Regionalidade

Goldman, gol de mão

DANIEL LIMA - 15/03/2005

Com perdão do trocadilho, a entrevista que o deputado federal Alberto Goldman concedeu ao Diário de domingo foi um gol de mão. E, como se sabe, no futebol gol de mão não vale. E quando validado, causa o maior alvoroço. Goldman conseguiu atrair para si críticas de petistas e tucanos oficiais ou oficiosos.


Mas, ao contrário do que afirmam os intolerantes, foi um gol de ouro para o jornalismo regional porque extraiu tamanhas bobagens de importantíssimo representante político. Um streap-tease que alveja a classe dos políticos biliares, que se assemelham ao fundamentalismo dos líderes de torcidas organizadas.
Alberto Goldman, político experimentadíssimo, foi flagrado em impedimento pelo jornalista Roney Domingos, discretíssimo e eficiente.


O tom de Goldman flutuou entre o deboche, o ofensivo, o manipulador e o puro desconhecimento. Uma lástima, portanto. Vamos a alguns tópicos para que os leitores possam fazer juízo de valor destas linhas.


Goldman rebateu informações diligentemente coletadas pelo jornalista Roney Domingos sobre os comparativos de recursos aplicados pelo governo FHC e pelo governo Lula da Silva. “Não é verdade. Onde foram esses investimentos?” — indagou o deputado tucano, do alto da fragilidade de torcedor organizado. Na sequência, diante de detalhamento do repórter, desclassificou os recursos. Ou seja: pego em flagrante delito, tratou de subestimar os valores.


No tópico seguinte, diante da informação de que seriam liberados R$ 80 milhões para o Hospital da Mulher de Santo André, rebateu irônico: “Quando mandarem esses R$ 80 milhões me avisa que poderemos conversar sobre isso”.


Sobre os R$ 700 milhões, como cota federal para a construção do trecho Sul do Rodoanel, anunciados há 15 dias pelo governo Lula, por meio do ministro de Transportes, depois de visita de todos os prefeitos do Grande ABC a Brasília, Goldman simplesmente disse que os recursos não estão no orçamento. Como ex-ministro dos Transportes deveria conhecer mais a lógica de remanejamento orçamentário. Sua resposta incisiva e cética jogou no lixo a atuação de parceiros partidários, como o prefeito William Dib, por exemplo, que conduziu as negociações com o representante do governo Lula.


O repórter do Diário deu-lhe um nó ao se contrapor à declaração de que o governo Alckmin “não faz esse tipo de política”, de discriminação de recursos orçamentários, ao informá-lo que mais de 50 acordos do governo do Estado com o Grande ABC estão na fila de espera. “Você está com um viés absolutamente dirigido”, recorreu um atônito e mal-informado Goldman a chavão típico de quem foi submetido a golpe fatal.


Pior mesmo foi o trecho em que o tucano tentou rebater a pergunta sobre a ausência do governo FHC no Grande ABC. Disse Goldman: “Nenhum governo federal tem presença municipal. O governo federal não tem como escopo fazer investimentos municipais”. Uma preciosidade de incorreção, porque a indagação se referia a uma região. Governo federal que abre mão de políticas públicas regionais, como sugeriu o deputado, contraria os princípios de gerenciamento comum nos países mais desenvolvidos. Principalmente voltados às regiões metropolitanas.


O festival de imprecisões de Alberto Goldman ocupou de cabo a rabo o espaço da entrevista, a ponto de exigir síntese dessa avaliação, sob pena de o espaço se tornar insuficiente. Avocou para si méritos dos grandes movimentos sindicais em São Bernardo, destilando nas entrelinhas certo inconformismo por ter sido Lula da Silva glorificado como estrela suprema daqueles tempos.


Teve a desfaçatez de expor idéias econômicas e de, como se a Era FHC fosse período de incentivo à economia privada, atirar sobre o governo Lula da Silva a pecha de excesso tributário. Nada mais desinformado, porque os oito anos de FHC elevaram a carga tributária, em números redondos, de 25% para 36% do PIB (Produto Interno Bruto), o que significa aumento de quase 50% no período, no maior assalto ao bolso dos contribuintes já perpetrado por uma administração federal, situação que empobreceu a classe média, a maior vítima da sanha tributária.


Falou também o deputado federal sobre juros: “Não. Nunca pensamos em juros altos para barrar a inflação como o PT vem fazendo”. Quanta desinformação! A artificialização do real elevou às alturas a dívida pública exatamente porque os juros se agigantaram durante períodos de crises econômicas internacionais às quais o Brasil se tornou vulnerável pela rigidez cambial de um governo que, entre tantos erros, fez da necessidade de privatizar aberrações negociais.


Para completar o circo de horrores, Goldman estatelou-se algumas páginas adiante ao discorrer sobre a Universidade Federal do Grande ABC, sempre e sempre em tom de torcedor organizado. O PSDB está conseguindo recordar os piores tempos de proselitismo oposicionista do PT. A diferença é que Goldman não tem verniz uspiano dos tucanos.


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