Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (12)

DANIEL LIMA - 11/09/2024

Estamos dando sequência à série especial sobre minha passagem pelo Diário do Grande ABC em 2004. Uma série que decidi chamar de Plano Real do Diário do Grande ABC. Esta série trata também do período antecedente à função de diretor de Redação que ocupei durante nove meses de um contrato de cinco anos.

Durante um pouco mais de um mês atuei como primeiro ombudsman (e único) daquela publicação, entre junho e julho de 2004. O empresário Ronan Maria Pinto acabara de se tornar acionista majoritário da publicação e me contratara para mudar os rumos editoriais. O Diário do Grande ABC vivia sim uma crise de conteúdo editorial que, perto do que temos hoje, não passava de uma brisa. A tempestade se dá aos poucos por um amontoado de razões corporativas, econômicas e sociais. Já tratei dessa situação em outra série.

Como é sabido, apresentei o que chamei de Planejamento Editorial Estratégico, farol que municiava meus trabalhos. A edição de 17 de junho tratava de vários temas.. Vale a pena ver como funcionava o jornal naquele período e o que este jornalista propunha de mudanças pontuais e estruturais.  

EDIÇÃO NÚMERO QUATRO

Vamos seguindo com a quarta edição desta newsletter. Tenho recebido muitas indagações sobre o tempo de incubação deste material, até que ultrapasse as fronteiras corporativas. Respondo que é questão de tempo, de aperfeiçoamento do modelo. Mas, confesso, estou cada vez mais interessado em propor aos acionistas e diretores do jornal que mais profissionais da corporação tenham acesso a estas linhas e, em seguida, os assinantes. 

PRIMEIRA PÁGINA (I)

A vitrine do jornal nesta edição de quinta-feira apresentou-se mais sóbria que a edição anterior, mas a manchete principal poderia ser outra. E qual seria? Está na página principal de Economia, sob o título "Polo pode receber apoio do BNDES", a matéria mais importante da edição levando-se em conta a regionalidade. A presença do presidente do BNDES em Diadema seria escala corriqueira se não contemplasse pelo menos duas informações bem tratadas pelo repórter, envolvendo o polo de cosméticos: a primeira de que o dirigente do banco estatal de fomento sinalizou apoio para planos de exportação e, segundo, que está disposto a conceder recursos para um centro tecnológico. 

No fundo, essa matéria tem tudo a ver com a Universidade do Grande ABC, porque se pretende um campus em Diadema para tratar exatamente do setor plástico, com forte enraizamento nas indústrias de cosméticos. 

PRIMEIRA PÁGINA (II)

Imaginava que a foto principal de primeira página seria um lance da vitória do Flamengo contra o Vitória da Bahia e um título mais ou menos assim: "Flamengo contra o Grande ABC", ou "Santo André vai decidir com o Flamengo", referindo-se, evidentemente, aos confrontos da Copa do Brasil. A derrota do São Paulo deveria ter retirado o peso do jogo da Taça Libertadores da capa, como, aliás, fizeram tanto a Folha de S. Paulo como o Estadão -- nenhum dos dois jornais imprimiu foto do jogo na primeira página. Junte-se à derrota do São Paulo a importância histórica do jogo entre Santo André e Flamengo e se tem, sem exagero, o ponto de equilíbrio do regionalismo editorial que sonhamos, que combina substância e relevância.

A catequese (não se trata necessariamente de trocadilho com a sede do jornal) em torno da regionalidade será permanente neste espaço, mas acredito que não deva ter efeito esparadrapo, utilizado após o ferimento. Agir preventivamente é o melhor caminho. Não sei como funciona o sistema de fechamento da primeira página do jornal, gostaria de ser informado, mas está evidente que falta sinergia entre as editorias e os profissionais da área. Qualquer comerciante mais ou menos comprometido com o futuro entende de vitrinismo. 

PRIMEIRA PÁGINA (III)

É do Estadão a melhor chamada de capa da conjuntura econômica, hoje, com a compactação de indicadores de indústria, comércio e construção civil numa mesma chamada e, também, no tratamento interno. O nosso jornal preferiu a pulverização interna dessas notícias, embaraçando o entendimento dos leitores, e uma manchete principal de primeira página sem impacto, já que, além de cercear o espaço do polo de cosméticos de Diadema, não reproduz dados relevantes da pesquisa da Fiesp. 

DÚVIDA PETISTA 

O assunto da matéria "Sem consenso, PT de Santo André define o vice na convenção" está muito bem encaixado mas poderá ser ainda mais bem enfocado nas próximas edições. Basta, para isso, que se aprofundem as diferenças dos quatro candidatos petistas que disputam a vaga de companheiro de João Avamileno à Prefeitura de Santo André. O que cada concorrente representa no partido? Apenas no finalzinho da matéria de hoje resvala-se para esse ângulo, numa declaração do vereador Ricardo Alvarez, da ala esquerda do partido e um dos poucos que se declararam o tempo todo favoráveis aos irmãos de Celso Daniel durante a crise das anunciadas propinas. Acredito que a própria jornalista deva assumir a interpretação (não opinião) que favoreça o esclarecimento. 

