A longa trajetória para a recuperação econômica e social do Grande ABC ganhou passos firmes no último dia de janeiro, num encontro na Prefeitura de São Caetano. A instalação da Câmara Regional do Grande ABC, projeto comum do governo do Estado, do Consórcio Intermunicipal e do Fórum da Cidadania, além de representações empresariais, sindicais e sociais, foi enfim programada para março agora.
Não frustrou a expectativa o encontro de Emerson Kapaz, secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, com os sete prefeitos da região, com Fausto Cestari, coordenador-geral do Fórum da Cidadania, além de Carlos Alberto Grana, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, e vários secretários municipais de Desenvolvimento Econômico.
A programação do lançamento oficial da Câmara do Grande ABC, com a presença do governador do Estado, revela que desta vez há mesmo vontade política de tratar com seriedade um tema complicadamente incômodo, ou seja, cuidar das sequelas de uma região que viu o tempo passar pela janela da descentralização industrial e não moveu um dedo para tentar alterar a rota de esvaziamento econômico que a atingiu.
O encontro, primeiro contato dos sete prefeitos com um representante de peso do governo do Estado, ganhou revestimento solene por conta da banda municipal de São Caetano. Seguindo determinação do prefeito Luiz Tortorello, um homem público que tem a vertente musical afiada, a banda musical recepcionou os convidados com dobrados antigos e bem executados.
Tortorello acertou na mosca, apesar de certo exagero da solenidade, porque acabou dando à reunião um tom de congraçamento que acabou por facilitar os entendimentos sobre a formatação da Câmara Regional. A nova organização terá estrutura formalizada, mas agirá informalmente; isto é, não se converterá em instituição jurídica. O peso de representação nos cinco grupos que serão criados, um de coordenação e os outros quatro temáticos, deverá ter composição equilibrada entre governo do Estado, Consórcio Intermunicipal e comunidade, em grande parcela com representantes do Fórum da Cidadania.
Preocupado com o futuro do Grande ABC, a ponto de converter-se numa espécie de garoto-propaganda de investimentos programados para a região nos próximos dois anos, dando-lhes conotação de reação e confiança nas potencialidades locais, Emerson Kapaz conseguiu aprovar a evidente prioridade do Grupo de Desenvolvimento Econômico e Emprego.
Os demais grupos, de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, de Desenvolvimento Social e de Aspectos Administrativos e Tributários, tornaram-se acessórios diante da emergência de impor novos rumos à região de crescente desemprego, de evasão industrial e de inchaço da periferia desassistida.
Diferentemente do encontro anterior de Kapaz com prefeitos da região, em agosto do ano passado no SESI de Santo André, desta vez os representantes das administrações públicas locais demonstraram real interesse em compartilhar trabalho e resultados. Se em agosto os então prefeitos Newton Brandão (Santo André) e Walter Demarchi (São Bernardo) parece terem encarado a reunião com Kapaz como algo sem comprometimento futuro, até porque estavam nos estertores do mandato, desta fez os sete novos prefeitos não só revelaram preocupação como levaram assessores diretos para abastecê-los de informações.
Em realidade, os novos prefeitos repetiram no encontro com Kapaz o entusiasmo de reuniões anteriores do Consórcio Intermunicipal. A eleição de Celso Daniel para presidir o Consórcio, posição unânime dos prefeitos, é um indicativo de que eventual grau de vaidade cedeu lugar à sensatez. O prefeito de Santo André é provavelmente o mais decidido defensor da integração regional e em nome disso até amenizou certo desconforto pessoal de ver o governo do Estado dividindo responsabilidades de reestruturação regional com os agentes econômicos, sociais e políticos da região, os quais, segundo sempre propagou, deveriam conduzir o processo.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?