Não se trata de fazer terrorismo político-institucional. Nada disso. O fato é que a decisão do governo do Estado de enfiar goela abaixo do Grande ABC três unidades da Febem, fere fundo o relacionamento que insinuava prospectivo entre Consórcio Intermunicipal e Palácio dos Bandeirantes. Está certo que o governador Geraldo Alckmin virou refém das incubadoras de marginais, como podem ser identificadas as unidades da Febem. Mas, partir para uma rasteira, vai grande diferença.
É muito provável que o prefeito William Dib ainda esteja atônito com o golpe que levou do governador. Afinal, além de interlocutor preferencial do provável candidato tucano à presidência da República, Dib é presidente do Consórcio Intermunicipal. Sua liderança regional, que incomoda sobremodo os petistas locais e brasilienses, foi mitigada por um governador que lhe parecia muito mais próximo do que Lula da Silva.
O incidente mostra o quanto o Consórcio de Prefeitos precisa se reorganizar. Não é difícil acreditar que William Dib tenha sido olimpicamente esquecido no caso Febem porque o governo do Estado avaliou que a medida não lhe causaria complicações. Haveria sempre uma ala oposicionista no Consórcio que daria de ombros ao caso. Dito e feito. Para os petistas que não têm interesse algum em ver a bola quicar à frente do gol tendo William Dib como chutador emérito, a arbitrariedade do governo do Estado foi mamão com açúcar. Um contragolpe poderoso, depois de observarem o crescimento popular e político de William Dib, o mais impetuoso presidente que o Consórcio já conheceu.
Aliás, essa impetuosidade produtiva está sendo carimbada por petistas como quebra de suposta unidade da entidade. Ainda no domingo este Diário publicou matéria a respeito, quando Hamilton Lacerda, o coordenador político do PT no Grande ABC e porta-voz de deputados e prefeitos petistas da região, correlacionou a movimentação de William Dib a um caminhão em rua estreita e sem saída.
Bobagem. Enredo traçado com evidente interesse de desgastar o prefeito de São Bernardo, as afirmações de Hamilton Lacerda não se sustentam. Diria mais: as ações de William Dib explicitam uma fratura estrutural que o Consórcio de Prefeitos insistiu em tentar esconder e que se resume no colegiado com que foi concebido. Sim, o vetor coletivo do Consórcio gera mais comodismo, dispersão, desinteresse, incontinuidade e tantos outros pecadilhos próprios de gestão falsamente compartilhada do que pragmatismo, objetividade e determinação de um organograma empreendedor.
O modelo do Consórcio de Prefeitos precisa ser completamente reformulado não só na esteira de nova configuração legal saída do forno de Brasília mas também porque é conceitualmente manquitola. O revezamento presidencial em combinação com a esqualidez técnica cumpre ritual de pretensa democracia e evidente despreparo.
No âmbito de rodízio de ocupação do comando do Consórcio, a história de 15 anos da entidade prova e comprova que os resultados são pífios porque há permanente fissura administrativo-gerencial não só pelas diferenças ideológicas e partidárias entre os prefeitos como, principalmente, pelo vício de obscurecer quem está na condição de subalternidade circunstancial. A melhor alternativa, nesse ponto, é regime colegiado em forma de Conselho de Administração, composto pelos prefeitos, e um interlocutor técnico, um executivo de gabarito e sem vínculo partidário, para representar a instituição no cotidiano.
Se o Consórcio de Prefeitos não se der conta de que o revezamento é operação mais política que técnica e que, portanto, é altamente convidativo ao efeito tobogã de subida com William Dib e descida com Adler Kiko, da pequena Rio Grande da Serra, os desperdícios de tempo e de projetos do passado vão se reproduzir indefinidamente. E independentemente da nova configuração legal da instituição.
O outro ponto é que o rebaixamento da qualidade investigativo-técnica do Consórcio, dada a escassez de profissionais para abastecer os prefeitos de informações e encaminhamentos de decisões, torna a instituição absurdamente frágil na maioria das operações táticas. A contratação, mesmo que em regime de empreitada, de profissionais especializados de acordo com a pauta de reivindicações, é a melhor alternativa técnica e financeira para que o Consórcio não se veja, como no caso da Febem, surpreendido por uma decisão governamental claramente eleitoral.
Enquanto o Consórcio de Prefeitos tiver a pretensão hipócrita de ajustar um falso igualitarismo numa região de sete municípios diferentes, estaremos suscetíveis não só a sofrer novos contragolpes como os da Febem como, pior dos mundos, sem estofo para reagir.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?