Regionalidade

Fórum precisa de dinheiro
e estratégia para evoluir

DANIEL LIMA - 05/05/1997

Dois desafios estão reservados ao Fórum da Cidadania do Grande ABC, aos quais
o coordenador-geral Marcos Gonçalves e os 12 coordenadores de grupos temáticos
deverão dedicar maiores atenções. O primeiro já é antigo e se prende à
necessidade de o Fórum viabilizar recursos financeiros que lhe assegurem, senão
a tranquilidade de banqueiros sem contratempos com o Proer ou com os
precatórios, pelo menos distância da míngua dos pensionistas e aposentados da
Previdência Social, depois de muito trabalho na iniciativa privada. Enfim, o
Fórum precisa de dinheiro para combinar voluntarismo e profissionalismo. O
segundo desafio é que suas atribuições como animador do processo institucional
da região, e a abrangência que isso implica, não devem sofrer desvios na gestão
multipartite da Câmara Regional do Grande ABC.


A falta de dinheiro seria combatida com a introdução de cartão de crédito
personalizado. Tudo, ainda, não passa de projeções, mas existe essa perspectiva
de obtenção de recursos, principalmente quando se coloca a grande capacidade de
multiplicação dos pães do Fórum. Afinal, esse cartão de afinidades, como o
mercado denomina a modalidade, reuniria duplo efeito construtivo: massificaria
de vez o corpo associativo do Fórum e redistribuiria proporcionalmente parte da
receita contratual ao Fórum e às entidades que integrarem o pool de usuários,
reforçando orçamentos igualmente debilitados.


Já no campo de atuação estratégica, a ânsia de colaborar com a Câmara
Regional não pode levar o Fórum da Cidadania a incorrer no erro de trocar os pés
da prospecção e da proposição pelas mãos da execução. A respeitabilidade que o
Fórum alcançou nos quase três anos de atividades se deve justamente à
sensibilidade de detectar os principais vácuos sociais, políticos, culturais e
econômicos do Grande ABC e de lançá-los na até então pífia agenda dos tomadores
de decisão.


A lista de prioridades que compôs a Carta do Grande ABC, documento que é o
atestado de identidade e de responsabilidade da organização, diagnosticou
provavelmente quase a totalidade dos percalços da região. Os estudos ora em
análise na Câmara Regional não deverão fugir disso. Até porque profissionais de
vários escalões das sete Prefeituras e de Secretarias do governo do Estado
integram os grupos temáticos e sub-temáticos, instâncias operacionais da Câmara.
Eles são pagos exatamente para isso, entre outras atribuições.


Daí não haver razão para o Fórum sentir-se na obrigação de transpirar. Seus
voluntários, como bem definiu Fausto Cestari durante o lançamento da Câmara
Regional, garantem ao Fórum a condição de guardião do processo de amadurecimento
de relações entre os Executivos e Legislativos locais e ramificações do
Estado.


Portanto, o Fórum da Cidadania deve aprofundar a capacidade de controlar
democraticamente a performance dos poderes constituídos, os quais, aliás, só
estão nesse novo estágio de entendimentos porque o próprio Fórum propagou o
ideário da integração regional e também extra-regional com o governo do
Estado.


Para manter-se em função crítica, o Fórum tem de policiar-se nesse novo
arranjo institucional. Isto quer dizer que nem deve imiscuir-se demais na
operacionalização dos grupos e sub-grupos, nem deixar-se cooptar nas instâncias
executivas e deliberativas, onde estará em minoria de representação. Equilibrar
a dose de participação, de modo que nem seja rotulado de ausente, nem seja
instrumentalizado, é tarefa sobre a qual seus estrategistas deverão se
debruçar.


A independência do Fórum na Câmara Regional é tão importante para a
comunidade quanto para as próprias representações municipais e do Estado. Quando
os trabalhos passarem da fase de estudos técnicos para o terreno das
deliberações que formatarão o Acordo do Grande ABC, os protagonistas públicos
que guardam entre si diferenças políticas, partidárias e ideológicas colocadas
provisoriamente a escanteio vão descobrir que práticas consensuais de quase três
anos de Fórum formam acervo cultural considerável.


Principalmente neste momento em que a região tem de preparar-se para
formalizar acordo que, longe de converter-se numa geléia real de
autoprotecionismo, que afinal não alteraria em nada o quadro atual, se torne
anteparo e alavancagem para estes tempos de globalização econômica.


Paradoxalmente, o Fórum, uma reunião de entidades corporativas de um País
forjado pelo corporativismo, pode desatar o nó de eventual excesso de
autopreservação dos espectros que compõem a Câmara Regional, os quais,
ingenuamente, ainda acreditam que é possível fazer a omelete do Acordo Regional
sem quebrar os ovos de supostas ou reais conquistas históricas, entre outras
questões, e cuja tradução mais simplória se resume na expressão Custo ABC.


Se a visão dos agentes integrados à Câmara Regional fugir desse prisma, isto
é, se o Acordo do Grande ABC não deletar boa parte de itens que colocam a
economia local na contramão das tendências internacionais, o que teremos será
algo comparável à decepção do noivo que se vê trocado nas núpcias não por um
terceiro ou terceira, o que já seria por demais terrível, mas pela nova pílula
de orgasmo lançada nas praças de Primeiro Mundo.


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