Ao que parece, não está fora de cogitação uma candidatura extra petista para conciliar antagonismos aparentemente insuperáveis do quarteto que digladia pelo posto de vice. Aliás, o secretário de Governo, Mário Maurici, evidencia essa espécie da salvação de lavoura como a melhor saída do partido. 

UNIVERSIDADE PÚBLICA 

Talvez não tenha nada a ver, talvez seja apenas coincidência, talvez não passe de alucinação interpretativa, mas a mesma jornalista que escreveu ontem sobre a Universidade Federal do Grande ABC apresenta na edição de hoje texto mais maduro, mais solto, mais bem amarrado, mais interpretado. Acredito que o emocional da redação, por força de passado recente de complicações acionárias, está fora do eixo e com isso a qualificação individual e coletiva dos colaboradores esteja sofrendo percalços. 

Duvido que seja simples acaso que um mesmo profissional se expresse de maneira tão diferenciada sobre um mesmo assunto entre uma edição e outra. Quem sabe ela, Andrea Catão, e seus orientadores não possuam a chave de um mecanismo que fará saltar o nível de qualidade do produto? Diferentemente de linha de produção convencional, em que máquinas e equipamentos amenizam cada vez mais o peso relativo da mão-de-obra no valor agregado do produto final, não se faz um bom veículo de comunicação sem que a psicologia seja elemento decisivo no processo motivacional. 

LEI SECA (I)

Efetiva melhora de informações pode ser sentida também na matéria "Lei Seca é criticada por clientes em São Caetano". Talvez o verbete "cliente" pudesse ter sido substituído por "consumidores". Os dados repassados aos leitores começam a ganhar contornos substanciais. Sugeriria apenas que, sem prejudicar a autenticidade das declarações, fossem utilizadas menos aspas e mais interpretação. Dessa forma, o texto fica mais maduro, embora, evidentemente, dê mais trabalho. 

LEI SECA (II)

A cobertura da Urbis, o evento que trata este ano especialmente das regiões metropolitanas, destaca o case de Diadema na área criminal, a partir da implantação da Lei Seca. Da forma como foi utilizada a matéria, no canto à direita da Lei Seca de São Caetano, o resultado é bastante favorável. Entretanto, estou frustradíssimo com o fato de o jornal não ter se preparado convenientemente para a cobertura de algo que lhe diz muito. A revista LivreMercado tratará da temática na edição de julho, provavelmente com Reportagem de Capa. Os assuntos agendados fogem completamente do pontual. 

BASES COMUNITÁRIAS

Há uma carta do governo Marta Suplicy na página A3 da Folha de S. Paulo de hoje que, além de contestar matéria publicada por aquele jornal, estimula uma pauta regional. Trata-se de saber a quantas andam as iniciativas dos prefeitos em criar bases comunitárias de segurança pública. Há farto arquivo que pode encurtar a distância entre a proposta e o material impresso. 

MÚSICO CUBANO

"Cultura e Lazer" exibe hoje texto agradável sobre o músico cubano Ibrahim Ferrer. À altura das informações está a foto em quatro colunas. 

SUGESTÃO DE LEITURA

O escritor João Ubaldo Ribeiro está na página D10 do Estadão de hoje com uma decisão inusitada. O texto simples é saboroso. 

EXAGRO GRÁFICO

A matéria "Garimpeiro do Grande ABC", sobre Carlos Reichenbach, está deliciosa. Entretanto, o tratamento gráfico adotado, especialmente os intertítulos preciosistas no formato e na cor, transforma a página numa experiência à leitura acrobática. 

ANTES OU DEPOIS?

Fiquei em dúvida -- e continuo em dúvida -- sobre o tempo de jogo em que ocorreu o gol colombiano que decretou a eliminação do São Paulo da Taça Libertadores da América. O Estadão afirma que o gol aconteceu aos 45 minutos do segundo tempo, a Folha destaca essa mesma marca no próprio título do caderno de Esportes e o Diário acentua que o gol teria ocorrido nos acréscimos. Confesso que sempre estou atento ao relógio da TV, mas, desta vez, traído pela Sky que me deixou na mão e maltratado por uma imagem contraventora de chuviscos, não consegui registrar o momento da grande festa de alvinegros de lá e de cá, além de alviverdes, é claro. 

PONTOS PRECIOSOS

O resultado do julgamento do caso dos 12 pontos do Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro, esta tarde, equivale a quatro vitórias consecutivas. Se recuperar os pontos, o Santo André entra nas paradas do acesso à Série A. Se confirmada a perda, pode voltar à Série C. A habilidade de "Esportes" nos dará o ambiente dessa grande disputa. 



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