O prefeito William Dib, presidente do Consórcio Intermunicipal, dá tratos à bola. Depois do marasmo de vários mandatos de titulares de Executivos que se revezaram burocraticamente no comando do Consórcio de Prefeitos, William Dib resolveu assumir o cargo do alto dos 76% de votos válidos das últimas eleições e trata de resgatar alguns pontos esgarçados pela fadiga de material.
Primeiro, como se sabe, decidiu convidar dirigentes empresariais para a reunião do dia 14 de fevereiro que tratará do Rodoanel. Não satisfeito, antecipa-se à própria cronologia de recomposição de forças e organiza encontros com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e das associações comerciais, para introduzi-los na Agência de Desenvolvimento Econômico, o braço executivo do Consórcio.
As iniciativas de William Dib provavelmente são a melhor maneira de homenagear um dos múltiplos tentáculos lançados pelo visionarismo de Celso Daniel a partir do primeiro mandato, iniciado em 1989. “Homenagear” no caso é força de expressão, porque o que de fato Dib recupera e provavelmente dará brilho é arsenal de regionalidade que, por força das circunstâncias e de inapetências, encontrava-se praticamente desativado.
O Grande ABC vive particularmente uma quadra interessante da história mais recente. Trata-se do fato alvissareiro de que não precisa se utilizar de mentiras deslavadas, de omissões cretinas, de babaquices estratégicas, de estupidez programada, de dissimulação envergonhada, de maquiagem organizada, para dizer ao Brasil inteiro que está em fase de recuperação aparentemente consistente.
O emprego com carteira assinada aumenta persistentemente, o comércio dá sinais de que encontrou o empuxo esperado, a criminalidade baixou, os administradores públicos se tocaram de que sem o econômico não há políticas públicas sociais que se sustentem. Enfim, reencontramos o caminho das pedras preciosas, sem deixar, entretanto, de reconhecer que há mil obstáculos a serem vencidos.
A importância do governo William Dib para a reestruturação das bases institucionais do Grande ABC, inserindo-as com destaque nos debates e nas decisões da Agência Metropolitana preparada pelo governo do Estado, está mais do que explicitada pelas circunstâncias. Depois de longa e destrutiva tempestade dos anos 1990, finalmente começamos a respirar senão aliviados, porque seria exagero, mas suficientemente em condições de saltar de teorias à prática.
E nesse ponto, nada é mais significativo sob a análise de fortalecimento institucional do Grande ABC que a batalha da ponte do trecho sul do Rodoanel. Ou ganhamos essa parada, enfaticamente alçada à condição de símbolo da retomada da competitividade regional, ou podemos sofrer golpe senão nocauteador pelo menos anestesiador da reação que se insinua.
Deixemos para lá, por enquanto, as potenciais repercussões econômicas do Rodoanel-Sul para o Grande ABC. Já expus em várias oportunidades desconfianças quanto aos efeitos exclusivamente positivos da obra. O que interessa nessa altura do campeonato é testar a vocação factual do governador do Estado em dotar o Grande ABC de obra que revolucionaria a logística de transporte, um dos pontos nevrálgicos de competitividade da Grande São Paulo tão duramente abalada ao longo de duas décadas pela evasão industrial em direção a municípios de seu entorno. Embora nada tenha sido escrito ou mesmo insinuado, parece evidente que o prefeito William Dib está aperfeiçoando um estilo regional de atuar que Celso Daniel inaugurou mas que lhe custou caro.
Quando Celso Daniel se jogou para valer nos braços da regionalidade após se eleger em outubro de 1996, acabou desguarnecendo a administração de Santo André não em nível comprometedor, porque era fantasticamente onipresente, mas em grau de preocupação porque sua exuberância técnico-política e o conjunto de programas que lançou recomendavam presença constante. Tanto que, ao se aperceber que a institucionalidade regional era um stop-and-go permanente, Celso Daniel correu para os braços de Santo André e reduziu a carga de trabalho com os demais parceiros regionais.
William Dib delegou a três supersecretários a coordenação da máquina pública e com isso reduziu presença pessoal na resolução de problemas varejistas, concentrando-se no atacado das grandes questões. Com isso, está abrindo vereda na agenda para mediações e deliberações de cunho extra municipal. Percebeu o prefeito de São Bernardo que depois desse mandato suas ambições políticas devem encontrar territórios mais amplos. Tanto quanto Celso Daniel imaginava como coordenador do programa de governo do então presidenciável Lula da Silva.
Celso Daniel não pôde completar sua biografia político-administrativa por razões conhecidas. William Dib tem a oportunidade de reproduzir os passos do andreense com a vantagem de que o histórico de equívocos de integração regional serve como aprendizado a não ser replicado.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?