Semanazinha agitadíssima essa que mal terminou no Grande ABC, entre beijos de construtividade institucional e econômica e tapas de rasteiras políticas. Enquanto o prefeito William Dib deita e rola em show de institucionalidade, cavoucando com brilho os cofres do Estado e da União para garantir o trecho Sul do Rodoanel, duas bombas foram despejadas na edição de ontem deste Diário.
Primeiro, a nomeação do deputado federal Ivan Valente, destemido cavaleiro antimercado, como relator do projeto de lei da Universidade Pública Federal do Grande ABC.
Segundo, as declarações do ex-deputado estadual e hoje secretário paulistano de Esportes, Marquinho Tortorello, que, num lance de descomunal arrogância, procura encabrestar publicamente um prefeito eleito pela comunidade de São Caetano, atuando como chefe de um grupo que no passado obedecia ordens de seu pai, ex-prefeito, cujo falecimento em dezembro último parece não ter sido suficientemente pedagógico sobre os limites de eventuais capitanias hereditárias em tempos democráticos.
Pela ordem cronológica, e sem me estender muito porque escrevi sobre o assunto durante a semana, a performance de William Dib é prova de que vontade política, determinação, empenho, inteligência e bom número de apoiadores podem mudar sim a realidade regional.
Dib está fazendo e acontecendo porque alia tudo isso. Tem planos. Tem projetos. Está retirando do Consórcio de Prefeitos a imagem de castelo de areias, que se desmancha a cada troca de guarda de comandante. Está recolocando a Agência de Desenvolvimento Econômico na trilha cerebral concebida pelo então prefeito Celso Daniel.
William Dib está excedendo à frente dos prefeitos da região. Foi a Brasília, reuniu-se com lideranças da Anfavea, antes acertou os ponteiros com o governo do Estado e agora vai ao Sindipeças. Tudo num fôlego só de gerenciador público que recupera uma vereda da qual o próprio Celso Daniel abriu mão, depois de adotá-la durante dois anos seguidos e de não contar com acompanhamento indispensável: a importância de privilegiar ações coletivas na região e deixar para secretários municipais o cotidiano da máquina pública municipal.
Não é por outra razão, aliás, que William Dib estourou na ponta da preferência da população do Grande ABC à indagação do Instituto Brasmarket sobre a maior liderança regional neste começo de 2005. Um salto espetacular para quem ainda outro dia era regionalmente um desconhecido secretário municipal de saúde e, na sequência, um vice-prefeito que se manteve diligentemente discreto, até que, alçado ao posto de chefe municipal como substituto, iniciou trajetória que parece saltar a patamares retumbantes.
O desafio maior de William Dib é impedir que o sarapatel da Universidade Federal do Grande ABC se torne enorme dor de barriga, como se está ameaçando. Como ele abordou com precisão cirúrgica em entrevista a este Diário, é uma insensatez a dúvida sobre a identidade organizacional da instituição, se integralmente saída do forno de negociações congressuais com redução drástica de investimentos ou se transformada em reitoria e campus da já tradicional Universidade Federal de São Paulo.
A opção só não parece óbvia para quem não consegue entender que a Ufesp daria de imediato um brilho acadêmico ao Grande ABC e poderia incorporar o braço tecnológico, voltado à produção de riqueza, em complemento às atividades já consagradas na área de saúde.
Não bastassem as trapalhadas sobre o melhor caminho para definir a questão, eis que aparece no mapa de complicações um Ivan Valente ostensivamente adversário do único modelo de escola pública de Ensino Superior que de fato nos interessa, ou seja, a que converge o preparo técnico dos alunos para a geração de riqueza material, de empregos; enfim, das vocações atuais e das propostas de retomada do desenvolvimento econômico do Grande ABC.
A resposta de um Ivan Valente desconhecedor da realidade econômica e social do Grande ABC só poderia ser de repúdio a William Dib porque o deputado petista ainda está entre aqueles pobres mortais que imaginam ser o mundo construído exclusivamente de sonhos e que suar a camisa, queimar as pestanas e colocar a mão na massa são pecados imperdoáveis de capitalistas empedernidos.
Se houvesse um troféu semanal no Grande ABC aos desempenhos mais tristemente desafiadores à inteligência, Ivan Valente encontraria em Marquinho Tortorello adversário espetacularmente patético. Afinal, não passa mesmo de petulância associada a desrespeito a manifestação pública do filho do ex-prefeito, noticiada ontem por este Diário.
Como alguém poderia imaginar que o prefeito José Auricchio Júnior pudesse vir a ser tão prematuramente acossado por alguém que, e isso é muito relevante, não conseguiu ser escolhido pelo próprio pai para candidatar-se ao comando de uma Prefeitura sobre a qual, agora, estende os olhos, os braços, as pernas e o rabo-de-arraia ético.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?