Esportes

Camisa dividida, resgate de textos
que vão completar 27 anos dia 18

DANIEL LIMA - 11/03/2011

Um de meus leitores mais assíduos e antigos, Elias Lima, cujo sobrenome não tem nada a ver com minha árvore genealógica (para sorte dele, é claro) resgata dos arquivos pessoais e me envia pela Internet dois textos que vão completar no próximo dia 18 deste mês 27 anos de publicação no Diário do Grande ABC.


Executivo do setor petroquímico e uma das vítimas do quadro de acionistas do Saged (a empresa que administra o futebol do Ramalhão sem prestar conta aos investidores, empurrando goela abaixo de todos apenas alguns números que jamais passaram por auditoria séria), Elias Lima tem réplica genética, um irmão gêmeo que, como ele, foi doutrinado a torcer pelo Santo André ao acompanhar a coluna Confidencial, que eu assinava naquele jornal. Era cumulativamente colunista, repórter, redator, copidesque, editor e tantas outras coisas num passado bem diferente destes novos tempos, do de agora, sem horas extras, sem banco de horas, sem hora para chegar em casa. Como meus companheiros de trabalho. Foram 15 anos assim.


O que esses textos têm de tão interessante para Elias Lima ter guardado com tamanho desvelo? Eles tratam de um jogo entre o Santo André e o Operário de Campo Grande, pelo Campeonato Brasileiro de 1984. Naquela oportunidade, detectou-se no Estádio Bruno Daniel ameaça de disseminação de um fenômeno que, felizmente para uns e tristeza para outros, morreu no nascedouro: a presença de torcedores com camisas divididas. Tal qual o ex-presidente Lula da Silva exibiu ainda outro dia no Estádio Primeiro de Maio, ao acompanhar o jogo entre São Bernardo e Corinthians.


Asseguro aos leitores que, principalmente o texto em forma de reportagem assinado pelo companheiro de redação Luiz Carlos Sperândio, é imperdível. Limitei-me a produzir uma parte da coluna “Confidencial” sobre o assunto.


Sobre o texto de Luiz Carlos Sperândio, diria que é um exemplo de jornalismo que já não se vê com frequência razoável nas editorias de esportes, que vivem quase que exclusivamente do aqui e do agora sem profundidade.


Luiz Carlos Sperândio, talento de repórter que se tornou especialista em voleibol e em outros esportes menos populares, foi a fundo na pauta. Vasculhou o Estádio Bruno Daniel naquele domingo em que mais de 12 mil torcedores pagantes prestigiariam um Ramalhão que dispensava as formulações hoje em voga de incremento artificial do público — como é o caso do São Bernardo — para evitar que as arquibancadas ficassem às moscas.


Em tempo: embora faça restrições ao modelo de ocupação de espaços do Estádio Primeiro de Maio por torcedores que recebem ingressos pagos por empresas associadas ao São Bernardo e distribuídos em profusão, não coloco a iniciativa no banco dos réus. Pelo contrário: trata-se de uma ação que dá uma sacudidela na inércia esportiva regional duramente atingida pelos fenômenos da metropolização de segunda classe dos municípios periféricos da Capital.


Voltando à camisa dividida, é imperdível a reportagem de Luiz Carlos Sperândio.


Já sobre o texto que preparei à ocasião para o “Confidencial”, não o repetiria hoje. As circunstâncias e as grandes transformações no futebol, tanto por incompetência do Ramalhão como, principalmente, pela avalanche dos clubes de massa que descobriram ou foram descobertos pela TV e pelo marketing, me levariam a mudar completamente de opinião. Não sou a metamorfose ambulante ao sabor de interesses oportunísticos. O contexto histórico explica o recuo, que, em realidade, é avanço, porque detecta situações completamente diferentes.


Àquela oportunidade, ou seja, há 27 anos, fui contrário à camisa dividida do Santo André com grandes times paulistas. Hoje, a camisa dividida seria um grande negócio, sob todos os aspectos, principalmente e literalmente de negócios, porque o que sobrou para o futebol fora do domínio de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos não passa de migalhas de representatividade nas arquibancadas.


Com exceção, é claro, da iniciativa do São Bernardo, no fundo, no fundo, uma ação coletiva de camisa dividida não explicita, provavelmente até por falta de um mercador na praça.


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