Qual será o futuro da CTBC, Companhia Telefônica da Borda do Campo, depois da
queda da presidência regional comandada por Ademir Spadafora e diante da
possibilidade de incorporação pela Telesp, empresa que a controla, seguida de
privatização? O Fórum da Cidadania encaminhou ao ministro das Comunicações,
Sérgio Motta, documento que trata a Companhia sem qualquer ranço de
paternalismo, embora também não abra mão do que chama de controle regional
parcial. O documento foi entregue pelo coordenador-geral Marcos Gonçalves e pelo
deputado federal Duílio Pisaneschi no dia seguinte ao estouro da notícia de
suposta compra de votos envolvendo o ministro Motta. Por isso, a programação
inicial de audiência com o ministro acabou frustrada. Um assessor atendeu aos
representantes da região. A expectativa do Fórum da Cidadania é de que o
material aprovado por uma comissão especialmente eleita pela plenária lance
luzes sobre um assunto por demais complexo.
Organismo multifacetado, em que há lugar tanto para nomes sindicais como
empresariais, o Fórum da Cidadania teve cuidado especial na redação da carta ao
ministro ao não se posicionar explicitamente sobre os planos de privatização do
sistema de telecomunicações do País e nem sobre a queda de Spadafora. Tratou do
que é praticamente certo — a privatização do setor — como eventualidade e até
incluiu a alternativa de a CTBC manter-se estatal, como empresa referencial do
sistema que será coordenado pela Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações,
ao relembrar o anúncio de Sérgio Motta, há pouco mais de um ano, durante visita
a Mauá. Naquela oportunidade, Motta fez elogios à capacitação dos recursos
humanos e técnicos da CTBC e acenou com a possibilidade de preservar a
integridade estatal da empresa, única exemplar regional do Sistema Telebrás.
A histórica defesa de representação do Grande ABC na direção da CTBC mereceu
espaço considerável no documento, mas o Fórum deu tratamento diferente à
questão. Não reivindicou declaradamente a presidência porque a direção é
colegiada, embora o organograma mantenha distinções nominais nos cargos
diretivos, e, seja qual for o destino que está reservado à Companhia, a
tendência deliberativa nas organizações já não se concentra num único executivo.
O Fórum preferiu solicitar a inclusão de um nome regional na direção
administrativa e executiva da CTBC, sem definir cargo ou identidade nominal,
através de critérios técnicos semelhantes aos que determinarão a escolha dos
integrantes da Anatel.
Embora sem definir de imediato o processo de escolha do representante
regional, cuja aprovação sugere que passe pelo crivo da Anatel, o Fórum da
Cidadania explicita que o cargo derivaria da representatividade do Grande ABC na
composição acionária do que resultar da CTBC eventualmente privatizada. O Fórum
reivindica que seja reservada fatia das ações para empresas e pessoas físicas
locais, em escala suficiente para que a composição diretiva se dê conforme
estabelece a legislação.
Esta é, evidentemente, a alternativa para o caso de CTBC ser privatizada. Se
continuar estatal, e o documento também se refere a isso, a representatividade
estará submetida exclusivamente a questões técnicas. Por questão diplomática, o
Fórum preferiu não fazer ilações diretas às tempestuosas gestões subordinadas à
política partidária que abate o Sistema Telebrás como um todo desde a instalação
da Nova República, há 12 anos. O representante regional na diretoria sairia de
eventual lista tríplice, integrada por especialistas locais em telecomunicações,
provavelmente do quadro de funcionários da empresa que tenham compromissos com a
região.
Até mesmo o fato de o ministro Sérgio Motta ter concluído o curso de
engenharia na FEI, Faculdade de Engenharia Industrial, em São Bernardo, foi
mencionado no documento enviado pelo Fórum da Cidadania, para fortalecer a
proposta final, contida nos últimos parágrafos, de incluir o futuro da CTBC nos
debates da Câmara Regional do Grande ABC, contando com representação do
Ministério das Comunicações.
Poucas horas depois da entrega do documento do Fórum da Cidadania em
Brasília, a Acisa, Associação Comercial e Industrial de Santo André, promoveu a
festa dos Empresários do Ano no Clube Atlético Aramaçan. O destaque acabou
sendo, como previsto, a homenagem a Ademir Spadafora. Ele recebeu o título mesmo
não constando mais como executivo da CTBC, fórmula encontrada pelos promotores
para desagravar a decisão do Ministério das Comunicações. Spadafora, que sequer
é mais funcionário da CTBC depois de 35 anos de carreira, fez discurso
emocionado. Um trecho — “Sinto-me agora liberto para trilhar novos caminhos
profissionais ou políticos. Mas continuarei preso aos meus princípios, aos meus
amigos e à nossa região” — foi interpretado como possível inserção no mundo
partidário. Mas ele não confirma.
O trecho final da participação de Spadafora — “Se houver e sempre que houver
desrespeito em qualquer sentido às prioridades da região, mesmo que venha de
qualquer pessoa investida temporariamente de autoridade municipal, estadual ou
federal, que se faça sempre ouvir não a voz rouca da nossa população, mas
principalmente a voz altiva e uníssona das nossas lideranças, em defesa dos
interesses maiores do nosso querido Grande ABC” — deixou no ar provável duplo
sentido. Ele estaria se queixando de não ter recebido das lideranças regionais,
logo após o anúncio de sua substituição, o grau de mobilização que, por exemplo,
Jundiaí exibiu para impedir a transferência do coronel Luis Antonio Rodrigues,
comandante da Polícia Militar no Grande ABC, envolvido indiretamente nas
agressões de militares na Favela Naval, em Diadema.
Spadafora chegou a confidenciar a amigos, nos dias que se seguiram à
deposição, que contava com pressões das lideranças para reverter o quadro.
Exceto o evento da Acisa, mesmo assim cercado de sutileza, e o documento do
Fórum da Cidadania, formulado já quando o assunto resfriara e não parecia mais
conveniente reabrir de forma escancarada a ferida do avanço de Sérgio Motta,
nada mais foi feito em seu favor.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?