O ambiente regional não está para os fracos de estômago, de coração e muito menos para os insaciáveis de bolsos. Há cheiro de dinamite nos ares dessa Província. Respira-se com dificuldades em certos endereços de gente graúda. Falta o ar da tranquilidade de tempos que pareciam confortavelmente eternos. As algazarras sem contrapontos de preocupação escapolem entre os dedos como água de riacho. Perderam-se alguns controles que retroalimentavam movimentos estranhos, que geraram desdobramentos insidiosos. Complicou-se o que parecia placidamente simplificado, matematicamente inescapável, logisticamente imperturbável. A bola no barbante passou a resvalar no zagueiro e encaminhar-se à linha de fundo.
Tudo pode acontecer na Província do Grande ABC; nada pode acontecer na Província do Grande ABC.
Há mobilizações engendradas para aplacar os ânimos, para apaziguar espíritos, para preservar interesses, para assegurar certo padrão de responsabilidade mútua e coletiva.
Alguns poucos estão dispostos à troca de tiros no escuro em que todos sairiam chamuscados, mas nem todos estão preparados para iluminar a trincheira aberta.
A certeza de que tudo é possível ao ritmo de carteiradas virou pó desde quando as águas não correram em direção às fontes de sempre. Mais que isso: desde que as águas foram contaminadas por tortuosidades.
Quem conferir a temperatura ambiental na Província do Grande ABC vai constatar que há muito mais que o conceito de quente e frio no ar. Há uma instabilidade emocional frenética em determinados grupos que se sabem vigiadíssimos, vasculhadíssimos, observadíssimos.
Aos poucos os mais afoitos se dão conta de que a tática de criar um boi de piranha para proteger-se sob o manto da moralidade se revelou um erro que poderá ser fatal.
Tudo pode acontecer na Província do Grande ABC; nada pode acontecer na Província do Grande ABC.
Olhos eletrônicos não dão trégua a prevaricadores, mas também limpam a barra de supostos delinquentes atirados à própria sorte mas que, respaldados, têm como se safar de carimbos mais que programados para destruir reputações.
Quem manobra motoniveladoras de interesses escusos ainda não se deu conta de que o tiro pode sair pela culatra. Peças de uma engrenagem fora de controle podem ir aos ares e atingir em cheio quem se imagina imperturbável.
Cada dia que se passa na Província do Grande ABC é visto sob olhares contraditórios de corrida contra o relógio para alguns e de providencial aliado para outros.
Quem tem o rabo preso com os fatos move-se para desfazer-se de incômodos, mas há certos incômodos atarraxados com tanta intensidade que não se desprendem do corpo e da alma de patéticos encurralados.
O teatro de operações com papéis prévios e à revelia dos personagens está em questionamento. Os cordéis já não se movimentam com a destreza arbitrária de antes. Há manipuladores mal-ajambrados a reconhecer que a queda iminente já não conta com rede de proteção.
Tudo pode acontecer na Província do Grande ABC; nada pode acontecer na Província do Grande ABC.
Não faltam bombeiros de araque. Eles se dizem especialistas em bastidores. Desqualificam cenários profiláticos que os mais entusiastas cultuam.
Também não faltam os terroristas de sempre, a esticar versões muito além dos limites do razoável.
Encontrar o meio termo entre realidade e fantasia e entre fatos e versões vai muito além da confluência de informações. Há intangibilidades e zonas obscuras nem sempre decifráveis. Nem todos contam com o farol de milha do discernimento. Sobram transgressores açodados e também quem puxe com vigor o breque de mão da omissão.
Nada pode acontecer na Província do Grande ABC; tudo pode acontecer na Província do Grande ABC.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!