Tomara que não, tomara que não, porque não tem coisa pior na vida comunitária do que sentir que estamos eternamente enxugando gelo institucional. E jornalismo é uma função complexa, pelo menos para quem leva a sério a importância de tentar ajudar a mudar algumas ordens estabelecidas. Volto de 15 dias de férias bem mais aliviado do que na temporada anterior. O tempo é mesmo o senhor da razão.
Vamos ao que interessa de fato. E o que interessa de fato é saber se passaremos este 2010 a enxugar gelo no Grande ABC. Elaboro de supetão uma lista de alguns pontos sobre os quais seria ótimo se a região conseguisse oferecer respostas efetivas, acabando-se em muitos casos com o jogo de conveniência, de espertezas, de malandragens, de vagabundagem geral e irrestrita que nos tornam repetitivamente iguais a cada nova temporada, numa sinfonia de improdutividade geral e irrestrita.
Vamos então a alguns desejos de Ano Novo?
Que o prefeito Aidan Ravin faça menos marketing e mais obras, porque a sinfonia antipetista tem prazo de validade, como, aliás, qualquer sinfonia anti qualquer coisa, e também porque não há marketing que se sustente apenas pelo marketing. Mesmo numa sociedade tão sofrivelmente reflexiva como a nossa.
Que o prefeito Luiz Marinho comece a enxergar o Grande ABC como um todo, porque só assim poderá um dia ser comparado a Celso Daniel, que também pretendeu chegar ao governo do Estado.
Que o prefeito José Auricchio Júnior consolide identidade própria que o catapulte à história de São Caetano, depois de se livrar com coragem e muito trabalho do fantasma de Luiz Tortorello.
Que o prefeito Oswaldo Dias tire Mauá das manchetes de saúde alquebrada e ajude a dar respostas ao caos viário na área central quando da chegada do trecho sul do Rodoanel.
Que o prefeito Kiko Teixeira não faça apenas do dinheiro alheio, do governo do Estado e do governo federal, o capital de popularidade em Rio Grande da Serra. Há diferença muito grande entre chefe de Executivo e síndico condominial.
Que Clóvis Volpi assuma o comando do Clube dos Prefeitos do Grande ABC e prove mais uma vez, com todo o talento individual, que não há mesmo remédio milagreiro de regionalidade efetiva sem o comprometimento da sociedade da região.
Que a Associação Comercial e Industrial de São Bernardo não seja objeto de louvação desbragada por conta da novelesca inauguração de sede própria, já que do ponto de vista organizacional e estrutural está a quilômetros de distância das necessidades vitais da classe.
Que o mercado imobiliário tenha alguns sensores que impeçam arroubos de empresários que podem industrializar bolha setorial de consequências inimagináveis.
Que a mobilização da Frente dos Parlamentares do Grande ABC, o nosso Clube dos Vereadores, não seja mais um furo nágua de proselitismo, como insinuou o final da temporada passada.
Que a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC cresça e apareça sem o mascaramento de vender ilusões de pólos tecnológicos que não saem das manchetes de jornais.
Que o novo presidente da OAB de Santo André bote o bloco na rua para saber tim tim por tim tim o que de fato se passou no financiamento da campanha que consagrou Aidan Ravin prefeito em Santo André.
Que o deputado estadual Orlando Morando seja valorizado por ter trabalhado intensamente pelo trecho do Rodoanel que está chegando ao Grande ABC, mas que não se torne porta-voz de análises enviesadas de olho nas urnas eleitorais.
Que a direção da Universidade Federal do Grande ABC deixe de lado a tentativa de garantir que tem de fato olhado para o território regional quando até as cadeiras da reitoria sabem que a disposição em construir relação sólida com os meios de produção do Grande ABC não ocupa a grade curricular.
Que os precatórios parem de infernizar a vida do prefeito Mário Reali numa Diadema domadora das feras de criminalidade que a estigmatizaram.
Que o Legislativo de São Bernardo tenha sensibilidade para separar interesse político-eleitoral de responsabilidade social nos entrechoques para neutralizar o poder de influência local e regional do governo Luiz Marinho.
Que as colunas sociais de jornais e revistas não sejam repetição eterna, enfadonha e irritantemente preguiçosa de figurinhas carimbadas da sociedade regional, muitas das quais apenas produtoras de marolas.
Que a sociedade dê mais valor às Madres Terezas e aos Freis Galvão do que às celebridades empavonadas e endinheiradas que fazem filantropia de migalhas.
Que o Santo André tenha aprendido a lição de que no futebol o passado mesmo que imediato e vitorioso muitas vezes não passa mesmo de uma roupa velha e desbotada sem espaço no desfile de competência da nova temporada.
Que a sociedade desconfie daqueles que riem à toa e confortavelmente nos endereços gastronômicos mais disputados porque, como lembrou ainda outro dia um intelectual numa entrevista deliciosa, os mafiosos jamais mostram os dentes publicamente, exceto em extravagantes gargalhadas.
Que as manipulações sobre o PIB do Grande ABC encontrem portas fechadas em redutos cuja responsabilidade social não pode ser objeto de entreguismo ético.
Que bem ou mal o Grande ABC se sustente o quanto puder na indústria automotiva, mas que jamais se afaste da imperiosidade estratégica de buscar saídas para o quadro de doença holandesa que já fez muitos estragos e não arrefecerá jamais se não houver alternativas econômicas.
Que a imprensa regional saia da mesmice da comoditização e salte para a qualificação analítica, porque essa história de relatar, relatar, relatar e relatar é para escrivão da Polícia.
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26/11/2024 Clube dos Prefeitos perde para Câmara Regional