Regionalidade

Elevador vazio

DANIEL LIMA - 20/03/2009

Vivêssemos de fato numa democracia comprometida com a cidadania os secretários municipais não seriam tão desconhecidos e seus pensamentos e idéias não ficariam aquartelados nos respectivos Paços Municipais. Por isso, a permanente exposição de conhecimento e proposições de Jefferson José da Conceição, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo, é algo a comemorar. Seus artigos no site do ABCD Maior são sempre uma oportunidade de instalar a regionalidade em primeiro plano. Por mais que, aqui ou ali, enunciados não confluam na mesma direção da experiência deste jornalista.


Uma das condições inegociáveis para que os prefeitos locais definissem quadros de primeiro escalão como símbolo de transparência e de comprometimento de fato com os interesses municipais e do Grande ABC, independente da origem domiciliar dos escolhidos, deveria ser, entre outras iniciativas, a obrigatoriedade formal de exposição dos objetivos e propostas tanto na forma escrita, nos veículos de comunicação, como em encontros pessoais com representantes da sociedade.


O que um secretário municipal pensa ou pretende fazer não pode ser politicamente uma decisão unilateral, por mais autonomia técnica que o cargo lhe confere. Infelizmente, entretanto, participamos de uma ficção, porque sociedade não passa de individualidades que olham para o próprio umbigo e, quando se reúne em forma de grupos, provavelmente está tramando interesses corporativos legítimos, mas corporativos.


O mínimo que se poderia esperar de uma sociedade madura, inquieta com o quadro regional e decidida a participar de mudanças seria a pré-disposição ao entrechoque de idéias em eventos que jamais poderiam derivar para conteúdos de espetacularização.


É impossível que transformações sociais e econômicas se precipitem de fato se o ambiente de camaradagem improdutiva continuar senha de bons relacionamentos. O Grande ABC é uma imensa cristaleira cujos ocupantes movem-se com extremo cuidado verbal e funcional para não ferir suscetibilidades.


Tem-se a impressão de que um leve toque de exceção que infrinja o politicamente correto abalará a carreira do pecador. Os reformistas são sempre mal vistos pelos conservadores. No Grande ABC, particularmente por conta da metamorfose econômica das duas últimas décadas, um sopro sequer de contestação é visto como insubordinação. Gestos ou ações mais ousadamente indignados, então, são execrados nos corredores do poder e nos ambientes mais estilizados, quando não etilizados.


É nesse ponto que o secretário Jefferson José da Conceição incorpora-se ao espírito de uma nova regionalidade. Mesmo com os naturais exageros de um dirigente público que enaltece por demais o histórico acanhadíssimo da Câmara Regional de Desenvolvimento Econômico, como no artigo que assina em conjunto com a secretária Nádia Somekh, de Planejamento Urbano e Ação Regional de São Bernardo, Jefferson da Conceição deve ser visto como exemplo aos demais secretários municipais da região. Ele está se posicionando para valer em várias questões econômicas.


Tanto que defende a perspectiva de que depois do Seminário ABC do Diálogo e do Desenvolvido, realizado semana passada em São Bernardo, as portas para a reformatação da Câmara Regional ficaram escancaradas. Ele observa que depois de 12 anos da iniciativa de Celso Daniel, avalizada por Mário Covas, de reunir diferentes agentes públicos, sociais e econômicos num mesmo grupo, a retomada da Câmara Regional torna-se bastante oportuna, “em face da revigorada disposição dos atores sociais em unir esforços para enfrentamento dos impactos da crise financeira internacional, devendo partir do que se acumulou de conhecimento sobre a região”– escreveu Jefferson.


Gostaria muito de acreditar nessa possibilidade, mas, escaldado por passado de desilusões integracionistas, prefiro esperar sem me negar, jamais, pelo contrário, a ponderações que possam colaborar com as propostas.


A Câmara Regional forma com a Agência de Desenvolvimento Econômico e o Clube dos Prefeitos um triunvirato institucional que lembra a anedota envolvendo três obesos mórbidos que pretendiam subir ao mesmo tempo pelo elevador que, tecnicamente, não comportava mais que um. O leitor que está imaginando que o trio entrou em acordo para chegar ao andar desejado, acreditando na possibilidade de reconhecimento da importância relativa de cada um, não conhece as entranhas institucionais do Grande ABC. A disputa de verdade é para ver quem sobe primeiro, enquanto o elevador vazio não se move.


Seria ótimo se as partes se entendessem e chegassem à conclusão que as características da Câmara Regional são prevalecentemente mais importantes tanto agora como quando foi concebida e que, portanto, a hierarquia de uso do elevador não poderia ser contestada. O que esperar, entretanto, de uma instituição, no caso da Câmara Regional, que abdica da própria configuração com que foi concebida? Ou alguém tem dúvidas sobre a vacuidade dos representantes do governo do Estado, a começar pelo governador de plantão depois da morte de Mário Covas?


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