Será que sob a liderança de possíveis prefeitos petistas da Grande São Paulo, candidatos às próximas eleições, finalmente vai ser possível colocar de pé o ovo de Colombo da metropolização gerencial de uma área geográfica tão fora de controle quanto um enxame de abelhas?
Tenho minhas reservas, por conta do histórico. Mas isso não significa que seja cético, completamente cético.
Haverá um momento em que sob a liderança de gestores públicos se tomará consciência de que viver numa metrópole como a Grande São Paulo é aventura cotidiana que nem de longe se assemelha a embrenhar-se por selvas colombianas sob a tutela das Farc.
Isso mesmo, porque com os guerrilheiros que acabaram de perder a cobiçadíssima Ingrid Bettancourt há pelo menos a garantia de que basta comportar-se bem para a vida não correr perigos extraordinários. Na Grande São Paulo comportar-se bem é uma ação unilateral demais diante da multiplicidade de riscos.
Menos mal que depois dos radares eletrônicos e da Lei Seca a roleta-russa de trafegar pela metrópole já não é tão constante.
Independentemente dos resultados das eleições de outubro, a ação pela metropolização de fato da Grande São Paulo deveria ser bandeira prioritária de pelo menos um partido político. Bastaria isso para provocar reação em cadeia das demais agremiações porque se há algo que se alastra entre competidores é a necessidade biológico-eleitoral de se replicarem. Não é preciso estar no poder, principalmente no poder da Prefeitura de São Paulo e do governo do Estado, para colaborar nessa cruzada.
Os sindicalistas que fizeram a revolução do capitalismo no Brasil a partir de São Bernardo são prova de que instâncias tradicionais têm peso relativo quando se pretende partir de fato para mudanças. A sociedade é amorfa por natureza neste País ainda sob os efeitos de colonizadores. Acredita-se no poder supremo do Estado e entrega-se a resolução dos problemas para algum momento do futuro.
A metropolização da Grande São Paulo praticamente está em compasso de espera há duas décadas porque falta vontade política aos detentores de poder e também porque a sociedade não se movimenta coordenadamente para mudar o jogo. Escrevo com a autoridade de quem mais textos produziu e induziu que se produzisse à revista LivreMercado sobre o assunto.
Os partidos políticos são menos atuantes às causas metropolitanas do que os transtornos das sazonais chuvas de verão, porque só se mobilizam em direção à sociedade a cada dois anos de eleições. As lideranças partidárias ocupam-se no restante do tempo em relações internas e também nos escaninhos do poder conquistado.
Quando deixarem o comodismo corporativo em que se instalaram e ampliarem os tentáculos, juntando-se à comunidade como um todo nas propostas mais emergenciais, descobrirão quanto tempo perderam ao consumirem-se intestinamente.
A iniciativa petista é uma ótima notícia, embora não seja original. Quando eleita prefeita em São Paulo, em 1996, Marta Suplicy anunciou um cinturão vermelho de dirigentes públicos para tratar de vários temários metropolitanos. Infelizmente, foi consumida pelo dia-a-dia de agendas pontuais, como tem ocorrido com governadores e prefeitos tucanos.
Metropolização é espécie de craque que não sai do banco de reserva de administradores públicos de diferentes instâncias. A lógica de racionalidade resolutiva indica e exige que seja não apenas o camisa 10, mas todo o time no gramado e também o conjunto do banco de reservas.
Não haverá soluções estratégicas para a Grande São Paulo se o jogo não for jogado por todo o time disponível.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional