Os oito deputados estaduais do Grande ABC, entre os 94 (não 90 como escrevi ainda outro dia) não podem continuar fora da órbita de atuação do Clube dos Prefeitos, como chamamos o Consórcio Intermunicipal, formado exclusivamente pelos sete Executivos da região. Tanto quanto os três deputados federais com domicílio eleitoral na região.
Por mais que interesses partidários e de sobrevivência eleitoral sejam catalogados como empecilhos à conversão tácita de parlamentares a causas regionais, nada resistiria ao chamamento de todos eles. Mais que isso: se o Conselho Consultivo com que sonhamos para o Clube dos Prefeitos, integrados por agentes da sociedade, funcionar sob princípios de igualdade e responsabilidade, não haveria como os legisladores despirem-se de compromissos e engajarem-se nessa proposta.
O enclausuramento do Clube dos Prefeitos, assunto do qual tratei na Reportagem de Capa da revista LivreMercado deste julho, é o pretexto que os deputados estaduais e deputados federais encontram para afirmar que nada podem fazer num organismo que os rejeita. E convenhamos que eles têm razão porque, se forçarem a barra em busca de espaço numa entidade que tem por obrigação olhar a região como um todo, sem fragmentação, poderão os opositores dizer que se tratam de oportunistas.
De qualquer modo, mesmo entendendo que os deputados do Grande ABC foram sempre barrados do baile dos Executivos, o distanciamento coletivo como instância de poder é um ônus que deve ser atribuído a todos eles.
Se houvesse de fato vontade política para alterar o rumo dos acontecimentos, tanto os legisladores estaduais como os legisladores federais poderiam estar reunidos em torno por exemplo do Clube dos Deputados, instância que os uniria em pontos que são cruciais para a saúde econômica e social do Grande ABC. O arcabouço do Clube dos Deputados requereria não mais que algumas reuniões, porque o papel que caberia a cada um deles está à flor da pele das carências estruturais da região.
O que quero dizer com isso é que não é possível mais conviver com o estado catatônico em que se encontra a institucionalidade do Grande ABC em diferentes áreas. Há paralisia inquietante que se contrapõe à avalanche de transformações de um mundo que se globaliza não apenas na economia e nas finanças mas também nos costumes, na cultura, tudo que é transportável virtualmente pelos veículos de comunicação.
A máxima de que o melhor contraponto da globalização é a regionalização só terá a musculatura de resistência e valoração se iniciativas locais forem incentivadas e praticadas, principalmente sob o prisma de planejamento estratégico. Por enquanto, infelizmente, salvo exceções de praxe, o que temos são espectadores omissos que torcem para que, como num passe de mágica, as peças hoje embaralhadas encontrem seus respectivos encaixes. Temos espécie de efeito-dominó com queda das individualidades com consequências danosas para o coletivo.
Os deputados estaduais e federais do Grande ABC não podem continuar em larga escala alheios às nuances decorrentes de fatores internos e externos que colocaram esse território na condição de maior vítima nacional da inserção econômica perpetrada nos anos 1990 com o suporte do governo federal, do governo estadual e da omissão ou da baixa percepção dos governos locais, além de uma comunidade estupidamente inerte.
É por essas e outras que também estou preparando o envio do “Decálogo do Desenvolvimento Econômico” do Grande ABC aos deputados locais que atuam na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional