Regionalidade

Pior entre todos

DANIEL LIMA - 19/02/2008

Não faltaram ocupantes do cargo de presidente do Clube dos Prefeitos que se notabilizaram pela capacidade de juntar inoperância e desimportância.


Em quase duas décadas dessa instância que reúne prefeitos dos sete municípios do Grande ABC, foram várias as gestões que fizeram lembrar ao longo da temporada algo como o desempenho do Corinthians na Série A do Campeonato Brasileiro de 2007.


A diferença é que o Corinthians voltará à Série A neste ano. E os presidentes do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos que deram com os burros n’água não conseguiram escapar da degola histórica de um organismo que está longe de ao menos atender a objetivos mais imediatos da região, quanto mais os estratégicos.


De todos que fracassaram, entretanto, nenhum deles se compara a Kiko Chaves Teixeira, prefeito de Rio Grande da Serra.


Kiko Chaves terminou o pobre mandato ainda outro dia carregando, além da inoperância e da desimportância, também um caminhão de arrogância.


Jovem apenas na cronologia gregoriana, Kiko Chaves está esclerosado como administrador público porque usa de velhas artimanhas para tentar ludibriar o distinto público. O discurso de Kiko Chaves Teixeira é réplica desbotada dos velhos caciques populistas.


Querem um exemplo? Recorram ao Diário do Grande ABC de 12 de fevereiro. Está lá estampada uma foto em que Kiko Chaves e seu substituto, João Avamileno, se cumprimentam na troca de guarda do Clube dos Prefeitos.


Uma cordialidade apenas para inglês ver porque esconde diferenças fundas entre esses gladiadores partidários que durante o ano passado mediram forças pela localização de uma unidade da Febem. Kiko Chaves Teixeira preferiu a motoniveladora do governo estadual ao diálogo com um suposto companheiro regional. Foi um festival de ataques e de sofismas, como se sabe.


A matéria do Diário do Grande ABC e de outros jornais impressos e virtuais da região procurou explorar o futuro do Clube dos Prefeitos. Como se sabe, levantamos a bola de que João Avamileno iria acrescentar ao organograma daquela instituição um Conselho Consultivo com especialistas de diversas áreas, atendendo, portanto, resolução do Conselho Editorial de LivreMercado.


Vejam o que Kiko Chaves disse a respeito do assunto:


“A Câmara Regional já tem esse espaço (de Conselho Consultivo) para a sociedade. Além disso, o Consórcio tem a maior legitimidade no tocante à participação popular, pois os sete prefeitos aqui, eleitos democraticamente, representam a maioria da sociedade das respectivas cidades”.


Não fosse o suporte do prefeito Clóvis Volpi, de Ribeirão Pires, que, como se sabe, não anda bem das pernas depois da surra que levou de um amigo traído, Kiko Chaves estaria sozinho. Mas Clóvis Volpi, que sempre se destacou pela capacidade de não cometer tombos conceituais graves, engrossou a cantilena manquitola de Kiko Chaves entre outros motivos porque o compartilhamento de decisões ou pelo menos o compartilhamento de diagnósticos lhe parece coisa de petista, não de contemporaneidade gerencial. Eis o que disse Clóvis Volpi, na primeira aparição pública regional depois do incidente nas escadarias de uma clínica odontológica:


“Esse tipo de abertura expõe discussões que deveriam ser feitas internamente entre os prefeitos. Existem outros organismos para discussões individualizadas e participação da sociedade. Não sou favorável a essa abertura, a não ser que o assunto em discussão envolva um segmento específico da sociedade civil”.


Como se observa, Clóvis Volpi quer uma sociedade partida e repartida, jamais integrativa.


Os prefeitos William Dib (São Bernardo), José Auricchio Júnior (São Caetano) e José de Filippi Júnior (Diadema) não foram ouvidos pelos repórteres de várias mídias locais. Provavelmente José Auricchio Júnior se manifestaria favorável ao Conselho Consultivo, porque inaugurou essa instância na administração de São Caetano. Leonel Damo (Mauá) foi o mais lúcido e sensato:


“Sou favorável à participação porque o povo tem muito a ensinar, mais do que os próprios prefeitos”.


De todas as declarações que compilei cuidadosamente da mídia regional, de fato a mais acintosamente manipuladora é a de Kiko Chaves Teixeira. Ao afirmar que a Câmara Regional já conta com esse tipo de dispositivo de participação da sociedade, o prefeito de Rio Grande da Serra argumentou em cima de uma miragem, porque a Câmara Regional não existe. E não existe entre outras razões porque o governo do Estado, a quem cabe a presidência e a ocupação de vários cargos com seu secretariado, simplesmente dá as costas à instituição.


Convido os leitores a procurarem nos arquivos de qualquer mídia regional ou paulista as atividades práticas da Câmara Regional. Não encontrarão praticamente nada. Sabem por quê? Porque é muito complicado escrever sobre o que não existe.


Provavelmente nem mesmo Kiko Chaves Teixeira se lembre do que disse ao Diário do Grande ABC de 24 de março de 2007, na última intervenção relativamente substantiva daquele jornal sobre a Câmara Regional. Sob o título “Deputados ganham espaço”, Kiko Chaves Teixeira vendeu um factóide que jamais entregou ao distinto público. Vejam a notícia:


A Câmara Regional, entidade vinculada ao Consórcio Intermunicipal do Grande ABC que reúne prefeitos das sete cidades, deve passar a se reunir mensalmente com as bancadas estadual e federal de parlamentares. O objetivo é discutir e articular pleitos junto aos governos estadual e federal. A decisão foi tomada ontem, na primeira reunião entre o presidente do Consórcio, Adler Kiko Teixeira, também prefeito de Rio Grande, e os deputados da região. “A intenção é fazer com que por meio da Câmara Regional as questões necessárias ao Grande ABC sejam atendidas de melhor forma” — explica Kiko.


Exceto se fez reuniões secretas com os deputados (o que várias fontes deste jornalista desconsideram), Kiko Chaves Teixeira não passou mesmo de intenções apenas para ocupar espaço na mídia — traço em comum da maioria dos políticos.


Por mais que se deva considerar que Executivo algum é capaz de fazer e acontecer numa associação tão ruinosamente antiquada na estrutura organizacional, é inegável que com Kiko Chaves Teixeira o Clube dos Prefeitos do Grande ABC retrocedeu largamente depois de respirar ares de certo dinamismo com William Dib. Apesar de o prefeito de São Bernardo ter mantido as portas fechadas à sociedade.


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