEL LIMA - 09/03/2011

Considerando-se os resultados dos 36 jogos já realizados no Campeonato Paulista da Série A desta temporada entre os chamados grandes times (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos) e os médios e pequenos, em média os adversários de menor porte contam com apenas 5,55% de probabilidades de saírem vitoriosos, 30,55% de somarem apenas um ponto, correspondente a empate, e com 63,88% de saírem derrotados. O alargamento da diferença média entre grandes e seus adversários é notável nesta temporada. No ano passado, depois de 64 jogos, pequenos e médios obtiveram 17,18% de vitórias, 26,55% de empates e 56,25% de derrotas. A canoa virou nesta temporada. Pequenos e médios tiveram reduzidos em dois terços o percentual de vitórias contra os grandes.


O feriado prolongado de Carnaval leva a fazer muita coisa útil quem lida com informação e não suporta a muvuca de viagens cada vez mais perigosas nas estradas de um País movido a automóvel. Inspirado na obra “A bola não entra por acaso”, que consumi avidamente no ano passado, resolvi buscar nos números incontestáveis de resultados já registrados a dimensão do tamanho dos times grandes, dos times médios e dos times pequenos que disputam o Campeonato Paulista. Chequei à conclusão que os grandes clubes estão cada vez maiores.


Como sistematizei inicialmente apenas os resultados desta temporada, suspeitava de processo gradual e inexorável de supremacia das principais equipes. Tudo muito natural dada a concentração do que chamaria de arranjo estrutural do futebol sobre a plataforma de maiores ações de marketing. Imaginava que seria um fenômeno irreversível, mas suave.


Entretanto, fui surpreendido ao meter a mão no vespeiro do campeonato do ano passado. Verifiquei que, quando em confronto com os números deste ano, o buraco é muito maior do que imaginava. Não há gradualismo, mas sim impacto fulminante a separar grandes, pequenas e médias equipes.


Tomara que seja apenas uma sazonalidade porque, a perdurar tamanhas discrepâncias, perderá a graça da dramaticidade ir a um estádio para ver jogos entre grandes e pequenos ou médios. O resultado final probabilisticamente estaria à beira da confirmação.


Só os vetores mais visíveis que determinam a potencialização das grandes equipes dariam para preparar tese quilométrica. Vou resumir os pontos que tornam cada vez mais inviáveis as grandes equipes serem ameaçadas pelos demais adversários na competição estadual.


Pesam sobremaneira recursos de patrocinadores, de bilheterias, de cotas de televisão, de estrutura organizacional, de calendário mais completo, de volume de negócios com a transferência de atletas, entre outros aspectos, inclusive inevitáveis intervenções de árbitros tocados pela pressão do ambiente de jogo e da tradição.


Um Santo André vice-campeão paulista em competição de pontos corridos é um desvio estatístico, embora o presidente Ronan Maria Pinto tenha investido os tubos para montar o elenco. O natural é o Santo André jogar para fugir do rebaixamento, como nesta temporada.


O princípio que norteou a pesquisa e que fundamenta os enunciados deste texto é a definição dos três estratos de equipes.


As grandes equipes estão nessa condição hierárquica por todos os fatores que expus acima como corolário de massa crítica de recursos financeiros. As médias equipes são apontadas por estarem na Série A ou na Série B do Campeonato Brasileiro, condição que lhes permite contar com calendário anual, não semestral ou pouco mais que isso. As pequenas equipes são todas as demais que disputam apenas o Campeonato Paulista e competições sem suporte financeiro e de marketing.


Quem está fora da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro durante oito meses seguidos está excluído da vitrine do futebol, com todas as implicações que isso significa.


O Santo André constou da relação de equipes médias no Campeonato Paulista do ano passado não por ter chegado à disputa do título, mas porque disputava a Série B do Campeonato Brasileiro. Nesta temporada estadual, o Santo André está na relação dos times pequenos rebaixado que foi à Série C do Brasileiro, competição curta e disputada em sistema de grupos, e em seguida, de mata-matas. Uma competição sem TV aberta ou paga. Uma competição às escuras para o futebol em regime empresarial.


O Guarani de Campinas está na Série B do Campeonato Paulista, mas se disputar a Série A na temporada de 2012 e seguir na Série B do Brasileiro, após ser rebaixado na temporada passada da Série A, será considerado de porte médio. A tradição do Guarani de campeão brasileiro de 1978 não pesa nestas alturas do campeonato. O pressuposto de time médio e de time pequeno é essencialmente o calendário da temporada, reflexo do estágio organizacional em que se encontra.


Quem não tem calendário completo não mantém estrutura organizacional que o credencie como time médio. E time médio só chegará a time grande se repetir a história do Santos a partir do final dos anos 1950. Qualquer iniciativa em contrário é tratar politicamente correto um caso em que não se pode abrir mão de coerência.


É muito pouco, quase irrisória, a perspectiva de vitória de um time pequeno ou time médio contra um dos quatro grandes, no caso os 5,55% que sustentam os números. Em 36 confrontos realizados até agora, foram 23 vitórias dos grandes, 11 empates e apenas duas derrotas (do São Paulo contra Botafogo e Ponte Preta). No ano passado, em toda a competição, foram 36 vitórias dos grandes, 17 empates e 11 vitórias dos pequenos e médios. É pouco provável recuperação tão vigorosa dos pequenos e médios em 2011 para avizinharem-se dos resultados estatísticos de 2010.


Também em termos de média de resultados por jogo, quando se dividem os gols marcados pelos gols sofridos pelos grandes diante dos pequenos e dos médios, dificilmente esta temporada conseguirá aproximar-se dos dados finais do ano passado. Em 2010, os grandes marcaram 142 gols contra pequenos e médios que, por sua vez, fizeram 70. A média de resultado por jogo foi de 2,22 a 1,09 favorável aos grandes. Neste 2011, os grandes marcaram até agora 74 gols e sofreram 23 contra médios e pequenos, o que se traduz em resultado por jogo de 2,05 a 0,64. Ou seja: a possibilidade de um time pequeno ou médio marcar um gol num time grande é mais de três vezes inferior à do adversário. No ano passado era a metade.


Essa numerologia toda dá suporte à análise que preparei há dois meses. Estabeleci graus de dificuldades para definir quem se beneficiou e quem foi prejudicado entre os três times da região na Série A do Campeonato Paulista. A conclusão daquele trabalho foi simples:


a) Leva vantagem quem atua o maior número possível de jogos em casa contra pequenos e quem enfrenta fora de casa mais médios e grandes times.


b) Come o pão que o diabo amassou quem joga maior número de partidas em casa contra grandes e médios, e quem joga fora mais vezes contra pequenos.


Para quem ainda não conseguiu acompanhar o raciocínio, acredito que a explicação é simples:


a) Como estabeleci que tanto jogando como mandante quanto fora de casa o grau de risco diante dos grandes times é o máximo, de 10 pontos na escala de dificuldades, quem disputa mais jogos em casa contra esses adversários está em desvantagem. Como são quatro equipes, a tabela do campeonato deveria equilibrar entre os participantes o número de compromissos contra os grandes.


b) Também estabeleci que equipes de porte médio (Portuguesa, Bragantino, Americana, Grêmio Prudente e Ponte Preta) representam risco sete quando jogam em seus domínios e cinco quando atuam fora.


c) Os pequenos pesam cinco pontos na escala de risco quando jogam em seus próprios campos e apenas dois pontos quando são visitantes. Os pequenos: Mirassol, Mogi Mirim, Botafogo, Ituano, Linense, Oeste de Itápolis, Noroeste e Paulista.


Qualquer análise do Campeonato Paulista obrigatoriamente tem de levar em conta essas nuances. O São Caetano, já escrevi e repito sempre, foi tremendamente prejudicado pela tabela porque enfrentou ou vai enfrentar mais vezes em casa grandes e médias equipes e menos vezes as pequenas. O Santo André sofreu menos com o desbalanceamento. Já o São Bernardo foi beneficiadíssimo porque jogou ou vai jogar mais vezes em casa contra pequenos e mais vezes fora contra grandes e médios.


Sugeriria, portanto, à Federação Paulista de Futebol, sempre ciosa em melhorar a competição, inclusive renovando o quadro de arbitragem e cumprindo ritual de transparência e cuidados especiais nos sorteios, que, na próxima temporada, estude e aplique novos referenciais à distribuição de jogos.


Em suma, é preciso buscar o extremo do equilíbrio na proposta de compatibilizar forças na definição de mando dos jogos de Grandes versus Pequenos, Grandes versus Médios e Médios versus Pequenos.


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