Regionalidade

Apóstolos da regionalidade (1)

DANIEL LIMA - 25/05/2009

Sei lá se a ideia vai prosperar. Espero que prospere, porque precisa prosperar, mas se não prosperar, o que se pode fazer, senão lamentar? Afinal, onde quero chegar? Um e-mail em especial, enviado no último 20 de maio por um educador jovem, sempre disposto a pensar o Grande ABC, me levou a fazer a seguinte conjectura:


Por que devo ser — com as facilidades que o jornalismo me concede — o único apóstolo da regionalidade do Grande ABC em intensa e permanente visibilidade, se tantos outros estão aí, espalhados, prontos para colaborar?


Ora, ora, não estaria na hora de dar uma guinada nesta história de que somos um bando de incompetentes na sensibilização pró-regionalidade se, afinal de contas, temos agrupamento disperso que poderia passar a se reunir, trocar idéias, mobilizar-se, enfim?


Que tal juntar o quanto pudermos de gente interessada em construir o pensamento da diversidade de um regionalismo que se pretende contemporâneo, não essa coisa estúpida de bairrismo, e com isso abrir brechas para preparar um movimento que se espalhe com tamanha força a ponto de fomentar tantos outros seguidores? Aliás, daí ter preferido o verbete “apóstolo”, que deve ser entendido sem particularidades religiosas ou étnicas — mas apenas como metáfora de compreensão instantânea do que queremos para o Grande ABC.


Quem me escreveu foi o professor Alessandro Bernardo, de família de educadores, professor de economia da Anhanguera Educacional, em Santo André. Há muito não converso com Alessandro Bernardo, seguidor fiel dos tempos em que a revista LivreMercado era a melhor publicação regional do País.


Veja o que ele escreveu:


“Primeiramente, gostaria de lhe mandar um abraço especial pela coragem e dedicação com esta região. É latente a diferença de conteúdo entre a sua LivreMercado e o que se apresenta atualmente naquelas páginas. Ficamos carentes de informação regional com conteúdo analítico e credibilidade” — escreveu Alessandro Bernardo no e-mail ao qual me referi.


Só discordo num ponto, caro professor: a audiência deste blog, que logo voltará a ganhar a marca CapitalSocial, aumenta a cada mês, numa prova de que há gente interessada em qualidade de informação no Grande ABC. Mais que isso: apesar de tudo, há gente interessadíssima no Grande ABC.


Continuando no e-mail de Alessandro Bernardo, que me inspirou a sugerir a possibilidade de construir um movimento informal de apóstolos da regionalidade do Grande ABC, ele escreve:


“Como professor de economia, estarei em breve lançando um site para relacionamento com os alunos, e gostaria de dedicar parte deste site com informações econômicas do Grande ABC, como forma de trazer a discussão econômica de nossa região ao ambiente acadêmico, para a graduação. Nestes termos, gostaria imensamente de publicar neste braço do site alguns artigos de sua autoria, na íntegra e evidentemente com a devida citação, como forma de elevar o conteúdo da informação regional aos alunos, já que ninguém pode se atrever a escrever sobre a economia regional do Grande ABC sem citar Daniel Lima. Portanto, gostaria de saber se você me permitiria publicar alguns de seus textos neste futuro espaço de diálogo que pretendo criar com alunos universitários” — escreveu Alessandro Bernardo.


É evidente que atenderei a todas as solicitações tanto desse educador quanto de outros que tenham o mesmo interesse. Meus textos são públicos. Estou recuperando-os nos arquivos virtuais da Editora Livre Mercado para oferecer aos leitores em geral no site de CapitalSocial.


Infelizmente, alguns problemas técnicos estão atrapalhando o cronograma inicialmente desejado, mas aos poucos estamos conseguindo sucesso na empreitada. A série “Metamorfose Econômica” é uma forma que encontrei também para, além de preparar novos textos, buscar no passado de duas décadas de LivreMercado o testemunho e a seriedade do trabalho editorial que desenvolvemos com nossa equipe de Redação, contando sempre com conselheiros editoriais mais assíduos na formulação de desafios.


A história de LivreMercado se encerrou na edição de janeiro deste ano, oficialmente a última sob minha coordenação. Desde o lançamento, em março de 1990, estive à frente de todas as edições. Mesmo quando ocupei a diretoria de Redação do Diário do Grande ABC não deixei de coordenar a publicação, sobrecarregadíssimo é verdade, mas com o sentimento de dever cumprido.


Todo o acervo de textos é de propriedade deste jornalista, daí a decisão de utilizá-lo de forma tematicamente organizada para que leitores de CapitalSocial tenham amplas possibilidades de multiplicar conhecimento regional. Acredito que não há notícia melhor do que a garantia de que o acervo histórico de LivreMercado é deste profissional. Assim, não correremos o menor risco de o trabalho jornalístico virar arquivo morto, especialidade da Best Work Consultoria Empresarial, a nova proprietária da marca.  Afinal, Walter Santos, o novo dono de Livre Mercado (assim mesmo, separadamente) não preservou praticamente ninguém da equipe de jornalistas que constava da relação de colaboradores mais efetivos da Editora Livre Mercado quando da aquisição da marca. A expressão “Nova Livre Mercado tem amplo suporte lógico”.


O professor Alessandro Bernardo me estimula a propor movimento em defesa de um regionalismo que fuja completamente de qualquer subalternidade corporativista, partidária e ideológica. A partir de hoje acrescentarei à tarefa diária uma ação de catequese de profissionais de diversas áreas para atuar à frente dos interesses da região, colocando a especialidade de cada um a serviço do conjunto da população. Aguardem novidades, porque não podemos mais silenciar diante do quadro renitentemente preocupante de esclerosamento institucional do Grande ABC.


Há outros tantos Alessandros Bernardos esperando pela oportunidade de ganhar vez e voz e multiplicar ações. Com as facilidades oferecidas pela tecnologia de comunicação, não temos dúvida de que finalmente se acenderam as luzes de novos tempos que podem demorar a amadurecer, mas amadurecerão. Ou será que vamos entregar às próximas gerações de cabeças pensantes do Grande ABC o ônus do desprezo à regionalidade que recebemos de desatentos antecessores?


Os apóstolos da regionalidade não podem continuar distantes entre si. O Grande ABC não pode continuar dividido entre petistas e tucanos, beneficiários de um regime democrático que jamais deveremos contestar mas que se tem provado insuficiente para mudanças que já passaram da hora.


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