Regionalidade

Saindo das trevas

DANIEL LIMA - 17/08/2009

Que tal o Grande ABC contar com banco de dados econômicos — prevalecentemente econômicos numa primeira fase — como plataforma de embarque em política de marketing regional que não se perca em peças publicitárias suspeitas, em revistas especiais suspeitas, em palestras e conferências suspeitas?


Que tal o Grande ABC sair das trevas de um quarto fechado literalmente a sete chaves e dar um salto em direção ao showroom de visibilidade estatística, analítica e resolutiva?


Antecipo neste espaço uma das perguntas que preparei ontem à noite, em meu escritório residencial, e que vai constituir a primeira atração de “Entrevista Especial”, espaço fixo do portal CapitalSocial, em fase final de lançamento.


Faremos primeiramente na Internet e depois numa publicação impressa do mesmo nome o que realizamos durante duas décadas à frente da revista LivreMercado, aquela que era a melhor publicação regional do País.
“Entrevista Especial” será de responsabilidade exclusiva deste jornalista, ao contrário de “Entrevista Coletiva”, cuja escolha dos convidados e as perguntas repassamos aos conselheiros editoriais do portal.


Mas, voltemos ao que interessa neste momento: que tal um banco de dados que apeteça a demanda por investimentos no Grande ABC e que também subsidie empreendedores locais, principalmente de pequeno porte, quanto ao andar da carruagem em que se meteram como frágeis e desprotegidas ramificações capitalistas?
Quem poderia cuidar desse que seria um manancial de informações imperdíveis e providenciais, substituindo-se o quase deserto em que vivemos há muito tempo?


Exceto as loucuras investigativas deste jornalista e da equipe que comandou na LivreMercado, praticamente não se tem dados confiáveis do Grande ABC. Muito menos análises.


Por isso, as associações comerciais e as representações do Ciesp (Centro das Indústrias) no Grande ABC poderiam dar as mãos, entoar um grito uníssono de liberdade e, juntas, saírem da escuridão informativa.


A sugestão em forma de pergunta consta da “Entrevista Especial” que encaminhei hoje ao presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), o advogado Sidnei Muneratti, primeiro personagem do Grande ABC a ocupar aquele espaço nobre no portal CapitalSocial.


Juro por todos os juros que, quando comecei a elaborar as perguntas a Sidnei Muneratti, não havia planejado o que considero um ovo de Colombo, ou seja, as entidades empresariais da região agirem coletivamente em torno de uma instituição que faça de estatísticas, dados geoeconômicos e análises uma senda imediata de transparência e confiabilidade para quem está e para quem pretende vir para o Grande ABC, ampliando-se os horizontes com a maturação da iniciativa.


Não vou me estender sobre o que poderia ser reunido nessa instância de estudos. Certo mesmo é que não haveria razões para oposição por conta de melindres municipalistas atávicos entre associações comerciais e Ciesps. Afinal, a integridade individual de cada corporação seria mantida. A instituição de pesquisas vicejaria no paralelo, com vida própria, estatuto próprio, gerenciamento próprio. Os vínculos com as associações comerciais e unidades do Ciesp seriam informais, portanto. Quem sabe um primeiro passo para todos descobrirem que o diabo do regionalismo não é tão feio quanto parece?


Utopia? Qual nada. Basta ter vontade, determinação e empenho. Há muitas fórmulas disponíveis para minimizar consideravelmente os custos operacionais. Não faltam universitários à procura de estágios que podem ser requisitados para trabalho de campo. Não faltam acadêmicos igualmente requisitáveis para contribuírem voluntariamente. Um corpo técnico profissional não é um bicho-de-sete-cabeças. Mesmo nos quadros de administrações municipais há muitos técnicos que podem colaborar.


Quem acha que os obstáculos são intransponíveis provavelmente está impregnado de pessimismo crônico ou de municipalismo inquebrantável. Desde que não se perca o foco do organismo que sairia com objetividade regional das forças municipais, a possibilidade de o Grande ABC contar com um desfile organizado, sistematizado e elucidativo de informações econômicas não demoraria a constar de site específico.


Nada mais útil, porque vivemos uma aberração semântica. O Grande ABC de que tanto falam há tanto tempo não apresenta sinais evidentes de que exista de fato. Talvez a melhor explicação para isso seja a desconfiança mútua dos agentes municipalistas de vários campos receosos da quebra da identidade própria de cada organização que representam. Por isso, nada melhor que uma organização à parte do sistema tradicionalmente vigente, de multiplicidade individualista.


Poderia relacionar pelo menos duas dezenas de tópicos cujos dados são fundamentais para conhecer para valer a situação em que se encontra o Grande ABC, mas pelo menos por enquanto não me parece que seja a melhor medida.


O que poderá determinar a objetividade pragmática dessa conjunção de instituições em torno de um determinado foco é o aniquilamento de qualquer tentativa de se abraçar o mundo. Há regras consagradas de administração e gerenciamento de projetos que não podem deixar de ser obedecidas.


O Fórum da Cidadania e o Clube dos Prefeitos viraram o que viraram porque a tendência de aceitar tudo quando cabeças diferentes e muitas vezes desconhecidas se reúnem é o começo, o meio e o fim do desperdício de tempo. O consenso acomodatício é a fonte de desilusões. É o caminho das trevas.


Dito isto, é indispensável que a conceituação do que viria a ser esse organismo de inteligência regional não seja desvirtuada. O mundo econômico regional é por si só imenso e instigante e, por isso mesmo, recomenda critérios de prioridade para ser desvendado intestinamente.


Quem se habilita a dar o primeiro passo e quebrar essa rotina de bagunça generalizada que é o Grande ABC econômico?


Já imaginaram quanto esse banco de dados poderia auxiliar quem pretende se estabelecer na região, pequeno, médio ou grande empreendedor?


Quantas sobreposições de atividades comerciais, de serviços e industriais reunimos nesse território de 840 quilômetros quadrados, o que torna o empreendedorismo autofágico?


Quantos vácuos não estariam à espera de investimentos?


Quantas áreas industriais não poderiam ser convertidas num projeto revolucionário de massificação de uma determinada atividade econômica que abrangesse mão-de-obra fartamente disponível e provavelmente adaptável, contando inclusive com o suporte de isenção fiscal das prefeituras durante determinado período?


Não temos mais o direito de perder tempo. O Grande ABC precisa substituir discursos manjadíssimos por ações que só parecem utópicas para quem não quer mover um dedinho sequer de dedicação.


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