Não foi por acaso que rotulei de Fase de Consolidação a etapa do Campeonato Paulista que vai da oitava à 14ª rodada, de Fase de Estruturação a etapa da abertura até a sétima rodada e de Fase Decisiva a etapa que vai da 15ª à última. Estamos na última rodada da Fase de Consolidação neste final de semana. Seria o pior dos mundos se Santo André e São Bernardo terminassem entre os quatro últimos colocados, na zona de rebaixamento. O São Caetano não corre esse risco, apesar de ter enfrentado o caminho mais tortuoso de jogos da Fase de Consolidação, após jogar no lixo a maioria dos jogos da Fase de Estruturação. O que esperar do futebol do Grande ABC na reta de chegada que se dará, por essa cronologia toda própria, a partir de segunda-feira próxima? Depende dos jogos deste final de semana, é claro.
Aparentemente, o São Caetano está entre a cruz da ameaça mesmo que esfarelada de rebaixamento e a glória da possibilidade ainda que pífia de chegar entre os oito primeiros, com direito a participar da fase de mata-matas. Com 16 pontos, está quatro abaixo do Oeste de Itápolis, último da zona do G8. O Azulão tem a mesma pontuação do Americana e do Bragantino, mas perde nos critérios de desempate.
Ora, ora, quatro pontos de diferença não são lá essas coisas. Dá para tirar e chegar ao G8. Não é tão simples assim. A matemática do futebol é outra. Nem tudo é o que parece.
O Oeste tem 20 pontos que significam aproveitamento relativo de 51,3%. Com essa performance, o oitavo colocado chegaria a 29 pontos ao final da fase de classificação — o que bate com alguma margem de erro nos números do oitavo classificado em edições anteriores do campeonato. O São Caetano só chegará a 29 pontos se conseguir 72,2% de aproveitamento nos seis jogos que restam. Uma campanha semelhante, num tiro curto, ao que os quatro grandes alcançaram em 13 rodadas. Alguém é capaz de apostar nesse cenário, sabendo-se que em 13 jogos o Azulão registrou 41% de índice de aproveitamento, ou seja, 16 pontos em 39 disputados?
Como sonhar com tanto é apenas e provavelmente um sonho, o melhor mesmo é o Azulão tratar de ganhar mais cinco pontos e chegar a 21, que o livrariam da queda. Sim, porque, como já escrevi, 21 pontos são a plataforma de tranquilidade para quem não quer se perder nos escombros do terremoto do rebaixamento.
Pode até ser que com 20 pontos se escape, até mesmo com 19 pontos e um bom número de vitórias também, mas o melhor é não arriscar. Ganhar do Palmeiras não está fora de possibilidades. O jogo do meio de semana do Verdão em Uberaba, num campo pesadíssimo, e, também, a viagem terrestre de mais de mil quilômetros, vão pesar no rendimento físico no segundo tempo de domingo no Anacleto Campanella. É só saber explorar essa possibilidade detectada por tecnologias bem adestradas por fisiologistas do futebol.
Lamentavelmente o São Caetano passou todo o campeonato até agora, em suas duas fases, procurando feito barata tonta uma estrutura de jogo que não chega. E dificilmente chegará. Precisará safar-se com individualidades, que as tem de sobra em várias funções.
O Santo André está com a corda no pescoço porque não tem nem uma coisa nem outra, ou seja, faltam-lhe individualidades e sobram-lhe deficiências táticas. Com 10 pontos ganhos e a apenas dois do Ituano, primeiro fora da zona de risco, o Ramalhão precisa se dar conta de que ganhar é a primeira, a segunda e a terceira prioridades.
A prevalecer a projeção de 21 pontos para a fuga do descenso, o Ramalhão precisará de novos 11 nos 18 restantes, o que dá 61% de índice de aproveitamento. Uma barbaridade. Se o limite for 20 pontos, o índice cai para 55%.
Como se vê, uma tarefa incômoda. Principalmente porque o Ramalhão poderá se dar mal nos critérios de desempate, com apenas uma única vitória até aqui. O ideal é ganhar quatro dos seis jogos que restam. Com três vitórias e três empates poderá dançar. Tanto uma situação quanto outra chegam às raias da ilusão, depois de apenas uma vitória, sete empates e cinco derrotas em 13 jogos.
O técnico Sandro Gaúcho, escolhido porque o Ramalhão não tem mais recursos financeiros para trazer profissional experiente — diferentemente portanto do São Bernardo de Estevam Soares — deverá mandar o time ao ataque. Pelo menos o ex-goleador tem inteligência e experiência suficientes para descobrir a pólvora de que, perdido por um, perdido por 10. Ou seja: não seria com o sistema defensivista mequetrefe de Pintado que o Santo André escaparia do rebaixamento. Somar um ponto por jogo não resolve nada.
É claro que o Ramalhão vai arriscar o pescoço com essa empreitada, mas o que é o pescoço quando muita coisa já foi para o brejo? Principalmente a imagem de time vencedor do ano passado, de vice-campeão que alguns ainda insistem em lembrar, como se servisse, nesse momento, para algo que mudasse o quadro.
Ganhar do Oeste no Bruno Daniel não é opção, portanto. É a diferença entre respirar e prenunciar asfixiamento letal antes da rodada derradeira, quando enfrentará o Corinthians, depois de passar por dois clássicos regionais e ainda a Portuguesa, além do Grêmio Prudente. É mole?
O São Bernardo foi quem melhor soube aproveitar a distinção entre Fase de Estruturação, Fase de Consolidação e Fase Decisiva. Deu com os burros nágua nas primeiras rodadas com o técnico e com a filosofia tática que o trouxeram da Segunda Divisão e tratou de contratar um Estevam Soares experiente, matreiro, motivador.
O time é praticamente o mesmo em termos individuais, com alguns reforços que chegaram mas pouco jogaram, mas a estrutura e a personalidade tática são outras. O Palmeiras do segundo tempo do Canindé na rodada passada que o diga. O monopólio previsível de correria e cruzamentos dos alas e a pressa infernal na passagem do meio de campo para o ataque cederam espaço a um time mais cerebral, de maior volume de jogo, mais versátil nas alternativas de ataque e defesa. Só cai se der muita bobeira e se perder gols escancaradamente fáceis como nas rodadas anteriores. Principalmente com Danielzinho, jovem que mescla jogadas de craque e de perna de pau.
Rodada deste final de semana realizada, vamos começar a enxergar com mais clareza as cinco derradeiras que formam a Fase Decisiva. Se perdermos apenas um time para a Série B estaremos encaixados na lógica da competição. Dois seria demais. Três, então, uma doidice.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André