O senador Aloizio Mercadante esteve esta semana no Grande ABC distribuindo passes sob medida e caneladas também.
O jornal eletrônico ABCD Maior fez a melhor cobertura das andanças do petista. Uma entrevista consta daquele sítio. Esperar de Mercadante discurso esterilizado de política partidária é como acreditar na possibilidade de Maurício Soares carregar Orlando Morando nos ombros na campanha eleitoral em São Bernardo.
Da mesma forma que o senador tem o direito de agarrar-se ao pedaço partidário avermelhado, aos jornalistas não engajados compete a responsabilidade de pelo menos pretender interpretar as declarações, de modo que os leitores tenham fontes de maior valor agregado para que possam construir conclusões.
Mercadante não exagera quando afirma que as descobertas recentes dos campos de petróleo e gás de Tupi, Júpiter e outros vão trazer grande alavancagem de petróleo. Mas procura agradar à região quando afirma: “O gás que vai subir por Caraguatatuba, pela Serra do Mar, vai trazer muito desenvolvimento e muito emprego para a Baixada Santista e será extensivo ao ABCD. As duas regiões estão cada vez mais próximas e integradas economicamente”.
Não é bem assim, senador, não é bem assim.
Grande ABC e Baixada Santista não têm planejamento algum para se integrar economicamente porque sempre se mantiveram distantes por estarem distantes, não porque alimentem idiossincrasias.
As tratativas do passado não passaram de promessas. Até mesmo o porto e as montadoras de veículos há muito tempo também se deram conta de que têm limites de interação.
Fala-se tanto em transformar áreas de proteção ambiental em São Bernardo em retroportos que o que mais se vê é expansão habitacional de gente excluída pelo mercado imobiliário.
Além disso, e sobre isso escreverei qualquer dia, se São Bernardo considerar que retroporto é a grande saída econômica para a área de mananciais, vai cometer um grande pecado com as próximas gerações.
Induzido pela pergunta do ABCD Maior (”A região é referência com o Consórcio Intermunicipal, uma espécie de autoridade regional que começa a ter funções de gestão”), o senador petista derreteu-se em elogios ao novo comando da entidade.
Disse Mercadante: “O ABCD é uma região que tem uma identidade cultural, política, histórica e social muito forte. Então uma governança comum para resolver o problema do lixo, do transporte intermunicipal, do saneamento básico, do acesso, dos projetos estruturantes de desenvolvimento, tem de ser fortalecida. (…) Espero que isso possa dar um salto com o prefeito Avamileno, que acompanhou toda essa discussão, tem uma grande experiência como prefeito e termina seu mandato na presidência do Consórcio” — disse ele.
Convenhamos que houve certo exagero no enchimento da bola do chamado Clube dos Prefeitos e que, até porque os problemas são estruturais, funcionais, materiais e gerenciais, nem mesmo um Celso Daniel redivivo conseguiria resultados que se pretende colocar sobre os ombros de João Avamileno.
Aliás, como sempre escrevi, até mesmo Celso Daniel, nos dois últimos anos de vida, afastou-se do Clube dos Prefeitos porque cansou de observar que os parceiros de dança de fato estavam de olho em outros pontos, longe daquilo tudo que Celso Daniel idealizara.
Aloizio Mercadante tem toda a razão quando fala do governo Lula da Silva, embora, evidentemente, procure dar brilho mais que caprichado nos resultados macroeconômicos.
E como se antecipasse um dos discursos de campanha eleitoral que vão aparecer de forma massificada no horário eletrônico, compara valores por quilômetro das concessões do governo federal em licitações realizadas ano passado e as privatizações dos tucanos paulistas, projetando a mesma política para o trecho sul do Rodoanel, que envolve o Grande ABC. Uma jogada de mestre, convenhamos, porque deixa o governo José Serra de saia justa, com a espada do barateamento do pedágio na cabeça.
“Um exemplo é o que o governo federal fez na Rodovia Fernão Dias. Lá, de cada 100 quilômetros, vai se pagar menos de R$ 1. Na estrada vai ter investimento, mais segurança, mais sinalização e um custo muito barato. É só comparar o que é pago na Rodovia dos Imigrantes, que é R$ 15,40 para menos de 100 quilômetros. Veja a diferença de concepção. Isso colocou em xeque o que o governo do Estado vem fazendo com suas estradas: o custo que os usuários pagam, tanto em caminhões, ônibus ou automóveis, é muito grande. Esse custo acaba prejudicando a competitividade da economia, inibindo o turismo e prejudicando a vida das famílias” — disse o senador ao colocar o governo paulista nas cordas.
Entretanto, fosse mais informado sobre a realidade curricular e organizacional da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), Aloizio Mercadante não atribuiria à instituição qualquer resquício de modelo a ser seguido. Como se sabe, a UFABC apenas está no Grande ABC, porque não tem compromisso algum com o futuro da região.
Caso fosse pressionado, o senador petista não conseguiria se desvencilhar da incômoda realidade que cerca um dos maiores legados do governo Lula da Silva para o Grande ABC: a UFABC deveria se chamar UFBrasil, para seguir estritamente a pregação da cúpula acadêmica que, embora tenha amenizado o discurso, carrega alergia ao empreendedorismo privado.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional