Quando regionalismo é confundido com provincianismo, tudo se encaminha para o desfiladeiro de idéias, de propostas e de resoluções.
Provincianismo no caso específico do Grande ABC é pensar exclusivamente no território municipal em que se vive. Regionalismo é enxergar a amplitude dos mais de 800 quilômetros quadrados de área dos sete municípios, avaliando-a como nutriente à cidadania completa.
O caso da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) é emblemático da rachadura do casco do navio da institucionalidade agravada pelo Fórum da Cidadania e outras entidades igualmente reticentes que atuaram no final do século passado.
Embora represente para o Grande ABC na rubrica federal investimentos permanentes e custos fixos elevadíssimos, a UFABC não destila outra mensagem senão a de que se manterá como noviça rebelde, instalada que foi em setembro do ano passado em Santo André e com planos de vários campi na região.
O reitor Hermano Tavares foi destituído no final do ano passado pelo Ministério da Educação porque, entre outras fanfarronices verbais, fez pouco-caso do Grande ABC. Disse e repetiu numa entrevista à revista LivreMercado que o que menos interessava àquela instituição era a geoeconomia regional, e sim o Brasil. Ou seja: a UFABC estava em Santo André como espécie de principado para preparar cientistas para o País.
Como há notória e retardatária manifestação juvenil de aversão de larga margem de docentes ao capitalismo, seja qual for o capitalismo, não é difícil entender por que milhares de cérebros diplomados e capacitados evadem em direção ao Primeiro Mundo, onde deitam e rolam nas águas de um capitalismo diferente do daqui, mas sempre capitalismo.
Substituto de Hermano Tavares, o reitor Luiz Bevilacqua é mais afável e menos precipitado no encaixe das palavras e dos conceitos, mas os avanços da UFABC em direção ao comprometimento com a região é lento, quase imperceptível.
Há empatia maior com planos de inserção regional socioeducativa, como provam alguns acordos de parcerias, mas ainda é preciso quebrar barreiras para que a integração com o tecido econômico da região não seja algo parecido como o vizinho intragável que só se preocupa com o outro lado do muro quando a bola de futebol é arremessada desastradamente acima dos limites. E nem dá bola para o estrago no varal de roupa alheio; quer apenas a bola de volta. Não é o meu caso, porque meu vizinho é comportadíssimo e, além de tudo, torce pelo time que me leva eventualmente a soltar os pulmões. Fosse devoto de outras cores, me obrigaria ao silêncio contido, para evitar constrangimento.
A Universidade Federal do Grande ABC é o maior legado que um governo deste País inseriu nessa geografia de forma fisicamente planejada, mas a estrutura conceitual que tem o mesmo sentido de alma pedagógica possivelmente será apenas arremedo para justificar o mando de jogo.
Exceto se a Sociedade retirar a bunda do assento da insensibilidade e resolver ir à luta pelo menos em nome das próximas gerações.
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